Carroceiro e calouro: conheça a história do ribeirinho aprovado no vestibular das maiores universidades públicas do Pará


Carroceiro desde criança, Glebson Fernandes, aos 39 anos, se tornou o 1ºuniversitário da família e confia no poder da educação para mudar sua realidade: “o estudo é o único caminho para um futuro mais digno”. Carroceiro desde criança, Glebson Fernandes, aos 39 anos, se tornou o 1ºuniversitário da família e confia no poder da educação para mudar sua realidade
Arquivo pessoal
“Sou carroceiro e calouro!”, declara o paraense Glebson Tunio Costa Fernandes. Aos 39 anos, o ribeirinho de Soure, município do arquipélago do Marajó, celebra a conquista da aprovação nas duas maiores universidade públicas do Pará. Ele é a primeira pessoa da família a se tornar universitário. “O estudo é o único caminho para um futuro mais digno”, diz, emocionado.
Glebson conta com entusiasmo o momento em que ouviu seu nome no listão dos aprovados. E não foi apenas uma vez, mais duas: ele conquistou vaga na Universidade Federal do Pará, no curso de Licenciatura Integral em Ciências, Matemática e Linguagens; e na Universidade do Estado do Pará (UEPA), em Ciências Biológicas.
“Ter passado duas vezes foi uma conquista que eu nem imaginava. Agradeço demais a Deus, aos meus professores e à minha família”, diz o calouro, que celebrou a vitória em cima de sua carroça pelas ruas de Soure, com muito trigo e ovos no trote tradicional que marca as festas de aprovação universitária do Pará.
Em sua carroça, Glebson comemora a aprovação ao lado do professor e dos colegas de estudo.
Arquivo pessoal
Menos de 5h de sono
Glebson enfrentou uma maratona ao longo de 2024 em busca de realizar o sonho de cursar o ensino superior. Sua rotina iniciava por volta de 1h30 da madrugada, quando saía para fazer transporte de objetos e recolher sucata. Ao amanhecer, ele se encaminhava para as aulas na Escola de Ensino Técnico do Pará (EETEPA), onde estuda Agropecuária. Em seguida, ia para casa almoçar, voltava ao ofício de carroceiro e às 19h, chegava no cursinho Pé de Chinelo, preparatório para o vestibular.
“Dormia menos de 5 horas por noite, mas valeu a pena. Eu quero ser um exemplo de dedicação e de superação, sobretudo para os meus filhos”, declara.
Carroceiro desde criança
Pai de três filhos, Glebson vive também com três enteados e recebe auxílio do Bolsa Família. Ele começou a trabalhar ainda criança, seguindo o ofício do pai, que foi carroceiro a vida toda. Mesmo com todo o esforço, o trabalho rende menos que um salário mínimo por mês.
“Esse trabalho é uma das poucas opções que eu tenho aqui, e como sou chefe de família, tenho que insistir nisso. Mas não recomendo para ninguém, por isso incentivo meus filhos a estudarem”, diz.
Em busca do sonho
Há alguns anos Glebson passou a se dedicar aos estudos e entrou para a Escola de Ensino Técnico. Em 2023, ele quis ir além: era a vez de tentar o ensino superior. “Coloquei na cabeça que queria me tornar universitário. Tentei vestibular pela primeira vez, mas não me preparei, a prova foi um fiasco e fiquei muito frustrado. Mas em 2024, fiz diferente, e o cursinho foi fundamental. Meus professores nunca desistiram de mim”.
Cursinho popular, o Pé de Chinelo tem ajudado muitos trabalhadores do Marajó a conquistar a sonhada vaga na universidade pública. Este ano, foram 65 aprovados. “O cursinho Pé de Chinelo foi criado para ser bem baratinho, ser acessível, por isso o nome. Foi criado para democratizar a aprovação do vestibular. Em 2025, batemos nosso um recorde de aprovação!”, comemora o professor José Pantoja, criador do projeto.
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