Saída para reduzir conta de luz, geração de energia distribuída cresce 475% no Paraná e abastece de casas a resort


Modalidade inclui consumidores com painéis solares, por exemplo, ou quem faz parte de cooperativas que compram energia no chamado mercado livre. Entenda funcionamento e vantagens de cada opção. Passo a passo para aderir à geração distribuída
O Paraná registrou uma alta de 475% do número de unidades de geração de energia distribuída. O levantamento do g1 com base em dados da Copel do início de 2020 ao fim de abril de 2024.
A modalidade é regulamentada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) desde 2012 no Brasil e abrange centrais geradoras de energia elétrica por fontes renováveis, de qualquer potência, seja para consumo próprio ou venda no chamado mercado livre. Veja no vídeo como funciona.
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No período analisado, foram 171 mil novas unidades de geração distribuída instaladas. O principal motivo da escolha da modalidade é o mesmo, seja entre consumidores domésticos ou empresas: a redução de gastos.
Funciona assim: o consumidor pode instalar, por exemplo, painéis solares em casa e gerar energia suficiente para todo o imóvel. Caso a geração supere a demanda, o excedente é devolvido à rede elétrica, gerando créditos na fatura de luz válidos por cinco anos.
A energia gerada pela unidade pode ainda abastecer outros imóveis cadastrados no nome do consumidor, como um apartamento na praia, por exemplo. Entenda abaixo:
Evolução da geração distribuída no Paraná
Gabriel Trinetto/Arte RPC Curitiba
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O empresário Eros Alexandre Jantsch mora em uma região de chácaras de Campo Largo, na Região Metropolitana de Curitiba – o escritório dele também fica na propriedade. A decisão de instalar placas solares foi tomada em 2020.
Além da possibilidade de economia, o empresário conta que um dos principais motivos da adesão à geração distribuída foi a frequência com que ficava sem energia.
O modelo usado por ele, além de captar a energia solar para abastecer os equipamentos da casa, armazena parte da quantidade produzida em excesso em um banco de baterias e devolve o restante à rede elétrica.
Com isso, o empresário afirma que o gasto com a conta de luz caiu pela metade.
“Eu enfrentei situações onde eu estava trabalhando e a energia caiu, e daí dá um transtorno, te atrapalha um pouco nessa rotina de trabalho. Isso nunca mais aconteceu para mim. O meu maior ganho, que não tem valor para mim, é a garantia e comodidade de estar sempre com energia elétrica, mantendo assim a rotina do meu trabalho e a segurança de minha propriedade”, relata.
🔎 Como a geração distribuída funciona?
A Aneel detalha que consumidores podem utilizar a energia da geração distribuída de quatro formas:
autoconsumo local: energia é gerada e utilizada no mesmo local;
autoconsumo remoto: energia é gerada em uma unidade consumidora e utilizada em outra, desde que ambas sejam do mesmo titular;
geração distribuída em empreendimentos de múltiplas unidades consumidoras: energia gerada por um prédio, por exemplo, é repartida entre os condôminos – cada um em uma unidade consumidora;
geração compartilhada: cooperativa, consórcio ou qualquer outra forma de associação civil, instituída para o fim de instalar uma ou mais centrais de geração distribuída e fornecer energia aos participantes. Nesse caso, a venda da energia passa a ser feita por meio do Mercado Livre de Energia, onde é possível escolher de quem comprar, tornando a negociação mais competitiva.
O superintendente Comercial de Distribuição da Copel, Breno Castro, explica que, nas três primeiras modalidades acima, o consumidor pode praticamente zerar a conta de luz, com exceção dos tributos.
“No caso da cooperativa você tem um limite. Você assina contrato e eles te definem o limite: ‘Você vai ter limite definido de 10% por mês de desconto'”, afirma.
✏️ Por onde eu começo?
O superintendente Comercial de Distribuição da Copel orienta que o primeiro passo é buscar uma instaladora – empresa que vai analisar qual a demanda do consumidor, as possibilidades de geração no local, e fará o projeto necessário. Esses custos ficam todos a cargo do consumidor, que avaliará o benefício.
De acordo com o superintendente, atualmente os painéis solares são a modalidade com melhor custo-benefício para o consumidor residencial. “A grande parte deles vem da China e o custo reduziu muitíssimo desde que começou. Então, hoje a gente tem custo que é em torno de 25% do que era no começo”, cita.
🌞 Energia solar abastece resort na Ilha do Mel
Painéis solares de resort na Ilha do Mel: alternativa para não deixar estabelecimento sem luz
Acervo pessoal
O empresário Zeco Hauer é proprietário de um resort na Ilha do Mel, no litoral do Paraná, e desde 2020 produz energia no local usando painéis solares. A alternativa deu certo e, no ano passado, o empreendimento ampliou a estrutura de geração.
Hauer relata que a ilha sofre com constantes quedas de luz, segundo ele, às vezes são quatro dias sem energia elétrica. O empresário também optou por um equipamento que, além de gerar, armazena energia. Hoje, os painéis solares são responsáveis por cerca de 70% da energia consumida no resort.
“Já tivemos três faltas de energia, sendo que uma delas de três dias, e nossa pousada não ficou sem energia. Atendemos nossos clientes, recebemos gente, saiu gente, nossos freezers ficaram ligados, água para todo mundo, graças a esse sistema com a utilização de baterias e as placas solares”, conta.
O empresário afirma que instalou painéis solares na casa que mantém em Curitiba e também defende o modelo por ser uma energia limpa.
“Eu acho que nós devemos pensar nisso como uma economia para o futuro, uma forma de energia limpa e renovável para todos nós e, principalmente, ela é sustentável.”
⛈️ Sem tempo ruim
Uma das dúvidas comuns entre os interessados em aderir aos painéis solares é o quão ensolarada precisa ser a região onde a estrutura ficará.
O gerente da Divisão de Cargas e Acessantes de Geração da Copel, Adriano Prado De Souza, esclarece que na Europa, por exemplo, locais com muito menos radiação solar do que no Brasil têm há anos uma grande quantidade de painéis.
“A gente brinca muito que em Curitiba não tem sol, mas é suficiente para que possa gerar energia. É claro que nós temos dentro do estado várias áreas que têm maior irradiação solar, mas mesmo em Curitiba é possível, sim, ter painel solar em qualquer localidade para gerar essa energia. O cuidado na hora de instalar é que não se tenha sombra em cima”, diz.
🕐 Como a geração é medida?
O superintendente Comercial de Distribuição da Copel explica que a medição do consumo de luz pela Copel segue sendo mensal.
A única mudança é o medidor que, no caso do consumidor que tem um painel solar em casa, por exemplo, o aparelho vai registrar tanto o consumo quanto a geração de energia.
“Se tiver excedente ele vai para um banco de dados nosso e o cliente recebe a mesma informação. Se tiver outra unidade consumidora ele pega quanto que o cliente determinou para aquela unidade consumidora e joga o restante para uma segunda, uma terceira. Se ainda assim sobraram, por exemplo, 200 kwatt, aí ele vai para o próximo mês e sucessivamente”, afirma.
Caso o cliente faça parte de uma cooperativa de energia distribuída, ele receberá a fatura da Copel e a enviada pela companhia.
No site da Aneel estão as respostas para as perguntas mais frequentes sobre geração distribuída. Confira.
Sem painel solar, condomínio entra no mercado livre de energia
Condomínio de prédios em Curitiba economizou R$ 15 mil com a mudança
Acervo pessoal
Guilherme Filipe Machado Rocha é síndico de um condomínio de prédios no Cabral em Curitiba. Ao todo, as duas torres abrigam 144 apartamentos e sete salas comerciais.
O síndico conta que, com o objetivo de cortar gastos, inicialmente o condomínio cogitou a instalação de placas solares. Porém, um estudo técnico mostrou que, pelas características do prédio e do local, não seria uma opção vantajosa. Foi quando descobriram que podiam fazer parte de uma cooperativa de energia.
Desde que aderiram ao modelo, há cerca de dois anos, o síndico calcula que a economia total com a conta de luz gira em torno de R$ 15 mil. O desconto mensal na fatura é de 15%.
“Não muda absolutamente nada fisicamente, essa é a melhor parte. A gente continua pagando uma parte da nossa conta diretamente pra Copel e a outra parte a gente paga para a cooperativa. Só que a parte que é paga pra cooperativa é num valor inferior ao da Copel. Então, simplesmente fazendo uma alteração documental, você garante desconto todos os meses”, comemora.
Modelo aumenta competitividade de empresas
O engenheiro civil e mestre em Planejamento Energético Eduardo Hann de Castro atua em uma empresa do setor elétrico com sede em Curitiba e com atuação em 14 estados brasileiros.
A companhia trabalha com as duas modalidades de geração de energia distribuída, atendendo desde clientes pessoas físicas e jurídicas com contas de luz mensais de cerca de R$ 1 mil até grande consumidores, que gastam mais de R$ 10 mil.
“Eu acho que todo grande consumidor, quando eu falo grande, aí a partir de R$ 15 mil, R$ 20 mil de fatura, ele está muito estrangulado com os custos do Brasil. Seja a parte logística, seja outras coisas. Então, a energia sempre foi uma dor pra ele, que ele sempre pagou a conta”, afirma.
A geração de energia distribuída, destaca, se torna quase que obrigatória em um cenário competitivo. O engenheiro afirma que no agronegócio, por exemplo, a quantidade de área disponível também vira oportunidade na hora de gerar energia.
“Primeiro ele tem uma área muito grande, ele tem espaço disponível para fazer a sua própria usina fotovoltaica. Segundo ponto que o agro produz muito resíduo. Então, o próprio resíduo da soja que ele planta, da cana, quando tem aviário, criação de porcos, gera muito resíduo. E esse resíduo é passivo ambiental. Hoje ele tem a opção de criar biodigestor e montar uma usina dentro da geração distribuída para dar destino ao resíduo dele.”
Geração distribuída aumenta competitividade de empresas
Além disso, o engenheiro lembra que o agro também é um dos maiores consumidores de energia, impactando na competitividade final. “Então, quanto melhor é a compra feita e quanto melhor é a gestão da energia, mais competitivo essa empresa tá dentro do agro”, destaca.
Desde agosto de 2021, o governo estadual mantém o programa Paraná Energia Rural Renovável (RenovaPR). A iniciativa é coordenada pelo Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR) e busca estimular a geração distribuída de energia elétrica nas propriedades rurais, incluindo a solar, a biomassa, e a advinda de Centrais Geradoras Hidrelétricas (CGH) e Micro Centrais Geradoras Hidrelétricas (MCGH).
De acordo com Secretaria da Agricultura e do Abastecimento (Seab), a qual o programa está submetido, mais de 8 mil projetos de geração de energia renovável chegaram à iniciativa até o fim de abril de 2024.
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