Associação entra com ação contra supermercados por agressão contra suspeitos de furtos; vídeo mostra homem que furtou chocolate sendo espancado


Objetivo é que as empresas mudem a maneira com que realizam abordagens durante casos de furto e situações com pedintes. Educafro também exige uma indenização por danos morais. Associação entra com ação contra supermercados por agressão contra suspeitos de furtos
A Educafro (Educação e cidadania de afrodescendentes e carentes) entrou na Justiça com uma ação civil pública contra os supermercados Costa Atacadão e Tatico, de Goiânia, por agredir pessoas que foram flagradas furtando produtos ou apenas eram negras. Vídeo obtido com exclusividade pela TV Anhanguera mostra um dos casos (veja acima).
O Costa atacadão disse que repudia qualquer ato de violência e discriminação e que tomou as medidas cabíveis imediatamente. Já o supermercado Tatico, alega que os fatos narrados não condizem com a realidade e que está colaborando com a investigação da Polícia Civil.
Segundo a Educafro, o objetivo é que as empresas sejam obrigadas a mudar a maneira com que realizam as abordagens durante casos de furto e situações com pedintes, além de uma indenização coletiva por danos morais.
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“A ação dos seguranças obedecia a uma “cultura” de violência e intimidação criada no âmbito da empresa, havendo indícios de que a conduta era recorrente. (…) A reparação integral de um dano dessa magnitude não pode se dar exclusivamente na esfera pecuniária ou indenizatória. É necessário que se imponha um leque de obrigações capaz de impedir a reiteração da sua conduta”, diz o documento.
Homem é agredido com barra de ferro por seguranças de supermercado após acharem que ele furtaria uma esponja de aço, em Goiânia
Arquivo pessoal/Fabiana dos Santos
Algumas das medidas exigidas pela Educafro são:
Inserção de cláusulas antirracistas em todos os contratos com fornecedores e prestadores de serviço;
Permissão a todos os clientes e terceiros para que filmem abordagens realizadas no interior ou nas imediações dos prédios da empresa;
Revisão imediata dos protocolos de abordagem de segurança no interior das lojas;
Contratação de pessoas negras respeitando a representatividade racial da população de cada estado do país; e outras.
Agressão à homem que furtou chocolate
A TV Anhanguera teve acesso com exclusividade a um vídeo que mostra um homem sendo espancado por um funcionário e um segurança terceirizado em uma das lojas do Costa Atacadão, em abril de 2023 (assista acima). O homem tinha furtado duas barras de chocolate.
As imagens mostram quando o homem chega em uma sala acompanhado de três funcionários do setor de prevenção de perdas. Um deles tenta imobilizar o homem, colocando ele contra a parede. O homem levanta a camiseta e mostra duas barras de chocolate que estavam escondidas.
Depois, chega um segurança de uma empresa terceirizada que já começa a discutir com o homem detido. A discussão aumenta. No meio do empurra-empurra, um dos funcionários da prevenção segura o homem pela gola da camiseta e dá um mata-leão, o fazendo cair no chão.
Segundos depois, o homem se senta. O funcionário da prevenção tapa a boca dele. A confusão recomeça. O segurança chega a tirar a arma e apontar para o homem que está deitado no chão. Ele se debate. O segurança e o funcionário começam a dar vários socos nele. Logo depois, ele volta a ser contido no chão do supermercado.
De acordo com a Educafro, toda a situação foi testemunhada por vários funcionários de diferentes setores, “que ficaram emocionalmente perturbados pela violência desnecessária empregada”.
Homem é agredido com socos e golpe de mata-leão depois de furtar chocolates, em Goiânia
Reprodução/Educafro
Ainda no ano passado, uma denúncia sobre o caso chegou ao Ministério Público do Trabalho. Um procurador e um representante do supermercado assinaram um termo de ajustamento de conduta para que a forma de abordagem das equipes fosse repensada.
No documento, o Ministério Público exigiu que o supermercado reforçasse a importância dos canais de denúncias e também proibisse a incitação da violência nas lojas da empresa, inclusive no que se refere ao setor de prevenção de perdas.
Tudo isso porque, segundo a Educafro, a prática de espancar quem é pego furtando produtos não foi isolada. Em fevereiro do ano passado, o mesmo funcionário que aparece no vídeo agredindo o homem que furtou os chocolates também bateu em outro homem, que furtou três produtos.
Em fotos enviadas no grupo de WhatsApp da equipe de prevenção de perdas e de seguranças, o funcionário diz: “Saiu caro esse furto. Teve que pagar e ainda levou umas massagens”. Em seguida ele envia uma foto da um cacetete e fala: “Aqui as massagens”. Fazendo piada de ter agredido o homem.
A Educafro diz que, “buscando mitigar os impactos negativos do ocorrido”, a empresa demitiu o colaborador envolvido após o caso do furto do chocolate. Além disso, ordenou a exclusão das imagens do incidente do sistema de câmeras de segurança, mas a maioria da equipe já tinha assistido ao vídeo.
Funcionário de supermercado ironiza sobre agredir homem que admitiu furto, em Goiânia
Reprodução/Educafro
Em nota, a Proguarda – empresa terceirizada que faz a segurança do Costa – diz que não encontrou denúncias ou foi notificada sobre esse caso envolvendo um dos seus funcionários, que também repudia qualquer tipo de conduta desrespeitosa, contrária aos valores do Código de Conduta e Ética, e que está à disposição das autoridades para a averiguação dos fatos.
Um ex-funcionário, que pediu para não ser identificado, contou à TV Anhanguera que a ordem vinda dos superiores era bater em quem estivesse furtando na loja.
“Levava para um local reservado, não chamava a polícia, fazia sessão, batia, dava porrada e depois liberava a pessoa”, contou.
O Ministério Público disse que esse caso chegou até os promotores em agosto do ano passado. O MP pediu para a Polícia Civil abrir um inquérito para investigar o caso.
Homem espancado com barra de ferro
Homem é agredido com barra de ferro por seguranças de supermercado, em Goiânia
No último dia 9 de março, outro caso de violência repercutiu em Goiânia. Um homem foi espancado com barra de ferro por seguranças do Supermercado Tatico, no Setor Centro Oeste, após acharem que ele iria roubar uma esponja de aço.
A empresária Fabiana Santos, que testemunhou as agressões, disse que o homem estava com dinheiro para pagar a compra. Ela contou que fazia compras com o marido, Wilmar Viana, quando viu um homem apenas de cueca sendo abordado por um funcionário do supermercado.
“Ele estava com uma [esponja de aço] em uma mão, R$ 20 na outra e dizia: ‘eu não sou ladrão’”, relata a empresária.
Segundo a empresária, as agressões só pararam quando o marido dela pediu para parar e a vítima caiu na calçada. “Eles pararam e sumiram, ninguém chamou o socorro”, destaca.
Para a Educafro, o caso atinge não apenas os direitos individuais da vítima, mas os valores de toda a coletividade, e da população negra em especial. “Sua autoestima, dignidade e honra foram profundamente agredidas, tendo como resultado intenso sofrimento moral, dor, humilhação, repulsa e indignação”.
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