Sem transporte, famílias têm dificuldades para manter filhos com autismo em atividades da AMA em Ribeirão Preto, SP


Entidade suspendeu serviço gratuito no fim de 2023, afetando moradores atendidos. Prefeitura diz que repassa R$ 741,5 mil à associação. Por sua vez, AMA diz que analisa continuidade das vans. Todos os dias, após o café da manhã, a dona de casa Leila da Silva Melo se prepara para levar a filha Jennifer à Associação de Amigos do Autista (AMA) em Ribeirão Preto (SP). No local, a menina tem várias atividades que contribuem para o desenvolvimento. Mas a rotina mudou nos últimos dias desde que o transporte gratuito foi suspenso.
A família mora no Jardim Antártica, a quatro quilômetros de distância da associação no Jardim Sumaré. Sem a van, mãe e filha precisam pegar dois ônibus para ir e dois ônibus para voltar.
“O que nos resta agora é ônibus e a dificuldade que a gente vai enfrentar que é muito grande. São dois ônibus pra ir e dois pra voltar. Ela tem que levantar bem cedinho pra enfrentar dois ônibus e voltar. Judia muito dela e ela se esforça muito”, diz Leila.
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A dona de casa Leila da Silva Melo e a filha Jennifer, moradoras de Ribeirão Preto, SP
Carlos Trinca/EPTV
Além de ser do espectro autista, a Jennifer tem também uma síndrome que vai atrofiando os músculos do corpo, o que dificulta ainda mais a locomoção.
“É assustador, porque é uma necessidade que a gente tem, que as crianças têm desse transporte, e a dificuldade que eles vão encarar agora também. Se ela ficar sem essa terapia, o desenvolvimento dela é muito pior. Se ela conseguir 90% de uma qualidade de vida com as atividades que ela tem na AMA, se ela parar, ela perde tudo. O prejuízo pra ela é muito grande”, afirma.
Serviço suspenso
Dos 126 atendidos pela AMA, 45 enfrentam dificuldades por causa da falta de transporte. Segundo as famílias, a suspensão da van que fazia o serviço foi comunicada pela entidade no final de 2023.
A associação alega falta de recursos para manter o transporte. A Prefeitura de Ribeirão faz um repasse mensal de cerca de R$ 6 mil à instituição, mas, segundo a entidade, o valor é insuficiente.
Para manter o serviço de buscar e levar os alunos, o gasto estimado é de R$ 25 mil a R$ 45 mil por mês.
No final de 2023, a AMA chegou a publicar um edital para credenciar duas vans para fazer o transporte. O serviço seria para até 40 passageiros semanais em dois turnos, de segunda a sexta-feira. Cada contrato estava orçado em R$ 6,5 mil, mas nenhuma empresa se interessou.
Família inteira prejudicada
A falta do serviço também prejudica a rotina do Luís Claudio, que tem um quadro severo de autismo. A mãe, Geralda Alves Pinto, não tem condições de levar o filho até as terapias na ama usando transporte público.
“Não tem como eu andar de ônibus com ele. Se eu tivesse um dinheiro, eu pagava para ele ir ou pagava Uber pra levar ele, mas não tem como.”
Luís Claudio tem um quadro severo de autismo e é auxiliado pela mãe, Geralda Alves Pinto, em Ribeirão Preto, SP
Carlos Trinca/EPTV
Geralda lamenta que o filho não possa voltar às atividades, ainda mais sabendo que é o lugar onde ele mais gosta de estar.
“Lá as professoras são excelentes, toda a equipe. É tudo de bom lá na AMA. Se ele não for mais, até eu vou sentir falta, porque eu vou na sessão com as psicólogas, eu gosto. Eu fico só dentro de casa, não passeio, a gente não tem lazer de nada.”
O que dizem a entidade e a prefeitura
Em nota, a AMA informou que há 35 anos, quando começou suas atividades na cidade, a demanda do transporte era para 15 moradores. Em 2023, o número passou para 80.
Segundo a entidade, para 2024, a AMA alocou o valor da “ajuda de custo” para o transporte no Plano de Trabalho da Secretaria Municipal de Educação, que, conforme o edital, é de R$ 6,3 mil. A entidade avalia deixar de prestar o serviço em definitivo.
“Devido à falta de empresas para a execução deste serviço, está em tramitação interna na AMA o pedido de Apostilamento ao Plano, a qual retirará do ajuste essa verba destinada ao transporte, vez que o Edital lançado não traz como condição de participação das instituições ao chamamento público o fornecimento do transporte. O comprometimento da instituição é com a Oferta do Atendimento Educacional Especializado que, inclusive em consulta aos Portais Transparência, outras instituições com o mesmo convênio também não oferecem o transporte aos seus usuários.”
Associação de Amigos do Autista (AMA) em Ribeirão Preto, SP
Carlos Trinca/EPTV
Em nota, a Secretaria Municipal de Educação informou que vai conversar com a AMA, mas que repassa, por ano, R$ 741,5 mil à entidade, valor que foi reajustado em 3,81% para 2024, e onde consta o atendimento do transporte para os alunos.
A Secretaria da Educação entende que uma revisão nas despesas da instituição deveria ser feita, de forma que eles possam oferecer os atendimentos que fazem parte da sua obrigação contratual, uma vez que a ama também tem convênios, com repasses de verbas, oriundos das secretarias da Saúde e da Assistência Social.
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