
Apaixonado por aves, morador da capital paulista registrou espécies como coruja-orelhuda, falcão peregrino e urutau. Coruja-orelhuda registrada na cidade de São Paulo (SP)
José Roberto Nogueira
Falcão-peregrino, urutau, coruja-orelhuda. Se você pensa que esses registros fotográficos foram feitos em algum lugar isolado dos grandes centros urbanos, o palpite foi errado.
O inusitado é que todas essas aves foram vistas na maior cidade do Brasil. Em um dos bairros mais conhecidos da capital paulista, a Vila Mariana. Uma história que tem o aposentado José Roberto Nogueira como protagonista dos flagrantes.
O observador de aves é de Santa Branca, cidade do Vale do Paraíba. Quando ainda morava no interior, já conhecia espécies populares como pardal, tico-tico, bem-te-vi e joão-de-barro. Na década de 1980, José Roberto, mudou para morar e trabalhar em São Paulo. Durante quarenta anos trabalhou como escrevente de notas num cartório na região de Pinheiros.
No entanto, uma vez, José Roberto chegou ao apartamento onde mora e se deparou com uma ave com ninho na torre do prédio vizinho. Começou a acompanhar a movimentação no local todos os dias quando chegava do trabalho.
A curiosidade o levou a fotografar e gravar imagens dos bichos. Logo se deu conta de que era um casal de carcará. Ainda curioso com o fato, o observador notava que um terceiro indivíduo já quase do mesmo tamanho dos outros não voava. Foi quando percebeu que o casal tinha tido um filhote.
Essa situação única despertou nele o interesse de começar a fotografar aves. “Onde moro tem um cinturão verde e temos a Casa Modernista aqui pertinho. Estamos bem próximos do Parque Ibirapuera, Parque da Aclimação, Zoológico e Jardim Botânico, então sempre está aparecendo uns bichos diferentes. Eles acabam ficando pela redondeza. Moro no 8° andar de um prédio bem na copa das árvores e da minha sacada vejo papagaios, tiribas, águias, falcões”, explica o observador.
A Casa Modernista, construída em 1928 faz parte de um parque mantido pela prefeitura da capital. José Roberto já teve a oportunidade de acompanhar na Vila Marina uma praça perto do prédio onde mora, seis ninhadas de pica-pau-de-cabeça-amarela.
Na Casa Modernista ele já encontrou uma família de corujinhas-do-mato. No mesmo local, ele teve a chance ver a primeira ninhada de corujas-orelhudas em março do ano passado. Em novembro de 2024, a espécie teve uma segunda ninhada no quintal de uma casa atrás da Casa Modernista.
Coruja-orelhuda registrada na cidade de São Paulo (SP)
José Roberto Nogueira
“Já o falcão-peregrino, o vi pela primeira vez há quatro anos, sem querer, estava na minha cozinha lavando a louça e vi um bicho sentando no prédio, vi que não era carcará, urubu, peguei a máquina e fui ver o que era, quase caí de costas quando vi que tratava-se do peregrino. Sempre estou com a máquina e mesmo andando pelas ruas ou mesmo dirigindo presto atenção nos bichos voando”, revela José.
O observador de aves conta que o falcão-peregrino chega na capital paulista em outubro e pode ser visto até o final de março. A ave de rapina que vem do norte da América tem sido avistada nos últimos quatro anos no mesmo local da Vila Mariana.
Entre as aves vistas na maior cidade do país, o urutau tem um episódio à parte. Na área verde próxima à Casa Modernista , José Roberto fez a primeira observação três anos atrás. Mas os flagrantes continuaram.
Urutau e filhote registrado na cidade de São Paulo (SP)
José Roberto Nogueira
“No ano passado comecei a escutar ele cantando sempre umas 4h da manhã, aí comecei a procurá-lo, fui direto onde tinha visto pela primeira vez e nada, procurei por vários dias e nada. Um belo dia estava indo para a piscina do meu prédio, quando sentei na borda da piscina vejo o danado num galho da árvore no fundo do meu prédio. Comecei a acompanhá-lo, isso em julho de 2024, quando chegou novembro eu escuto dois urutaus, um aqui no meu prédio e o outro por perto”, era um casal, complementa o observador.
José Roberto notou que o urutau que ficava perto do prédio dele sumiu. O bicho foi visto num taquaral da Vila Mariana onde o observador acredita que tenha chocado o ovo. Durante um mês, a ave foi vista lá, depois sumiu, depois de um temporal. José Roberto até pensou que o urutau fêmea tivesse perdido o ovo. Mas para surpresa do aposentado, a ave voltou ao quintal do edifício.
Urutau registrado na cidade de São Paulo (SP)
José Roberto Nogueira
Passados quinze dias, o urutau sumiu de ovo. E lá na Casa Modernista, o casal de urutau foi visto e com um filhotinho. “Pensa numa pessoa como eu que tinha um sonho de encontrar um urutau e eles vem para o meu bairro e além disso me dão o prazer de ver o nascimento e crescimento do filhote, aja emoção nisso”, confessa o observador.
José Roberto caminha três horas na parte da manhã e à tarde sai com amigos ou sozinho para passarinhar.
Alguns registros ele compartilhou nas plataformas de ciência-cidadã. Mas ainda há muitas fotos que não publicou. Como todo observador, ele quer flagrar mais bichos. “Meu sonho é fazer uma harpia livre em seu mundo. Já vi e fotografei no zoológico, mas não é igual você vê-la na natureza em seu habitat. Outro que pretendo fazer é esse deve estar próximo de acontecer é o famoso soldadinho-do-araripe”.
Nesses casos, ele vai ter que planejar uma viagem de observação. Enquanto isso, na Vila Mariana, ele continua a ter o privilégio de ver as aves que apesar do avanço urbano, ainda batalham pela manutenção vida da espécie, mesmo numa das maiores cidades do mundo.
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