Operação Car Wash: o que se sabe sobre lavagem de dinheiro com carros de luxo e tráfico de cocaína com uso de cafeína em SP


Grupo é investigado por movimentar R$ 60 milhões em cinco anos. Empresários de Ribeirão Preto estão entre os investigados. Empresários em Ribeirão Preto são suspeitos de lavar dinheiro com carros de luxo
Empresários de Ribeirão Preto (SP) são alvos de uma investigação que apura, desde o ano passado, um dos maiores esquemas de tráfico de drogas e de lavagem de dinheiro da região que em dezembro voltou a mobilizar agentes em uma nova fase da força-tarefa.
Apontada pela Operação Car Wash, deflagrada pela primeira vez em novembro de 2023, a sistemática chamou atenção pela utilização de cafeína para ampliar a produção de cocaína e os lucros da organização criminosa, que movimentou R$ 60 milhões em cinco anos.
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O esquema incluía, segundo a Polícia Federal, uma rede de integrantes que se dividiam entre as funções de fornecer a substância química usada para “batizar” a droga, financiar o tráfico e lavar o recursos financeiros por meio do comércio de carros de luxo.
Em um desdobramento da Car Wash, chamado de Operação Herege, agentes fizeram buscas em um condomínio em Rifaina (SP) e na zona sul de Ribeirão Preto, no dia 12 deste mês, mas não encontraram um homem que é suspeito de comprar cafeína para a produção de cocaína. Ele não teve o nome divulgado.
A seguir, entenda o que se sabe sobre a organização criminosa, segundo documentos obtidos pela EPTV, afiliada da TV Globo.
Allan Tadashi, Nevanir de Souza Neto e Roger Martins são investigados pela Operação Car Wash na região de Ribeirão Preto (SP)
Reprodução/EPTV
Quem são os investigados?
Allan Tadashi , apontado como o chefe do esquema, está preso desde o início da operação. Ele morava em um condomínio na zona sul de Ribeirão Preto.
Com base em informações de celulares, os agentes aponta que Allan Tadashi assumiu o protagonismo nesse tipo de comércio dotado de uma estrutura dinâmica de abastecimento e ampla rede de contatos, sobretudo de grandes fornecedores e outros traficantes compradores, o que conferiu grande faturamento.
De 2019 a 2022, ele teria movimentado junto com um financiador chamado Nevanir de Souza Neto mais de R$ 30 milhões com atividades criminosas, segundo a PF.
A investigação aponta que os dois eram conhecidos de longa data e que estenderam a amizade para uma cooperação financeira de ocultação de renda e financiamento do tráfico de drogas, como mostram as anotações. Neto chegou a ser preso, mas foi solto em agosto e desde então responde em liberdade.
Documento registra apontamentos da Polícia Federal sobre esquema de venda de carros de luxo na Operação Car Wash
Reprodução/EPTV
Outro nome envolvido na investigação é o de Roger Martins, também preso no ano passado. Ele também morava na zona sul de Ribeirão Preto, em um condomínio de luxo.
Roger estaria ligado ao fornecimento da cafeína usada para batizar a cocaína, de acordo com a investigação. A partir da rede de contatos com Alan Tadashi, ele teria encontrado formas de escoar o produto químico para outros traficantes e revendedores, chegando a um faturamento que superava centenas de milhares de reais.
Os pagamentos seriam cobrados por Allan Tadashi, que eram enviados em parcelas para Roger de forma direta ou por terceiros. Diversas anotações relacionadas aos dois também foram encontradas pela polícia.
Outro investigado, e que não teve o nome divulgado, é o homem que foi procurado na semana passada em Rifaina e Ribeirão Preto, suspeito de comprar cafeína ilegalmente para misturar com cocaína e assim revender a droga para traficantes da região. Ele segue foragido.
Além disso, na primeira fase da operação, outras pessoas foram alvos de ordem de prisão por participação no esquema.
Em 2023, Operação “Car Wash” apreendeu automóveis e efetivou prisões contra esquema que envolvia desvio de cafeína para produção de cocaína no interior de São Paulo
Reprodução/EPTV
Como funcionava a produção de cocaína?
Um empresário, dono de uma loja de suplementos alimentares em São João da Boa Vista (SP), se valia do negócio legalizado para a compra da cafeína. Ao todo, foram compradas 8 toneladas do produto para misturar à cocaína. A estimativa é que foram produzidas 26 toneladas de droga.
A cafeína era distribuída aos traficantes, que a acrescentavam à pasta base de cocaína e assim conseguiam aumentar a margem de lucro. A droga tinha como destino usuários na região, e não o tráfico internacional.
“O que a gente estimou é que pra que, com a cafeína ele fazia cada um quilo de cocaína virava três quilos, podendo ser até mais. (…) Nessa estrutura de fornecimento de cafeína a gente identificou o traficante que adquiria uma grande quantidade de cafeína, o que nos despertou atenção”, afirmou o delegado Marcellus Henrique de Araújo, da Polícia Federal, em entrevista concedida em 12 de dezembro.
Como era a lavagem de dinheiro com carros de luxo?
O dinheiro obtido pela quadrilha era utilizado em um esquema de lavagem, envolvendo a compra e a venda de carros de luxo esportivos, avaliados de R$ 800 mil a R$ 1 milhão cada. Com o dinheiro obtido com o esquema, os fornecedores e os financiadores também bancavam casas em condomínios fechados.
Por meio das trocas de mensagems, a PF identificou um esquema formado por Allan e Neto para facilitar a lavagem do dinheiro movimento pelo tráfico a partir da compra e da venda desses carros de luxo.
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Segundo as autoridades, os dois agiriam para adulterar a quilometragem dos carros, ou seja, diminui-la, assim, conseguindo preços melhores. Em transcrições, os dois falam de um carro com 52, o que pode indicar 52 mil quilômetros. Tadashi pergunta para Neto quem abaixaria esse número, e Neto diz que um mecânico abaixaria pagando “dois conto, dois conto e meio”, um dos carros seria uma Porsche de Tadashi
Ainda no documento a que a EPTV teve acesso, é possível ver que eles conversavam sobre a compra de outros carros. Neto teria dito que compraria uma BMW e perguntado se poderia coloca-la no nome de Tadashi, mais imagens revelam as estratégias do esquema.
Do que dependem as investigações?
Após as buscas da Operação Herege, a perícia tem que avaliar celulares e computadores apreendidos.
O que dizem os investigados?
A defesa diz que Nevanir de Souza Neto não financiou o tráfico de drogas e não fez lavagem de dinheiro. Que ele vivia do comércio legal de venda de carros.
A advogada de Roger Martins falou que a prisão foi injusta e que no final do processo isso vai ser provado.
A defesa de Alan Tadashi não deu retorno sobre as denúncias da Polícia Federal.
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