Filho de Gal Costa afirma ter sido coagido por Wilma Petrillo e diz que temia por sua segurança física e psicológica ao morar com viúva


Gabriel Costa acionou a Justiça de SP para requerer a nulidade de documento assinado por ele mesmo no qual dizia que Wilma vivia com Gal como se casadas fossem. Cantora morreu em sua casa em São Paulo, aos 77 anos, em novembro de 2022. Wilma diz que conviveram por cerca de 20 anos. Gabriel, filho de Gal Costa
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Gabriel Costa, filho de Gal Costa, acionou a Justiça de São Paulo para requerer a nulidade de um documento assinado por ele mesmo no qual dizia que Wilma Petrillo, viúva da cantora, vivia com Gal como se casadas fossem. Na manifestação, Gabriel também disse que considerava Wilma como mãe.
A declaração foi determinante para que o Judiciário reconhecesse que Wilma mantinha união estável com Gal, o que a colocou também na posição de herdeira. (leia mais abaixo)
No entanto, segundo Gabriel, ele apenas escreveu e assinou a carta porque teria sido coagido por Wilma. Ele disse, ainda, que temia por sua segurança física e psicológica em razão de, à época, morar na mesma casa que a viúva.
O herdeiro diz que as coações começaram a partir da morte de Gal, em novembro de 2022. De acordo com Gabriel:
Ele foi “submetido por Wilma a ingerir medicamentos de receita controlada, tendo ingressado em estado de tamanho abalo psicológico que teve sua capacidade cognitiva severamente reduzida”;
Wilma lhe fazia ameaças “dizendo que deveria a ela se submeter”, alegando que a Justiça teria deferido a guarda dele a ela até os 21 anos;
A viúva teria tentado convencer Gabriel a assinar “um documento de confissão de dívida e que possuía direito sobre 75% dos bens [de Gal] e que, por mera liberalidade, decidiu dividir os bens em 50% para ela e 50% para o herdeiro”;
Wilma teria dito: “Se você não assinar [a declaração], a gente não recebe o dinheiro e a gente vai passar fome, você não pode fazer isso comigo, não, Gabriel”.
Gabriel aponta, ainda, que, desde a infância, não presenciou indicativos de que sua mãe e Wilma se relacionavam como casadas, embora não descarte a possibilidade de que ambas teriam se relacionado amorosamente antes de sua adoção.
Ele diz que considera Wilma sua madrinha e que nutre por ela “grande estima e consideração, apesar de ter consciência da manipulação psicológica e da coação exercida durante os eventos ocorridos”.
O juiz da 12ª Vara da Família e Sucessões da capital, no entanto, apontou que Gabriel deve ingressar com ação própria e não reconheceu pedido algum proposto no âmbito da ação de inventário.
Wilma solicitou abertura de inventário e reconhecimento de união estável pós-morte em janeiro de 2023, dois meses depois da morte de Gal. Ela diz que ambas conviveram por cerca de 20 anos.
O g1 procurou a defesa de Wilma Petrillo, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.
Gal Costa e Gabriel
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Pedido da Justiça e reconhecimento de união estável
Em 2023, quando Gabriel completou 18 anos, a Justiça de São Paulo o chamou para que reconhecesse, ou não, a união estável entre a cantora e Wilma. À época, a Defensoria Pública se manifestou contrária à confirmação do relacionamento.
A Justiça pediu para que a Defensoria Pública de São Paulo atuasse a fim de garantir os direitos de Gabriel, com 17 anos à época;
Wilma fez um novo pedido para a Justiça reconhecer a união estável, mas o juiz afirmou que seria necessário um posicionamento da Defensoria;
Em junho, a Defensoria Pública mostrou-se contrária ao pedido porque Wilma não teria apresentado “suficiente documentação comprobatória da alegada união estável”;
No início de julho de 2023, Wilma reiterou os pedidos e disse que Gabriel, em outro processo, declarou de forma expressa que, desde pequeno, convive em harmonia com ela como se fosse sua mãe.
Após o pedido da Justiça, em agosto de 2023, Gabriel escreveu a declaração citada no início desta reportagem. Em setembro daquele ano, o juiz, então, reconheceu a união estável.
Morte de Gal Costa
Morre Gal Costa aos 77 anos
A cantora Gal Costa morreu aos 77 anos, em 9 novembro de 2022, em decorrência de um infarto agudo no miocárdio, de acordo com certidão de óbito obtida pelo g1. O documento descreve ainda como causa da morte uma neoplasia maligna [câncer] de cabeça e pescoço.
A causa da morte de Gal não foi divulgada na época.
Pouco antes da morte, Gal havia dado uma pausa em shows, após passar por uma cirurgia para retirar um nódulo na fossa nasal direita. A cantora morreu em sua casa no Jardim Europa, área nobre de São Paulo, às 6h40.
Certidão de óbito de Gal Costa
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Maria da Graça Costa Penna Burgos nasceu em 26 de setembro de 1945 em Salvador . Ela gravou sucessos como “Baby”, “Meu nome é Gal”, “Chuva de Prata”, “Meu bem, meu mal”, “Pérola Negra” e “Barato total”. Veja discografia completa.
Foram 57 anos de carreira, iniciada em 1965, quando a cantora apresentou músicas inéditas de Caetano Veloso e Gilberto Gil. Ela ainda era Maria da Graça quando lançou “Eu vim da Bahia”, samba de Gil sobre a origem da cantora e do compositor.
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Três anos depois, veio outro clássico: “Baby”, de Caetano Veloso. A canção foi feita para Maria Bethânia, mas Gal a lançou em disco e a projetou no álbum-manifesto da Tropicália. “Divino maravilhoso” (de Gil e Caetano) foi outra da fase tropicalista.
Os músicos João Gilberto, Caetano Veloso e Gal Costa, em agosto de 1971
Estadão Conteúdo/Arquivo
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Ao longo dos anos 60 e 70, ela seguiu misturando estilos. Dedicou-se ao suingue de Jorge Ben Jor com “Que pena (Ela já não gosta mais de mim)” e foi pelo rock com “Cinema Olympia”, mais uma de Caetano. “Meu nome é Gal”, de Roberto e Erasmo Carlos, serviu como carta de apresentação unindo Jovem Guarda e Tropicália.
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Ao gravar “Pérola negra”, em 1971, ajudou a revelar o então jovem compositor Luiz Melodia (1951-2017). No mesmo ano, lançou “Vapor barato”, mostrando a força dos versos de Jards Macalé e Waly Salomão.
Ela seguiu gravando várias músicas de Gil e Caetano, mas foi incluindo no repertório versos de outros compositores como Cazuza (“Brasil”, 1998); Michael Sullivan e Paulo Massadas (“Um dia de domingo”, de 1985); e Marília Mendonça (“Cuidando de longe”, 2018).
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Na longa carreira, Gal lançou mais de 40 álbuns entre discos de estúdio e ao vivo. “Fa-tal”, “Índia” e “Profana” foram três dos principais.
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Ela estava em turnê com o show “As várias pontas de uma estrela”, no qual revisitava grandes sucessos dos anos 80 do cancioneiro popular da MPB. “Açaí”, “Nada mais”, “Sorte” e “Lua de mel” eram algumas das músicas do repertório.
Bem recebido pelo público e pela crítica, esse show fez com que a agenda de Gal ficasse agitada após a pandemia. A estreia aconteceu em São Paulo, em outubro do ano passado.
Além de rodar o Brasil, Gal entrou na programação de vários festivais e ainda tinha uma turnê na Europa prevista para novembro.
Ela deixa o filho Gabriel, de 17 anos, que inspirou o último álbum de inéditas. “A pele do futuro”, de 2018, foi o 40º disco da carreira. “Está vindo a geração que salvará o planeta”, disse ela ao g1, quando lançou o álbum.
O último álbum lançado foi “Nenhuma Dor”, em 2021, quando Gal regravou músicas como “Meu Bem, Meu Mal”, “Juventude Transviada” e “Coração Vagabundo”, com cantores como Seu Jorge, Tim Bernardes e Criolo.
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