Crise com Israel eclode no momento em que o Brasil tenta se apresentar internacionalmente como mediador de conflitos

Nesta semana, chanceleres das maiores economias do mundo têm um compromisso no Rio de Janeiro. A cidade está pronta para se transformar na capital do G20. Crise com Israel eclode em momento em que o Brasil tenta se apresentar à comunidade internacional como mediador de conflitos
Crise entre o governo brasileiro e Israel eclode em um momento em que o Brasil tenta se apresentar à comunidade internacional como um mediador de conflitos e na mesma semana em que chanceleres das maiores economias do mundo têm um compromisso no Rio de Janeiro.
Os olhares do mundo se voltam para o Rio de Janeiro. A cidade está pronta para se transformar na capital do G20. É só em novembro que o Rio vai receber a cúpula dos chefes de Estado, mas, até lá, o calendário de eventos relacionados ao G20 é extenso.
Pela primeira vez, o Brasil assume a presidência do grupo que reúne as 19 maiores economias do mundo, além da União Europeia e da União Africana. O Brasil convidou ainda outros oito países para participar das discussões, além de 11 organizações internacionais.
Neste momento em que uma crise diplomática está no centro das atenções, os ministros das Relações Exteriores do G20 desembarcam no Rio.
O secretário de Estado norte-americano, Anthony Blinken, e o chanceler russo Serguei Lavrov confirmaram presença.
A primeira reunião ministerial do G20 sob a presidência do Brasil acontece nesta quarta (21) e quinta-feira (22), no Rio. Os chanceleres das maiores economias do mundo vão tratar de questões que o Brasil considera prioritárias, como uma aliança global contra a fome, mobilização para o combate às mudanças no clima e uma reforma na governança global, com maior inclusão e representatividade dos países para enfrentar os desafios mundiais.
O embaixador Maurício Carvalho Lírio , principal negociador de temas políticos do Brasil no G20, disse que mudanças no sistema de governança global é um dos principais temas da agenda brasileira.
“É muito importante essa história da reforma da governança global, porque uma coisa é trabalhar pela paz em cada um dos conflitos, outra coisa é ter uma governança global que evite a ocorrência dos conflitos. Então, nós estamos apagando incêndios na verdade com 183 conflitos no mundo. É uma situação tão catastrófica do ponto de vista de efeitos humanitários que obviamente a ação tem que ser estrutural”, diz ele.
O embaixador evitou falar sobre as declarações do presidente Lula em relação à guerra entre Israel e Hamas, disse apenas que as repercussões da fala do presidente não devem dominar os debates.
“A defesa da paz pelo governo brasileiro é uma defesa aplicável a todos os conflitos”, acrescenta o embaixador.
O professor de relações internacionais Marcos Vinícius de Freitas acredita que outros assuntos globais não devem perder força na pauta do G20.
“Nós enfrentamos a retomada das economias depois da pandemia da Covid-19, que é um assunto ainda não resolvido, muitos países enfrentam uma questão inflacionária alta. Você tem aí a questão da fome eclodindo de novo na Etiópia, em várias partes do mundo. Nós temos a guerra da Ucrânia. Nós temos tantos assuntos na pauta global, incluindo aquilo que o Brasil quer ter uma preponderância na liderança global, que é a questão do meio ambiente, e nós vemos que esses assuntos são mais relevantes nesse processo todo”, diz.
Para o ex-embaixador Marcos Azambuja afirma que o episódio entre o presidente Lula e o governo israelense não deve influenciar o importante papel do Brasil no cenário internacional.
“O que convém ao Brasil é voltar ao que foi o nosso pecado em todo esse episódio, é o cuidado com a língua. Usar as palavras justas, medidas, para evitar ambiguidade e desentendimentos. Diplomacia é feita com palavras cuidadas. O Brasil tem de fazer o que o Brasil sabe fazer, que é cuidar do seu próprio interesse, cuidar dos seus amigos, viver em paz com seus vizinhos e usar a sua voz para ser uma voz construtiva e amistosa. Eu espero que esse episódio se dissipe sem que danos mais duradouros persistam. O Brasil tem com Israel uma relação desde o início que é boa e que deve ser preservada”, diz Azambuja.
O ex-embaixador acredita que o Brasil tem um papel a cumprir na liderança do G20 que vai além desse impasse.
“A política externa se faz em função de interesses permanentes de grandes atores que não se alteram tanto por episódios, mesmo quando esses episódios têm uma certa excepcionalidade. Tanto que eu não vejo nenhum vínculo de ameaça. Eu creio que a navegação com os outros sócios, com o G20, com os Brics, com as nossas associações todas continuarão com as complexidades naturais ao processo, mas não por causa disso. É um episódio que não devemos deixar que seja explorado além do seu limite natural – que é efêmero, que é breve, que é passageiro”, afirma Marcos Azambuja .
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