Em reunião, Bolsonaro e ministros falam de dinâmica de ‘tentativa do golpe’, diz PF

Imagens estão entre as provas usadas para embasar o pedido da operação desta quinta-feira (8). Encontro ocorreu na casa do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid. Em reunião, Bolsonaro e ministros falam de dinâmica de ‘tentativa do golpe’, diz PF
Entre as provas usadas para embasar o pedido da operação desta quinta-feira (8), está o vídeo da reunião do então presidente Jair Bolsonaro com ministros. A gravação estava na casa do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid.
A Polícia Federal relatou ao Supremo a transcrição do vídeo com a dinâmica da tentativa do golpe. De acordo com a PF:
“Em 5 de julho de 2022, foi convocada, pelo então presidente Jair Messias Bolsonaro, reunião da alta cúpula do governo federal, que contou com a presença de Anderson Torres (então ministro da Justiça), Augusto Heleno Ribeiro Pereira (então chefe do Gabinete de Segurança Institucional), Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira (então ministro da Defesa), Mário Fernandes (então chefe-substituto da Secretaria-Geral da Presidência da República), Walter Souza Braga Netto (ex-ministro chefe da Casa Civil e futuro candidato a vice-presidente da República)”.
Segundo a Polícia Federal, o então presidente da República exigiu que seus ministros – em total desvio de finalidade das funções do cargo – deveriam promover e replicar, em cada uma de suas respectivas áreas, todas as desinformações e notícias fraudulentas quanto à lisura do sistema de votação, com uso da estrutura do Estado brasileiro para fins ilícitos e dissociados do interesse público.
Na reunião, o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, demonstrou sua desconfiança em relação ao Tribunal Superior Eleitoral. Disse:
“Eles decidem aquilo que possa interessar ou não e não tem instância superior. E a gente fica meio que de mãos atadas esperando a boa vontade dele aceitar isso ou aquilo outro”.
O ministro da Defesa faz uma imputação grave ao TSE, afirmando que a Comissão de Transparência Eleitoral seria “para inglês ver”, constituindo um “ataque à democracia”. Diz:
“Vou falar aqui muito claro. Senhores, a comissão é para inglês ver. Nunca essa comissão sentou em uma mesa e discutiu uma proposta. É retórica, discurso, ataque à democracia”.
Ainda em sua fala, Paulo Sérgio Nogueira demonstrou que trata o Tribunal Superior Eleitoral como um inimigo. O então ministro da Defesa admitiu que a atuação das Forças Armadas para “garantir transparência, segurança, condições de auditoria nas eleições” tinha a finalidade de reeleger o então presidente Jair Bolsonaro.
“E o senhor, com o que a gente vê no dia a dia, tenhamos o êxito de reelegê-lo e esse é o desejo de todos nós”, disse o general Paulo Sergio Nogueira.
Mas em agosto de 2022, um mês depois desse diálogo, o então ministro da Defesa Paulo Sérgio participou de uma reunião com o Tribunal Superior Eleitoral e, com apresentações técnicas, ficou reconhecido o êxito dos testes de verificação das urnas eletrônicas.
Ainda de acordo com o documento da Polícia Federal, na reunião gravada, o então ministro chefe do GSI, general Augusto Heleno, afirmou que conversou com o diretor-adjunto da Abin Vitor para infiltrar agentes nas campanhas eleitorais, mas adverte do risco de se identificarem os agentes infiltrados.
Nesse momento, o então presidente Jair Bolsonaro, possivelmente verificando o risco em evidenciar os atos praticados por servidores da Abin, interrompe a fala do ministro, determinando que ele não prossiga em sua observação, e que posteriormente “conversem em particular” sobre o que a Abin estaria fazendo.
O chefe do GSI prosseguiu em sua fala e evidenciou a necessidade de os órgãos de Estado vinculados ao governo federal atuarem para assegurar a vitória do então presidente Jair Bolsonaro. Diz: “Não vai ter revisão do VAR”. Ele se referiu ao árbitro de vídeo do futebol que revisa as jogadas e até desfaz decisões do árbitro de campo. E segue:
“Então, o que tiver que ser feito tem que ser feito antes das eleições. Se tiver que dar soco na mesa é antes das eleições. Se tiver que virar a mesa é antes das eleições”.
Em seguida, o então ministro do GSI afirmou de forma categórica que deveriam agir contra determinadas instituições e pessoas. Disse:
“Eu acho que as coisas têm que ser feitas antes das eleições. E vai chegar a um ponto que nós não vamos poder mais falar. Nós vamos ter que agir. Agir contra determinadas instituições e contra determinadas pessoas. Isso para mim é muito claro”.
O vídeo da reunião de Jair Bolsonaro com seus principais ministros tem cerca de 1 hora e 20 minutos. Segundo a Polícia Federal, é uma das peças fundamentais da operação deflagrada nesta quinta-feira (8). O material foi apreendido em maio de 2023 em uma busca e apreensão na casa do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid – que ainda não foi interrogado sobre o conteúdo e as circunstâncias da gravação. As imagens seguem sob segredo de Justiça.
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