Ritual de lavagem do Marco Zero por grupos de afoxé e encontro de nações de maracatu levam emoção à abertura do carnaval do Recife


Programação começou na tarde desta quinta (8) e reúne multidão que acompanha programação que inclui Olodum, Gilberto Gil e Raphaela Santos. Nações de maracatu abrem o carnaval do Recife na Praça do Marco Zero
Ricardo Labastier/Titular Fotografia
Afoxé, maracatu, axé, MPB e brega. Esses são alguns dos ritmos levados ao palco do Marco Zero durante a abertura oficial do carnaval do Recife nesta quinta-feira (8). A programação do dia começou com a Clarinada de Abertura do Carnaval, seguida pela lavagem do Marco Zero com grupos de afoxés da cidade.
O ritual sagrado para a cultura afro encantou o público presente. Cerca de 30 grupos de afoxé subiram ao palco e reverenciaram os ancestrais na cerimônia Ubuntu, que terminou com a lavagem simbólica do Marco Zero e ruas do Recife Antigo.
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Representante do afoxé Omó Obá Dê, localizado no bairro da Estância, Zona Oeste do Recife, a sacerdotisa Mãe Fátima se emocionou ao defender mais respeito ao movimento.
“A gente começa cedo, com rituais às cinco da manhã, até esse momento aqui, de consagração. É a luta de todo ano, a consagração do povo negro. É o candomblé na rua e a gente mostrando que merece mais respeito e visibilidade”, afirmou.
A mãe de santo também ressaltou a importância do trabalho que todos os afoxés exercem em suas comunidades. “Essa nossa luta é contínua por sustentabilidade. Todos os novos grupos que aqui estiveram fazem um trabalho social em suas comunidades. Independente do segmento, seja afoxé, caboclinho, ou maracatu, nós merecemos respeito”, completou.
Com quase 20 anos de tradição, o afoxé Elegbara, de Jaboatão dos Guararapes, desfilou em frente ao palco principal. O presidente do afoxé, o sacerdote Carlos Sereia, explicou que esse espaço, na abertura do carnaval, não existia no começo do grupo.
“A gente há 40 anos, quando começou o movimento do afoxé em Pernambuco, não tínha um espaço como esse. É uma grande vitória para todos nós. Precisamos do apoio do poder público para ocupar um espaço como esse que é do Marco Zero”, afirmou o pai de santo.
Luiz Carlos, de 20 anos, é alabê do afoxé Omô Inã, do bairro da Mangabeira, na Zona Norte do Recife. Responsável pela musicalidade e rituais durante o cortejo, Luiz contou que o ritual para a lavagem começou desde as primeiras horas do dia.
“Hoje, às 5h da manhã nós batemos as folhas sagradas para receber de alma e peito aberto o carnaval do Recife”, contou o alabê.
O ritual de lavagem foi seguido pelo tradicional encontro “Tumaraca”, que reúne nações de maracatu de baque virado. Centenas de percussionistas ecoaram em harmonia o som dos batuques junto aos cantos tradicionais.
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“É indescritível estar em mais uma abertura de carnaval. Faço parte do maracatu desde que era erê, com apenas dois anos. É um encontro lindo. Estamos tocando desde setembro, entre ensaios, apresentações e eventos”, contou Luiz Carlos, que também faz parte do Maracatu Nação de Alegria há 18 anos.
De acordo com o pesquisador Kellison Lima Cavalcante, do Instituto Federal de Pernambuco (IFPE) do Sertão, a palavra Ubuntu tem origem nos idiomas zulu e xhosa do Sul do continente africano e tem como significado “a humanidade para todos”. A palavra expressa uma filosofia, um modo de viver, em que todos fazem parte de um grande coletivo.
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