Mabuia: o lagarto exclusivo de Fernando de Noronha


Réptil é considerado, junto com outra espécie da ilha, o lagarto nativo mais oriental da América do Sul. A T. atlantica é uma espécie exclusiva da ilha de Fernando de Noronha
Carlos Otávio Gussoni/iNaturalist
Se você viajar até Fernando de Noronha, arquipélago pertencente ao estado de Pernambuco, provavelmente se encantará com a biodiversidade do local. Entre tantos possíveis encontros com animais selvagens, um certamente ficará na memória.
Seja andando nas ruas, fazendo trilhas, subindo nas pedras que cercam as praias, passeando em restaurantes ou nas pousadas, é possível dar de cara com o lagarto conhecido como mabuia (Trachylepis atlântica), presença constante entre os frequentadores da ilha principal.
“As ‘mabuias’ da espécie Trachylepis atlantica são endêmicas do Arquipélago de Noronha, o que significa que ocorrem apenas lá. Como a ilha faz parte do Brasil, essa espécie, juntamente com a cobra-de-duas-cabeças que também ocorre lá , pode ser considerada o lagarto nativo mais oriental da América do Sul”, explica o herpetólogo José Cassimiro.
Lembrando que, geograficamente, o arquipélago de Fernando de Noronha representa o território brasileiro mais próximo ao Oriente, ou seja, do Meridiano de Greenwich. Por isso, a afirmação de José sobre a mabuia ser o réptil brasileiro mais oriental.
Formado por 21 ilhas, o arquipélago está localizado a 545 km de Recife (PE). A ilha principal e mais extensa do arquipélago possui área terrestre de 17 km² e abriga 16 praias.
A família Scincidae, a qual pertence a mabuia de Noronha, é uma das mais diversificadas famílias de lagartos, tendo mais de 1,2 mil espécies conhecidas. De acordo com o pesquisador, os machos podem ultrapassar os 25 centímetros (contando com a cauda), enquanto as fêmeas não chegam aos 15.
De cor escura, o que facilita as camuflagens nas rochas, a mabuia é onívora e se alimenta principalmente de itens vegetais, além de néctar, flores, folhas, formigas, larvas de insetos diversos e restos alimentares humanos. Uma curiosidade sobre o animal é que, ao se alimentar de néctar e flores, acaba agindo como polinizador.
As mabuias de Fernando de Noronha são diurnas
Analía Benavidez/iNaturalist
Apesar de abundante na ilha, a espécie ainda é pouco estudada e a comunidade científica carece de informações sobre a reprodução do lagarto. “Sabemos que é ovípara, o que difere das espécies do continente, que são vivíparas, mas não sabemos qual é o seu ciclo reprodutivo”, diz.
Vale lembrar também que animais ovíparos possuem o desenvolvimento embrionário dentro do ovo. Já os vivíparos são aqueles cujo desenvolvimento embrionário ocorre dentro do corpo materno.
Segundo José, a mabuia vivia praticamente sem predadores na ilha. No entanto, algumas espécies que foram introduzidas no ambiente pelos seres humanos – como camundongos, garças, gatos domésticos e teiús – agora se alimentam do animal.
Segundo a lista vermelha da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN), o Trachylepis atlantica está categorizado como “menos preocupante” em relação ao risco de extinção.
Origens
Estudos moleculares recentes provaram que as mabuias de Fernando de Noronha surgiram provavelmente a partir de linhagens africanas, em colonizações transmarinas a partir da costa do sudoeste da África.
Apesar de ocorrer em diversos substratos presentes em Fernando de Noronha, a mabuia é encontrada com maior frequência em rochas
Douglas Bete/iNaturalist
“Isso provavelmente aconteceu através de vegetação flutuante, em linhagem e momento distinto do que originou as outras mabuias do continente americano. É possível que ambas as colonizações tenham ocorrido nos últimos nove milhões de anos, já o arquipélago, de origem vulcânica, surgiu há cerca de 12 milhões de anos”, explica ele.
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