Entregador é impedido de subir em elevador de prédio em Jacarepaguá; lei impede restrições ao uso

Prédio diz que placa de antigo elevador ‘social’ foi substituída pelo termo ‘funcional’, mas o acesso é livre. Caso foi registrado na delegacia como injúria por preconceito. Entregador é impedido de subir em elevador de prédio em Jacarepaguá; lei impede restrições ao uso
Um entregador foi impedido por uma moradora de um condomínio em Jacarepaguá de subir no mesmo elevador que ela, o que é proibido por lei. A ocorrência foi enquadrada na delegacia como injúria por preconceito.
Aquela entrega seria a última do dia de trabalho de João Eduardo Silva de Jesus. Ele levava água pra um morador que fez o pedido. Mas quando foi pegar o elevador a confusão começou.
Imagens feitas pelo entregador mostram a moradora, conhecida como Cláudia, insistindo para ele não pegar o elevador com garrafas mineral. Ela também obstrui a entrada do elevador, argumentando que João tem que pegar o elevador “de serviço”.
“Você não vai subir aqui não”, diz a moradora. “Por que não vou subir?, questiona o entregador. “Pela sua ousadia”, responde a mulher. “Me diz onde está a ousadia”, replica. “[Falou] que não existe elevador de serviço”.
O entregador explica que uma lei de 2003 estabeleceu que não existe mais lei de serviço. “Isso é uma lei agora. A senhora não sabe? Se a senhora não sabe, está sabendo agora. E eu vou subir sim”, argumentou João.
Durante a discussão o elevador fica parado. Outras pessoas chegam. Sharlene estava vindo encontrar o namorado que mora no prédio. A mãe dela estava junto. Elas viram a cena e tentaram ajudar o João, quando ele pede para o porteiro ser chamado. Enquanto isso a mulher insiste para o entregador usar o elevador de serviço.
As mulheres contaram que a moradora que impediu João de usar o elevador gritou e xingou elas. A moradora Hildeia Magalhães França diz que nunca tinha visto um caso assim no condomínio, de barração de entregador em elevador.
Como moradora antiga, Hildeia também explica que a placa de elevador de serviço foi substituída por esta com a palavra “funcional”. Mas o uso é comum.
No prédio, há dois elevadores e um botão pra chamar. Normalmente finciona assim: o que chegar primeiro a pessoa usa, nao importa se for um morador ou um entregador. A lei que impede qualquer tipo de discriminação no uso dos elevadores na cidade é a lei municipal 3.629/2003.
O texto diz que fica vedada qualquer forma de discriminação em virtude de raça, sexo, cor, origem, condição social, idade, porte ou presença de deficiência e doença não contagiosa por contato social no acesso aos elevadores existentes no Município do Rio de Janeiro e que “o transporte de pessoas se dará pelo chamado elevador social.”
Mesmo assim, Cláudia continuou impedindo que João subisse com ela.
“Eu sou condômina. Eu pago condomínio. Você paga?”, disse a moradora. “Tu paga condomínio… Qual diferença tem se tu é condômina ou não? Tu é melhor que eu?”, respondeu João.
A lei também obriga os condomínios a colocar uma placa dentro os elevadores vedando qualquer forma de discriminação. A equipe do RJ2 não encontrou nenhuma placa no elevador do prédio.
A confusão só terminou quando o porteiro pediu pra que João saísse do elevador pra evitar desgastes.
O registro na delegacia foi feito por injuria por preconceito artigo 11 da lei do racismo prevê prisão de 1 a 3 anos para quem impedir o acesso às entradas sociais de edifícios públicos ou residenciais e elevadores ou escadas de acesso.
“Ela fez tanta questão de uma coisa tão fútil, sabe ? Um pouco pela minha cor também e pela classe social, talvez por eu ser entregador. É triste, é desgastante também. Desgaste emocional, to um pouco abalado. A gente acorda cedo para trabalhar, para correr atrás do pão de cada dia e se depara com pessoas assim”, disse o entregador.
A equipe do RJ2 tentou falar com a moradora, mas foi informada que ela não estava em casa.
O condomínio residencial Aroazes lamentou o ocorrido, disse que não concorda com esse tipo de atitude e que os elevadores são liberados pra todos, sem discriminação.
Quanto à ausência das placas nos elevadores com essa informação, obrigatórias por lei, a síndica afirmou que vai providenciar as placas amanhã.
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