Enfermeira indiciada por causar graves lesões dizia a pacientes que usava ácido hialurônico, mas há indícios de uso de PMMA, diz delegada


Marcilane Espíndola foi presa após uma nova vítima denunciar ter tido infecção nos seios. Defesa de enfermeira afirma que ela não foi ouvida sobre novos fatos. Marcilane da Silva Espíndola, Goiás
Reprodução/TV Anhanguera
A enfermeira Marcilane Espíndola, indiciada por causar graves lesões em nove pacientes, dizia para as vítimas que usava ácido hialurônico, mas fazia procedimentos estéticos com PMMA, disse a delegada Luiza Veneranda. Marcilane foi presa após uma nova vítima denunciar ter tido infecção nos seios.
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O g1 pediu um posicionamento da defesa de Marcilane sobre o uso do PMMA, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem. Sobre a prisão, o advogado afirmou que ela não foi ouvida sobre o “suposto fato novo”. Segundo a delegada, a enfermeira ficou em silêncio no interrogatório.
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Ácido vs PMMA
A delegada afirmou que as vítimas acreditavam que a enfermeira usava ácido hialurônico para realizar os procedimentos. “O ácido é uma substância reversível e segura”, explicou. Porém, a investigação apontou que Marcilane usou polimetilmetacrilato (PMMA) sem autorização das pacientes.
“Tudo indica que, na verdade, a indiciada usava PMMA. Todas as nove vítimas tiveram essa substância aplicada no corpo e nós juntamos documentos que comprovam o indicativo de PMMA”, afirmou.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) diz que o PMMA é um componente plástico com diversas utilizações na área de saúde, mas que é de uso restrito e risco máximo, pois sua composição pode causar reações inflamatórias, eventuais deformidades e necrose dos tecidos onde foi aplicado.
No site da Anvisa, o órgão esclarece que a aplicação do PMMA é recomendada somente para corrigir pequenas deformidades do corpo após tratamentos de AIDS ou de poliomielite. E que, mesmo nesses casos autorizados, precisa ser feita por médicos treinados e com a quantidade mínima permitida.
Polícia Civil (PC) cumpriu mandados de busca e apreensão contra a enfermeira, Goiás
Divulgação/Polícia Civil
Investigação
Marcilane Espíndola começou a ser investigada no final do mês de julho de 2023 após três pacientes ficarem com os rostos deformados depois de realizarem procedimentos em uma clínica de estética. A Polícia Civil (PC) deflagrou a Operação Salus para investigar o caso e os policiais cumpriram mandados de busca e apreensão na clínica de estética da enfermeira.
Após as investigações iniciais, a polícia representou pela concessão de medidas cautelares que resultaram no cumprimento de buscas, bloqueio de bens e valores da enfermeira e a suspensão do exercício de atividades. Segundo a polícia, ao todo, os nove inquéritos policiais em que a enfermeira foi indiciada totalizaram 1.467 páginas, com elementos como termos de declaração, depoimentos de testemunhas, perícias da Polícia Técnico Científica e outros.
Marcilane é enfermeira, mas nas redes sociais afirmava ser pós-graduada em dermatologia estética, dando a entender que possuía qualificação para atuar no ramo. Na internet, ela anunciava procedimentos como: preenchimento labial, no nariz, lipo de papada, bronzeamento e até cursos ensinando as técnicas. Mas, em depoimento à polícia, ela admitiu que não concluiu o curso.
Quando as investigações iniciaram, o Conselho Regional de Enfermagem de Goiás (Coren-GO) informou ao g1 que instaurou um Processo Ético Disciplinar para apuração da conduta da profissional. Com o indiciamento, a reportagem solicitou um novo posicionamento ao conselho por e-mail, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.
Conversa entre profissional (branco) e paciente (verde), que denunciou ter ficado com o rosto deformado após procedimento em Aparecida de Goiânia, Goiás
Reprodução/PCGO
Pacientes deformadas
Quase todas as pacientes que procuraram a polícia foram atendidas em uma clínica odontológica, em Aparecida de Goiânia, onde a enfermeira começou a fazer os primeiros procedimentos. Segundo a polícia, depois disso, ela alugou uma casa, no Setor Oeste, em Goiânia, para ter um espaço próprio.
Uma reclamação unânime entre as pacientes lesionadas, é que elas não receberam nenhum tipo de assistência da suspeita após as complicações, mesmo tendo procurado a profissional. Em troca de mensagens com uma delas, Marcilane diz: “Você tem que aguardar. Você não entende, que não sou eu, é seu organismo. O que tinha pra ser feito, já foi feito”.
Uma das vítimas contou à ainda que Marcilane disse que “não perderia o sono” por causa do problema dela. Na época, a defesa de Marcilane definiu a operação como “drástica”, pois, segundo o advogado, a profissional sempre colaborou com as investigações. Além disso, explicou que todos os pacientes tiveram problemas após os procedimentos devido descrumprirem as orientações do pós-operatório.
Nota da defesa de Marcilane Espíndola na íntegra:
“A defesa de Marcilane Espíndola ressalta que a prisão outrora deferida e cumprida na data de 11/07, já foi substituída por prisão domiciliar no mesmo dia 11. Em relação a busca e apreensão, nada de ilícito foi encontrado. Infelizmente, mesmo com diversas tentativas, inclusive através de pedidos judiciais (habeas corpus preventivo), a investigada não foi ouvida antes do pedido desmesurado da prisão, acerca do suposto fato novo, impedindo a investigada de contrapor eventual acusação, o que viola, inclusive, o disposto no art. 6º, inciso v, CPP.
A defesa aguarda acesso ao processo em que houve o deferimento da medida extrema, para se posicionar sobre a matéria fática. Registra-se, novamente, que a investigada esteve, está, e sempre estará à disposição para qualquer esclarecimento necessário.”
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