Herpetóloga desenvolve estudo sobre ecologia reprodutiva de jacarés-açus no Tocantins


Pesquisa é a primeira envolvendo a caracterização dos locais de nidificação e aspectos reprodutivos do animal no estado. Barthira encontrando um ninho e fazendo a biometria dele e dos ovos
Barthira Oliveira/Acervo pessoal
Formada em 2008 pela Universidade de Franca (UNIFRAN), Barthira Rezende de Oliveira já acumula mais de 15 anos na biologia, dez somente como herpetóloga. Já tentou outras áreas, como entomologia e genética, mas foi com os répteis e anfíbios que encontrou sua paixão.
Aos 36 anos, a herpetóloga desenvolve um projeto de dissertação de mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade, Ecologia e Conservação (PPGBEC) da Universidade Federal do Tocantins (UFT) relacionado à ecologia reprodutiva dos jacarés-açus (Melanosuchus niger). O trabalho é o primeiro a estudar a reprodução específica do animal no estado.
A pesquisa está sendo desenvolvida dentro de uma unidade de conservação no Parque Nacional do Araguaia, na Ilha do Bananal, a maior ilha fluvial do mundo. O local também é uma área de transição entre dois biomas: Cerrado e Amazônia.
Barthira Rezende de Oliveira é bióloga há 15 anos, e herpetóloga há 10 anos
Arquivo pessoal
Ecologia reprodutiva
A ecologia reprodutiva envolve muitos aspectos: estudo dos padrões de reprodução e comportamentos relacionados, época de procriação, locais de nidificação e incubação de ovos, cuidados parentais e outros aspectos. No projeto, o foco está na caracterização dos locais de nidificação e aspectos reprodutivos do jacaré-açu.
“Infelizmente, as informações sobre a espécie na região do Parque Nacional do Araguaia são bem escassas, por isso estou desenvolvendo esse projeto sobre a caracterização dos locais de nidificação e aspectos reprodutivos do jacaré-açu na região”, comenta Barthira.
“Em outras regiões da Amazônia, já existe conhecimento a respeito da ecologia reprodutiva da espécie, mas no estado do Tocantins, não. É uma área de importância ecológica altíssima, além de ser um dos sítios Ramsar (local de importância ecológica internacional). Com esse estudo, eu espero contribuir com o conhecimento sobre espécie para a região, além de auxiliar no desenvolvimento de estratégias de conservação dos jacarés”, afirma a bióloga.
O jacaré-açu é o maior jacaré vivo atualmente
alexennis269/iNaturalist
Barthira explica que o projeto auxiliará no desenvolvimento de estratégias de conservação da espécie, como planos de manejo e definição de áreas prioritárias dentro de unidades de conservação. Paralelo a pesquisa, realizará também estudos complementares, como censos populacionais, que ajudam a identificar a situação da estrutura etária da população de crocodilianos na região.
“Quando encontramos um ninho, anotamos as características do ambiente, fazemos biometria dele e dos ovos. Tentamos coletar o máximo de informações possíveis para nos auxiliar tanto nas análises, quanto no entendimento da espécie com o ambiente em que ela vive”, relata ela.
“Os crocodilianos têm uma taxa aproximada de 1% de filhotes que chegam à fase adulta. Então, nem todos os ovos eclodem, existem predação dos ninhos, tanto por animais quanto pelo ser humano também. Nós acompanhamos o desenvolvimento do embrião por meses. Chegar no ambiente e encontrar sinais de eclosão é algo gratificante”, finaliza.
Carreira de herpetóloga
Além de desenvolver esse projeto, a herpetóloga atua dentro da consultoria ambiental, o que a permite ter contato com outros grupos que englobam a herpetofauna (como anuros, quelônios e serpentes), e realizar levantamentos e monitoramentos desse grupo.
Herpetóloga estuda sobre a ecologia reprodutiva de jacarés-açus no Tocantins
Arquivo pessoal
Barthira também faz parte de alguns projetos de pesquisa que são desenvolvidos no Laboratório de Caracterização de Impactos Ambientais (LCIA), na UFT.
“Eu tomei a frente de fazer o projeto nessa área, e espero abrir portas para outros trabalhos, de outras pessoas. O sentimento é como uma quebra de barreiras. Uma mulher fazendo esse tipo de trabalho dá uma força”, explica a herpetóloga.
“Temos poucas mulheres no campo, principalmente na conservação de crocodilianos. Infelizmente, o caminho para mulheres na ciência sempre foi difícil. Hoje faço parte de importantes grupos de especialistas no assunto, tento divulgar que é possível ser mulher e trabalhar com esses animais, e espero inspirar outras para que elas entendam que a herpetologia também é para mulheres”, finaliza.
*Texto sob supervisão de Giovanna Adelle
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