Saiba por que Unicamp vai se desfazer de 9 mil livros e qual o destino das obras


Com uma das maiores redes de bibliotecas do país, Universidade Estadual de Campinas vai dar baixa de parte de um acervo com mais de 1 milhão de exemplares. Saiba porque a Unicamp pode se desfazer de 9 mil livros do sistema de bibliotecas e qual o destino
Divulgação/Unicamp
A notícia de que 9 mil livros podem ser descartados da rede de bibliotecas da Unicamp, composta por 30 unidades de amplo acesso e oito da coordenação, causou repercussão nas redes sociais. No entanto, segundo biblioterárias ouvidas pelo g1, tal prática é rotineira e “saudável” para as instituições desta natureza.
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Nos últimos dez anos, desde 2014, o processo de baixa tirou do acervo das bibliotecas da Universidade Estadual de Campinas 44.523 itens, desde livros, revistas e teses até materiais multimídia como CD, DVD, Fita Cassete, etc. Por outro lado, foram adquiridos 166.294 itens neste mesmo período.
Para entender melhor como funciona os bastidores das bibliotecas da universidade, as bibliotecárias Mariana Pedroso Teixeira e Erica Cristina Mansur explicam sobre o ciclo de vida dos livros, porque alguns são destinados ao descarte e como esse procedimento é feito.
👀 O que você vai ver nesta reportagem:
📕 A dança do acervo
📈 Como funciona a aquisição?
📓 Lista de descarte
💡 Destinos possíveis?
📕 A dança do acervo
O acervo da rede de bibliotecas da Unicamp é formado principalmente por livros voltados para alunos da graduação, a estes somam-se publicações para cursos de pós-graduação e as coleções especiais que são um setor específico.
Deste montante, apenas as coleções especiais não passam pelo processo de baixa patrimonial pela característica que extrapola a do simples exemplar e agrega valores históricos, culturais e de raridade, entre outros.
Rotatória de acesso à Unicamp, em Campinas
Antonio Scarpinetti/Unicamp
Os processos de baixa seguem uma série de normas e não significam necessariamente a eliminação do material, que pode ser transferido para outras unidades interessadas ou doado para outras instituições que entram em contato com a universidade.
As bibliotecárias explicam que todo o procedimento de aquisição e baixa “é transparente e pode ser analisado por qualquer pessoa” nos relatórios anuais que são publicados no site da universidade.
A partir dele, podemos observar que, desde 2014, foram baixados 44.523 itens, ao passo que entraram 166.294.
Exemplares adquiridos e baixados
📈 Como funciona a aquisição?
A baixa tem uma função na dinâmica cotidiana de uma biblioteca e faz parte do ciclo de vida de um livro. Todos os anos são feitas listas para compra de novos títulos com objetivo de manter o acervo sempre atualizado de forma a contribuir tanto para o ensino, como para a pesquisa.
“Essas listas de aplicação vêm diretamente das unidades das faculdades para o setor de compra que funciona no sistema de bibliotecas no prédio da biblioteca central. Hoje a gente usa um pregão eletrônico para ser efetivado. Às vezes tem pregão que não é finalizado, porque ele não consegue um livreiro ou fornecedor que consiga todo o material”, esclarece Erica Mansur.
A etapa seguinte da compra é o processamento técnico onde são colocados os números de processo, “uma espécie de RG do livro”.
Em seguida o material é enviado para as bibliotecas nas unidades e passam a fazer parte dos acervos dos institutos.
Depois disso os livros ficam disponíveis para serem pesquisados e como recomendação, as bibliotecas devem fazer a cada dois anos um inventário do acervo para descobrir, principalmente, se algo foi extraviado ou está desaparecido.
📓 Lista de descarte
As bibliotecárias explicaram que existem vários motivos para que um material entre na lista de descarte. Uma das possibilidades acontece depois que determinado livro não foi encontrado em mais de dois inventários seguidos, quando passa a ser considerado furtado.
Outra situação para o descarte é o desuso.
“É feito uma conferência dos títulos para saber quando que esse material saiu, se alguém não o utiliza há muitos e muitos anos. Antes tinha uma ficha atrás do livro, mas hoje a gente tem o sistema e é muito mais fácil. Você tira uma listagem e consegue saber como está o acervo e como é que está a circulação”, fala Erica Mansur.
Fachada da Biblioteca Central na Unicamp.
Divulgação/Unicamp
Em complemento a constatação que determinado título parou de ser solicitado, em alguns casos acontece de existirem muitos exemplares do mesmo título. “Às vezes tenho uma estante com 15 exemplares de um material que faz 10 anos que não circula”, pontua.
Nesses casos é possível fazer a baixa patrimonial, reservando um exemplar para ficar disponível para pesquisas e o excedente é colocado na lista para ser dispensado.
Para serem considerados obsoletos, os livros passam por uma comissão formada por docentes e bibliotecários que fazem avaliação do material.
E por fim existe os casos de material danificado, am alguns casos por falta de cuidados dos estudantes.
“Tem livro que depois de um ano o coitado não tem capa mais, arrancaram folha. E isso na universidade, sujeira de café, pegou chuva. Isso a gente não está falando de aluno de escola do fundamental. A gente tá falando de universitário mesmo”, enfatiza Mariana.
Por outro lado, obras que foram adquiridas nos últimos dez anos e acervos de coleções especiais como da Biblioteca de Obras Raras nunca entram na lista de descarte.
Biblioteca de Obras Raras na Unicamp.
Divulgação/Unicamp
💡 Destinos possíveis?
Uma vez feita a lista, excluindo os livros extraviados, começa o trabalho de levantamento de interesse entre outros institutos dentro da universidade, seguido de instituições parceiras como a USP, ONGs, os patrulheiros de Campinas e bibliotecas prisionais, entre outros.
Elas ressaltam que todo processo segue códigos muito rígidos e as doações só podem acontecer para organizações sem fins lucrativos ou instituições públicas que podem disponibilizar esse material para o público.
No entanto, dentro destes levantamentos, cerca de 40% do material costuma ser danificado a ponto de não ser possível a doação.
“Há muitos anos a gente tinha um setor que fazia reparo na encadernação em alguns materiais, eles não conseguiam absorver tudo, mas eles faziam uma parte. Hoje em dia a gente não tem mais e a encadernação no mercado é um negócio caro, porque são pouquíssimas pessoas que fazem”, diz Erica.
Por fim há o descarte, quando o material é enviado para a divisão de Meio Ambiente da Unicamp que faz o recolhimento, separação e destruição por picotamento.
Antes de mandar esse material para o descarte são retirados todos os carimbos de identificação da Unicamp e colocados outro carimbo falando que ele foi descartado legalmente.
“Geralmente os processos duram um ano e meio a dois anos para chegar ao descarte, outras unidades fizeram baixas patrimoniais em outros anos” , finaliza Mariana.
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