Drones e ‘adubo verde’: fazendas apostam na inovação para reduzir emissão de carbono e aumentar sustentabilidade


Produtores dos Campos Gerais do Paraná usam técnicas como o plantio direto para aumentar o sequestro de carbono. Boas práticas garantem certificações que valorizam o produto final. Universidades têm grande importância na disseminação de práticas agrícolas sustentáveis
Jéssica Natal/UEPG
O fomento à sustentabilidade no agronegócio dos Campos Gerais do Paraná tem ajudado tanto na redução das emissões de carbono quanto no próprio equilíbrio econômico das fazendas.
O investimento em boas práticas – ambientais e sociais – garante aos produtores inclusive certificações capazes de valorizar o produto final.
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A Fazenda Escola Capão da Onça, da Universidade Estadual de Ponta Grossa (Fescon-UEPG), por exemplo, investe em técnicas de cuidado e preservação do solo que favorecem o sequestro de carbono – processo no qual plantas, por exemplo, retiram gás carbônico (CO²) da atmosfera e transformam em oxigênio (O²).
Um dos métodos mais difundidos na agricultura de baixo carbono e utilizado na fazenda é o Sistema de Plantio Direto (SPD). A técnica nascida na região dos Campos Gerais combina práticas como cobertura do terreno, nenhum ou mínimo revolvimento do solo e rotação de culturas.
“O solo nu, sem nenhum tipo de cultivo, acaba emitindo carbono para a atmosfera – é a primeira ‘lei’ quando pensamos nas etapas de produção agrícola, ou seja, não deixar o solo descoberto”, ressalta Orcial Bortolotto, coordenador da Fazenda Escola e professor de Agronomia na UEPG.
Além da rotação das culturas de aveia, feijão, milho e soja, a Fazenda Escola trabalha com plantas de cobertura, chamadas de “adubos verdes”.
O coordenador explica que cobrir o solo com uma mistura de plantas e sementes, como ervilhaca, centeio e aveia, favorece o sequestro de carbono.
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Massa seca das plantas de cobertura contribui para o sequestro de carbono
Jéssica Natal/UEPG
Os adubos verdes também ajudam a equilibrar os componentes o terreno e ainda dificultam a emergência de plantas daninhas.
Ao longo dos anos, essa prática auxilia também no incremento de produtividade, sendo uma ferramenta sustentável do ponto de vista ambiental e econômico.
Outra preocupação da Fazenda Escola é optar por cultivos com maior tolerância aos agentes de estresse, como pragas, doenças e herbicidas.
“A partir disso, conseguimos reduzir o número de aplicações no campo, o que representa não apenas menor quantidade de produto, como também o menor número de entradas na área. Com menos intervenções tratorizadas, temos menos emissão de carbono pela queima do diesel e menor compactação do solo”, explica Orcial.
Drones no campo
Uma tecnologia ainda em teste na Fazenda Escola é a aplicação de defensivos com o uso de drones. A principal vantagem da tecnologia é diminuir a quantidade necessária do produto a ser aplicada.
O coordenador da Fazenda Escola explica que, com tratores, a quantidade de defensivo fica em torno de 110 a 120 litros por hectare. Com os drones, a taxa cai para 10 a 20 litros.
“A concentração do produto é a mesma, mas a quantidade de água é menor, o que ajuda a reduzir a contaminação do solo. A tecnologia dos drones também oferece respostas interessantes ao melhor manejo de doenças e plantas daninhas”, complementa.
Selo ambiental rende dinheiro
Engenheiro agrônomo Fabiano Mottim Gomes lidera fazenda pioneira em venda de créditos de soja sustentável
Divulgação
A 57 km da Fazenda Escola da UEPG está outra propriedade que se destaca pelas iniciativas sustentáveis. É a Fazenda Pau Furado, localizada em Teixeira Soares, também na região dos Campos Gerais.
Junto dos dois irmãos, o agricultor e engenheiro agrônomo Fabiano Mottim Gomes comanda a propriedade herdada pelo avô.
“Na fazenda] essas práticas são muitas, mas em destaque a reciclagem do lixo, 100% de cumprimento às legislações ambientais e trabalhistas, boas práticas com redução de químicos, aumento no uso de biológicos, dentre muitas outras. São mais de 130 itens para sermos certificados”, conta.
A certificação à que Fabiano se refere é da RTRS (Responsible Table Round Soybean), ou Associação Internacional de Soja Responsável, mantida há 3 anos consecutivos pela fazenda.
Para conquistá-la, a propriedade passou por auditorias internacionais que avaliam centenas de requisitos ambientais, legais e sociais, incluindo boas práticas agrícolas, respeito às leis vigentes, qualidade de vida dos trabalhadores e bom relacionamento com as comunidades do entorno.
A propriedade é considerada pioneira na venda de créditos de soja sustentável. As empresas compradoras podem atestar que adquiriram soja certificada e usar a sustentabilidade como um diferencial dos produtos.
“As certificações são importantíssimas para elevar o nível das fazendas no Brasil em termos de qualidade. A cada tonelada de soja produzida geramos 1 crédito de soja sustentável, o qual é adquirido por quaisquer empresas que necessitem desses créditos para estarem em acordo com as leis ambientais de cada país”, exemplifica o proprietário da fazenda, que, além da soja sustentável, é certificada para milho, milho waxy e cevada.
Os números mostram os resultados das boas práticas. Em 2021, a fazenda negociou créditos de soja sustentável com a intermediação da empresa certificadora por US$ 0,76 a unidade.
No início do ano passado, a fazenda foi a primeira propriedade de um cooperado da Frísia Cooperativa Agroindustrial a fazer esse tipo de comercialização.
Com o apoio da cooperativa, sediada em Carambeí, a fazenda conseguiu começar a negociar os créditos sem intermediários. Dos 2.281 créditos ofertados, a metade foi vendida a US$ 2,50/cada para uma empresa da Dinamarca e o restante foi adquirido por US$ 2,80/cada por uma empresa alemã.
Incentivo à sustentabilidade
Cooperativa de Carambeí tem programa de sustentabilidade que incentiva boas práticas
Divulgação/Frisia
Desde 2012 a cooperativa de Carambeí mantém o programa Fazenda Sustentável, com serviços para aprimorar a gestão das propriedades rurais, com foco na produção economicamente viável, ecologicamente sustentável e socialmente responsável.
Além de incentivar a adoção de boas práticas nas propriedades dos cooperados, a iniciativa fornece acompanhamentos para a obtenção de selos e certificações sustentáveis.
Entre as práticas sustentáveis necessárias para as certificações e adotadas pelos cooperados estão o atendimento às Normas Regulamentadoras (NRs), gerenciamento e destinação correta de resíduos e adequação dos depósitos de defensivos agrícolas e tanques de combustíveis.
O especialista em Meio Ambiente da cooperativa, Jean Cesar Andrusko, explica que as ações buscam atender os requisitos legais, as boas práticas de produção agrícola e pecuária, além das exigências dos clientes e mercados consumidores no que se refere à segurança alimentar e rastreabilidade.
“As propriedades rurais também se beneficiam através do cumprimento e acompanhamento das legislações trabalhistas e ambientais vigentes, mitigando riscos ambientais e reduzindo acidentes de trabalho. Além disso, as ações implementadas na rotina da propriedade têm potencial para gerar conscientização e engajamento da equipe, melhorando o controle e a eficiência das atividades ali desempenhadas”, finaliza.
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