Aplicativo permite contar visitas de polinizadores às plantas


Projeto desenvolvido no Reino Unido chega ao Brasil para contribuir com análise de declínio ou manutenção das populações de animais. Cientistas cidadãos são os principais contribuintes. Cientista cidadão deve escolher uma planta-alvo e demarcá-la com um quadrante de madeira de 50x50cm
Filipi Miranda Soares
Com o objetivo de promover a ciência cidadã, um aplicativo para registrar a visita de polinizadores como abelhas, moscas e beija-flores em flores foi criado por pesquisadores do Reino Unido e agora tem ganhado mais funcionalidade no Brasil.
O banco de dados possibilita detectar se há manutenção ou declínio nas populações de polinizadores, além de contribuir com ações de conservação.
Por ser um projeto que insira a população em geral na coleta desses números, o app promove conhecimento de quais espécies de plantas e grupos de visitantes florais existem nas redondezas da pessoa e os horários do dia ou períodos do anos em que há recursos florais.
Diferentemente do Wikiaves, e-Bird e iNaturalist, outras plataformas importantes de ciência cidadã, a proposta funcional do aplicativo nomeado como FIT Count não é de ser uma rede social na qual as pessoas postam as fotos tiradas, comentam e identificam espécies.
O protocolo do FIT Count inclui a fotografia da planta-alvo e só considera as contagens de visitas a estas flores por diferentes visitantes florais. Nossa ideia é trabalhar também com o público que não conhece tanto de espécies. Tanto é que, em uma das etapas para criar o cadastro, você sinaliza se é leigo no assunto, se conhece pouco, moderado ou muito sobre o assunto
De acordo com Natalia, que é doutorada em Ecologia de Comunidades Marinhas, dentro do aplicativo a pessoa só indica qual o grupo de animal que visitou as flores, colocando somente “abelha”, “borboleta”, “besouro”, “mosca”, ou até “não sei o que foi que visitou”.
Já foram realizadas oficinas de formação de cientistas cidadãos para aplicação do protocolo
Filipi Miranda Soares
“O importante é a contagem de visitas sinalizadas. O cientista cidadão também não vai ter todas as espécies de plantas próximas a ele, então ele vai ter que escolher uma planta-alvo para monitorar. Nas fotos disponibilizadas no aplicativo, é possível vê-las com flores e dentro de um quadrante de madeira de 50 x 50 cm. Esta é justamente a área que a pessoa precisa monitorar por 10 minutos”, pontua.
Em casa, ele vai replicar isso. Depois de escolher a planta-alvo, ele vai delimitar a área, contar a quantidade de flores presente dentro dessa área, tirar uma foto para colocar no perfil do aplicativo e, em seguida, contar a quantidade de visitas recebidas por polinizadores nesse tempo de 10 minutos, além de apontar qual foi o animal.
Uma das preocupações dos pesquisadores é instruir de maneira correta a população. Para tanto, já foram realizadas oficinas de formação de cientistas cidadãos para aplicação do protocolo. O objetivo é que o projeto seja ampliado para todo o território nacional.
Parceria com pesquisadores do Reino Unido
A iniciativa é liderada pela cientista Claire Carvel, do UK Centre for Ecology & Hidrology, campus de Wallingford, cidade localizada no condado de Oxfordshire, no sudeste da Inglaterra.
Em 2021, por meio de uma parceria estabelecida entre a equipe do Reino Unido e um projeto de pesquisa financiado pela Fapesp, sob coordenação do professor Antônio Mauro Saraiva, da Poli-USP, foi possível realizar não somente a tradução do aplicativo para o português, mas também adaptação do protocolo para o contexto brasileiro, com a seleção de plantas que existem no nosso país.
No aplicativo é possível tirar dúvidas sobre grupos de polinizadores, como abelhas, beija-flores, moscas, borboletas e mariposas, besouros etc
App Fit Count
“Isso foi importante porque, inicialmente, o aplicativo só abrigava espécies de plantas que eles tinham lá no Reino Unido. Com essa inclusão das plantas que existem no Brasil, conseguimos trazer o aplicativo para a nossa realidade”, explica ele.
“Optamos por plantas que fossem de ampla distribuição e que pudessem ser facilmente monitoradas por nossa população, inclusive em ambientes como praças e jardins dentro e fora de escolas”, finaliza.
Próximos passos
Após um trabalho grande da equipe, um material de apoio foi produzido na forma de um livro, que serve como um manual de orientações ao usuário.
A escrita do livro contou com a participação de dez autores, sendo nove brasileiros e Claire Carvell, líder do projeto no Reino Unido. A iniciativa de criar uma espécie de manual é de Sheina Koffler, atualmente pesquisadora do Instituto Nacional da Mata Atlântica.
Banner com indicações sobre o projeto e como contribuir
Arte Paula Drago/Projeto SURPASS
O livro faz parte da série “Ciência Cidadã”, organizada por Natalia Pirani Ghilardi-Lopes, que atua como coordenadora do projeto de pesquisa “Ciência aberta e cidadã nas escolas”, vinculado a um grupo de pesquisa da UFABC.
“O livro traz alguns elementos teóricos sobre ciência cidadã e polinizadores, mostrando o protocolo de coleta e submissão de dados em detalhes. Traz também informações sobre as plantas-alvo do projeto e os grandes grupos de polinizadores que podem ser avistados durante o processo no FIT Count”, diz.
Ciência cidadã
Segundo Natalia, os cientistas cidadãos desempenham um papel fundamental para ajudar os pesquisadores a responderem questões acadêmicas.
Cientista cidadão realizando a contagem das flores na planta-alvo
Bruno Albertini
Além de contribuir para a ampliação do conhecimento científico sobre a visitação de polinizadores nas flores, a ciência cidadã também tem como benefícios:
Educação ambiental: pois as pessoas passam a compreender a questão ambiental sob um ponto de vista mais complexo, que envolve também questões econômicas e sociais;
Educação científica: já que passam a entender como o processo científico funciona, como é a aplicação de métodos de coleta e submissão de dados, além da interpretação desses dados;
Aumento da conexão com a natureza: o que pode promover bem-estar e saúde mental aos envolvidos.
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