
Dezesseis dessas composições foram lembradas no especial ‘Apoteose do Samba — 40 anos de Sapucaí’. As 12 escolas do Grupo Especial tocaram e cantaram, juntas, os hinos mais marcantes. A Passarela do Samba Darcy Ribeiro, na Avenida Marquês de Sapucaí, ou simplesmente Sambódromo do Rio de Janeiro, completa em 2024 40 anos de vida.
De 1984 para cá, as arquibancadas viram carnavais inesquecíveis, embalados por sambas-enredo que transcenderam a Apoteose e são entoados até hoje.
Dezesseis dessas composições foram lembradas no especial “Apoteose do Samba — 40 anos de Sapucaí”. As 12 escolas do Grupo Especial tocaram e cantaram, juntas, os hinos mais marcantes.
Quem foi Marquês de Sapucaí? Como foi a obra de 156 dias? Quem ganhou o 1º desfile? A história dos 40 anos do Sambódromo
Ritmistas das 12 escolas do Grupo Especial tocam juntos sambas históricos da Sapucaí
Reprodução/TV Globo
Acadêmicos do Grande Rio, 2022
Acadêmicos do Salgueiro, 1993
Beija-Flor de Nilópolis, 1989
Caprichosos de Pilares, 1985
Estação Primeira de Mangueira, 2002
Imperatriz Leopoldinense, 1989
Império Serrano, 1982*
Mocidade Independente de Padre Miguel, 1990
Paraíso do Tuiuti, 2018
Portela, 1984
União da Ilha do Governador, 1989 e 1991**
Unidos da Tijuca, 2010
Unidos de Vila Isabel, 1988
Unidos do Porto da Pedra, 1997
Unidos do Viradouro, 1997
* antes da inauguração do Sambódromo, mas já na Marquês de Sapucaí
** os sambistas decidiram incluir “De bar em bar, Didi, um poeta”
Imagem aérea da Sapucaí em desfile da Portela
Fernando Maia/Riotur
Veja, a seguir, os 16 sambas.
1. Acadêmicos do Grande Rio, 2022
Sapucaí, 40 anos: Grande Rio, 2022
O samba que a gente escolheu da Tricolor de Duque de Caxias está fresquinho: há 2 anos a exaltação a Exu garantia o 1º título da Grande Rio, que por 4 vezes tinha batido na trave com vice-campeonatos.
O potente desfile sobre o orixá dos caminhos veio com um samba que começava com uma saudação: “Boa noite, moça; boa noite, moço!”
“Fala, Majeté! As 7 chaves de Exu” é assinada por Gustavo Clarão, Arlindinho Cruz, Jr. Fragga, Claudio Mattos, Thiago Meiners e Igor Leal.
2. Acadêmicos do Salgueiro, 1993
Sapucaí, 40 anos: Salgueiro, 1993
O Brasil inteiro pegou o “Ita no Norte” do Salgueiro e até hoje vibra com um dos sambas mais icônicos de todo o carnaval carioca — para além dos 40 anos de Sambódromo.
Demá Chagas, Arizão, Celso Trindade, Bala, Guaracy e Quinho compuseram um hino que eletrificou as arquibancadas: “Explode, coração, na maior felicidade! É lindo o meu Salgueiro, contagiando e sacudindo essa cidade!”. Leu cantando, né?
A viagem de barco de Belém ao Rio de Janeiro na Avenida rendeu à Academia o seu 8º título.
3.Beija-Flor de Nilópolis, 1989
Sapucaí, 40 anos: Beija-Flor, 1989
Nilópolis reluziu com um desfile impactante… sobre o lixo. Joãosinho Trinta surpreendeu a Sapucaí ao colocar alas inteiras de mendigos — e muitos deles de verdade, convidados na hora. “Ratos e urubus, larguem minha fantasia”!
O Cristo coberto de lona, com o cartaz “Mesmo proibido, olhai por nós!” — porque a Arquidiocese tretou com a ideia —, foi outro ponto impactante. E tudo isso embalado com um refrão em iorubá: “Leba laro, ô, ô, ô! Ebo lebará, laiá, laiá, ô!”
Mas o título acabou indo para Ramos (veja abaixo).
O samba é de Betinho, Glyvaldo, Osmar e Zé Maria.
4.Caprichosos de Pilares, 1985
Sapucaí, 40 anos: Caprichosos de Pilares, 1985
A irreverente Azul e Branca inventou um verbo, saudadear, para falar de coisas que já faziam falta naquele 1985 e para criticar outras.
Bondes e gasolina barata eram motivo de saudade; as Diretas Já e o voto para presidente, desejos; e “muita gente no lugar errado”, um incômodo.
Mas é no refrão que o samba “E por falar em saudade”, de Almir de Araújo, Balinha, Carlinhos de Pilares, Hercules e Marquinho Lessa, é lembrado até hoje: “Tem bumbum de fora pra chuchu! Qualquer dia é todo mundo nu!”
A Caprichosos ficou em 5º e voltou no Sábado das Campeãs — o título foi para “Ziriguidum 2001, o Carnaval nas Estrelas” da Mocidade.
5. Estação Primeira de Mangueira, 2002
Sapucaí, 40 anos: Mangueira, 2002
A Mangueira encantou (como começava o samba) numa declaração de amor ao Nordeste e sobretudo ao seu povo. Era o “Brazil com Z é pra Cabra da Peste. Brasil com S é Nação do Nordeste”!
2002 foi o último título conquistado por Jamelão, que defendeu com brio o samba de Amendoim e Lequinho.
Ao som da sanfona e na batida do triângulo, a Verde e Rosa fez um arrasta-pé que lembrou o Rio São Francisco, Padre Cícero e Salvador, mas também exigiu: “Pau de arara nunca mais!”
6. Imperatriz Leopoldinense, 1989
Sapucaí, 40 anos: Imperatriz Leopoldinense, 1989
Sabe o título que os mendigos e o “Cristo proibido” de Joãosinho Trinta perderam? Foi (com justiça) para Ramos. “Liberdade, liberdade! Abre as asas sobre nós” foi um desfile perfeito, que gabaritou todos os quesitos — ao contrário da Beija-Flor, que teve 3 notas 9 descartadas que tiveram de voltar ao somatório a fim de desempatar.
O hino composto por Jurandir, Niltinho Tristeza, Preto Jóia e Vicentinho e defendido por Dominguinhos tem versos que se superam a cada estrofe.
“A música encanta, e o povo canta assim pra Isabel, a heroína que assinou a lei divina. Negro dançou, comemorou, o fim da sina”
O samba-enredo foi usado na abertura da novela “Lado a lado” (2012-2013), que ganhou o Emmy. Laura (Marjorie Estiano) e Isabel (Camila Pitanga) viveram mulheres de classes sociais diferentes que lutavam por seus amores, desejos, independência e direitos no Brasil pós-escravidão.
7. Império Serrano, 1982*
Sapucaí, 40 anos: Império Serrano, 1982
Aqui o Apoteose do Samba faz uma “licença poética” (por isso o asterisco) e vai ao “pré-Sambódromo” para resgatar um clássico da Verde e Branca de Madureira.
A Passarela do Samba como conhecemos hoje é de 1984, mas em 1982, ano de “Bum Bum Paticumbum Prugurundum”, as escolas já desfilavam na Marquês de Sapucaí. A diferença é que as arquibancadas eram montadas a cada carnaval e desmanchadas depois do Sábado das Campeãs.
Aluísio Machado e Beto Sem Braço são os autores do samba, cujo título leva muita gente a pesquisar no Google para não errar a grafia. Aluísio disse que esse é o som que o surdo faz.
Mas o hino — fundamental para o Império conquistar seu 9º e último título no Grupo Especial — não é uma brincadeira com onomatopeias e fala sério ao criticar as “superescolas de samba S/A” e suas “superalegorias”, que vinham “escondendo gente bamba”. “Que covardia”, encerrava o verso.
Isso em 1982. Imagina o samba hoje…
8. Mocidade Independente de Padre Miguel, 1990
Sapucaí, 40 anos: Mocidade, 1990
A Verde e Branca celebrou seu cinquentenário e, de quebra, arrebatou o título em 1990. A estrela abriu alas vestida de néon, e ampulhetas marcavam a passagem do tempo.
Mestre André — o inventor da paradinha —, os carnavalescos Arlindo Rodrigues e Fernando Pinto e o intérprete Ney Vianna foram homenageados.
Toco, Jorginho Medeiros e Tiãozinho lembraram, em “Vira Virou, a Mocidade Chegou!”, os sucessos “O Descobrimento do Brasil”, “Como era verde o meu Xingu” e “Ziriguidum 2001”.
O verso “Comecei no futebol” lembra o time do Bangu, outra paixão de quem vive em Padre Miguel.
9. Paraíso do Tuiuti, 2018
Sapucaí, 40 anos: Tuiuti, 2018
A Azul e Amarela de São Cristóvão obteve a melhor colocação de sua história (um vice) com um grito contra a exploração. “Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?”, de Cláudio Russo, Anibal, Jurandir, Moacyr Luz e Zezé, terminou apenas atrás da Beija-Flor.
“Preto Velho me contou: onde mora a Senhora Liberdade não tem ferro nem feitor” e “Se eu chorar, não leve a mal: pela luz do candeeiro, liberte o cativeiro social” equiparam a escravidão a injustiças trabalhistas nos dias de hoje.
10. Portela, 1984
Sapucaí, 40 anos: Portela, 1984
Na estreia do Sambódromo, a Águia homenageou 3 de seus ícones: Paulo Benjamin de Oliveira, o Paulo da Portela, fundador; Natalino José do Nascimento, o Natal, patrono; e Clara Nunes, cantora. Cada um associado a um orixá.
E assim descortinam-se os “Contos de Areia”, de Dedé da Portela e Norival Reis, com versos curtos e marcantes. “É cheiro de mato, é terra molhada! É Clara Guerreira, lá vem trovoada! Epa hei, Iansã! Epa hei!”
O 1º ano da “nova” Sapucaí trouxe um inédito — e único — tira-teima. Com os desfiles divididos em 2 dias, as 3 melhores de cada noite disputariam o “supercampeonato”.
Portela e Mangueira foram as campeãs em seus “grupos” e seguiram como favoritas para a disputa final. A Verde e Rosa, que homenageou em vida o compositor Braguinha, levou a melhor.
11. União da Ilha do Governador, 1989 e 1991**
Sapucaí, 40 anos: União da Ilha, 1989 e 1991
O ano de “Liberdade, liberdade” e de “Ratos e urubus” também foi de “Festa profana”, da Tricolor Insulana, que terminou justamente atrás da Imperatriz e da Beija-Flor, em 3º lugar.
E toda roda de samba que se preze toca o clássico de Bujão, Franco e J. Brito, cujos versos estão na memória de muita gente.
“Eu vou tomar um porre de felicidade! Vou sacudir, eu vou zoar toda a cidade!” e “O rei mandou cair dentro da folia, e lá vou eu!” bastam para que se entoe esse hino.
Mas só “Festa profana” não bastou, e os 12 intérpretes reunidos quiseram emendar esse sucesso com outro hit insulano: “De bar em bar, Didi, um poeta”, do “porre de felicidade”.
12. Unidos da Tijuca, 2010
Sapucaí, 40 anos: Unidos da Tijuca, 2010
Um desfile arrebatador do início ao fim — como não esquecer da comissão de frente que “mudava de roupa” em 1 segundo? Um samba cheio de (duplas) camadas. Assim, com “É segredo!”, a Unidos da Tijuca encerrou um jejum de 74 anos sem títulos. No caso, o único até então, conquistado em 1936 — viriam mais 2.
Foi em 2010 que o 2º campeonato enfim foi para o Borel, que cantou com vontade o hino composto por Marcelinho Calil, Julio Alves e Totonho. “Unidos da Tijuca, não é segredo eu amar você” e “O seu olhar, vou iludir! A tentação é descobrir!” conquistaram a Sapucaí.
13. Unidos de Vila Isabel, 1988
Sapucaí, 40 anos: Vila Isabel, 1988
Jonas, Luiz Carlos da Vila e Rodolpho são os autores de um hino contra o preconceito. No centenário da Lei Áurea, a escola de Noel fez uma “Kizomba” na Sapucaí, com sua “Festa da raça”, e conquistou o 1º título da história.
O samba começa com um “Valeu, Zumbi!”, cujo “grito forte dos Palmares correu terras, céus e mares influenciando a abolição”.
O refrão brinca com palavras para acabar com a segregação e o racismo. “Nossa sede [lugar] é nossa sede [desejo] e que o apartheid se destrua.”
14. Unidos do Porto da Pedra, 1997
Sapucaí, 40 anos: Porto da Pedra, 1997
“No Reino da Folia, cada louco com a sua mania” rendeu ao Tigre de São Gonçalo o 5º lugar — e o direito de voltar no Sábado das Campeãs.
Carlinhos, Pinto e Vadinho foram os autores do refrão “Eu canto, eu pinto, eu bordo! Sapucaí é a tela! Porto da Pedra enlouquece a Passarela”, que falava sobre a (in)sanidade e “a loucura que é esta vida”.
“Nem todos os que aqui estão são loucos. Nem todos que são loucos aqui estão”, alertava o hino.
15. Unidos do Viradouro, 1997
Sapucaí, 40 anos: Viradouro, 1997
A Vermelha e Branca de Niterói chegou ao 1º título com um desfile impactante de Joãosinho Trinta — que somaria seu 9º campeonato, um recorde que dura até hoje entre os carnavalescos. O tema? O big-bang!
O sucesso de “Trevas! Luz! A explosão do Universo”, de Dominguinhos do Estácio, Flavinho Machado, Heraldo Faria e Mocotó, foi amplificado na Avenida com as paradinhas alucinantes de Mestre Ciça.
Impossível não lembrar do refrão “Vou cair na gandaia com a minha bateria! No balanço da mulata, a explosão de alegria” no ritmo do funk.
Como se calcula a data do carnaval?