Tratamento com 200 profissionais e mais de 50 dias internadas: conheça história de gêmeas que nasceram unidas e foram separadas há um ano


Irmãs nasceram unidas por parte do tórax, abdômen, bacia, fígado, genitálias, intestinos delgado e grosso. Relembre história das meninas, marcada por superação. Gêmeas Heloá e Valentina vão à escola pela primeira vez um ano após cirurgia de separação
A história das gêmeas Heloá e Valentina Prado, de 4 anos, é marcada por uma série de cuidados e dedicação da família e profissionais da saúde. As irmãs nasceram unidas por parte do tórax, abdômen, bacia, fígado, genitálias, intestinos delgado e grosso. Há um ano, elas passaram por uma cirurgia de separação. Em 2024, elas deram mais um passo importante: foram à escola pela primeira vez.
Zacharias Calil foi o médico responsável desde o início do caso, mas cerca de 200 profissionais trabalharam no tratamento das irmãs. Na cirurgia de separação, foram 48. Para relembrar a trajetória delas, marcada por superação, o g1 relembra pontos importantes; veja abaixo.
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Um ano após cirurgia de separação, mãe das gêmeas Heloá e Valentina se emociona com recuperação e faz planos: ‘Melhor que a gente imaginava’
RELEMBRE: Após cirurgia com duração de mais de 10 horas, siamesas Valentina e Heloá são separadas em Goiânia
Gemêas Heloá e Valentina, separadas em Goiânia
Michel Gomes/g1
Você confere nesta reportagem:
Nascimento
Cirurgia
Caso delicado
Recuperação
Primeiro dia de aula
Tratamento gratuito
Nascimento
As gêmeas são naturais de Guararema, cidade do interior de São Paulo. Elas se mudaram para Goiás para fazer o tratamento em Goiânia. Após o início do acompanhamento médico, os pais das crianças decidiram morar em Morrinhos, no interior de Goiás. Veja galeria de fotos das meninas antes e depois da cirurgia:
Veja fotos das gêmeas Heloá e Valentina antes e depois da cirurgia de separação
Cirurgia
Gêmeas siamesas são separadas em Goiânia
Valentina e Heloá Prado passaram por cirurgia em 11 de janeiro de 2023. O cirurgião pediátrico Zacharias Calil fez o procedimento, que durou mais de 10 horas.
As gêmeas receberam alta do Hospital Estadual da Criança e do Adolescente (Hecad) 51 dias após a cirurgia. Com a alta, as gêmeas retornaram para casa, em Morrinhos.
Heloá (à esquerda) e Valentina (à direita), após a extubação de Valentina, em hospital de Goiânia
Divulgação/Zacharias Calil
As siamesas receberam alta no dia 3 março de 2023. Na época, Waldirene falou da emoção do momento e relembrou que, em outro hospital, chegaram a dizer que os pais teriam que escolher entre as filhas.
“É muita gratidão. É só agradecer, agradecer todo mundo, primeiramente a Deus”, disse Waldirene. “É uma emoção fora do normal”, completou.
Caso delicado
Siamesas Valentina e Heloá estão em estado grave e respirando por aparelhos após serem separadas em cirurgia com duração de mais de 10 horas
Divulgação/Zacharias Calil
Zacharias relembrou o quadro de Valentina, que exigiu mais atenção da equipe no pós-operatório. A menina ficou em coma induzido por 28 dias.
“Ela precisou ser reoperada, teve um problema pulmonar severo. Depois teve outro problema neurológico mais severo ainda. Ela ficou em coma e, de repente, ela acordou e começou a ter uma evolução progressiva e satisfatória”, contou.
“O pediatra me chamou e disse que ela estava com mal epilético, que as chances eram mínimas. A cada dia a gente se emociona muito. Toda a equipe, nós temos um grupo. Colegas de fora que sempre perguntam”, disse o médico.
Siamesas Valentina e Heloá internadas em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) após cirurgia de separação
Divulgação/Zacharias Calil
O pai se emocionou ao lembrar do quadro da filha. “No começo, todo mundo achava que a Heloá poderia preocupar um pouco mais, e no fim foi a Valentina que acabou dando preocupação para nós”, falou.
“Hoje a gente a vê andando, correndo, brincando. Ela é bem mais calma do que a Heloá. A Heloá é mais rustida, mais brava. A Valentina não. Ela tem uma diferença muito grande em termos de personalidade”, completou Zacharias.
Recuperação
Um ano após cirurgia de separação, mãe das gêmeas Heloá e Valentina se emociona
Recuperadas, as meninas seguem uma rotina comum para crianças da mesma idade e a família se emociona.
“Elas estão melhor do que a gente imaginava. É uma emoção fora do normal. A vida delas agora é a vida normal de uma criança. Gostam muito de brincar e de fazer arte”, contou Waldirene do Prado, mãe das meninas.
Gemêas Heloá e Valentina, separadas em Goiânia, Goiás
Arquivo Pessoal/Waldirene Prado
Ao g1, as pequenas quebraram a timidez aos poucos e contaram as atividades preferidas. Cantar, brincar na piscina e jogar no celular. Perto das gêmeas, entusiasmado, o pai das meninas celebrou o sucesso da recuperação.
“Para nós, ver o desenvolvimento que elas estão hoje é uma alegria imensa. Agora, é curtir com elas bastante. Nosso coração está bem cheio e grato. Hoje, elas estão individuais”, destaca Fernando de Oliveira.
Família das gêmeas Heloá e Valentina, separadas após cirurgia em Goiânia
Michel Gomes/g1 Goiás
Zacharias Calil avalia o caso como uma realização profissional e reforça que as meninas foram acompanhadas por equipes de várias especialidades. Agora, as gêmeas continuam sendo monitoradas, mas em menor frequência e cada vez mais independentes.
“Antes elas estavam vindo semanalmente, quinzenalmente, mensalmente e agora trimestralmente. Já podem frequentar a escola. Já estão tendo uma atividade muito boa, principalmente do ponto de vista de independência. Cada uma está seguindo o seu rumo da maneira que achar melhor”, detalhou.
Primeiro dia de aula
Gêmeas Heloá e Valentina vão à escola pela primeira vez um ano após cirurgia de separação
As meninas foram à escola pela primeira vez em fevereiro deste ano (assista vídeo acima).
“Elas amaram, chegaram entrando na escola, já foram pra salinha, sentaram e começaram a conversar com a professora. Elas nem choraram. É o que elas queriam, sempre elas ficavam pedindo para mim, porque viam a irmãzinha delas indo”, contou Waldirene Prado, mãe das meninas.
Gemêas Heloá e Valentina, separadas em Goiânia, Goiás
Arquivo Pessoal/Waldirene Prado
O primeiro dia de aula das pequenas aconteceu após elas ganharem uma bolsa de estudos em Morrinhos, no sul de Goiás. Ao g1, Waldirene contou que as filhas amaram a escola e se divertiram, o que emocionou a família.
“O momento tão esperado chegou, a emoção foi a mil de saber que a gente tá ali realizando o sonho delas”, contou.
Emocionada, a mãe disse que a dona da escola a encontrou em um supermercado, ofereceu o estudo totalmente gratuito e emocionou a todos.
“Foi uma emoção que arrepio e o coração bate forte, Deus é maravilhoso, a gente tem que ter fé, que nada é por acaso, vem de Deus”, celebrou.
Tratamento gratuito
Zacharias Calil durante homenagem no Hecad, em Goiás
Reprodução/Gabriel Botelho
Por fazer parte do Sistema Único de Saúde (SUS), o tratamento das meninas foi gratuito. Mônica Ribeiro Costa, diretora do Hecad, ressaltou que a cirurgia só pôde ser feita por conta da boa infraestrutura hospitalar, que depende de múltiplas especialidades médicas, equipamentos, materiais, medicamentos, e com apoio de unidade de terapia intensiva.
“Temos um hospital capaz de modificar o cenário da pediatria goiana, porque é um hospital bem complexo e tem capacidade de atendimento de uma boa parte da pediatria em Goiás. O Hecad hoje tem abrangência nacional, particularmente nessa área da separação de siameses”, detalhou.
Siamesas separadas em hospital de Goiânia, Heloá e Valentina, em Goiás
Divulgação/Zacharias Calil
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