Aos 13 anos, menino com autismo lança livro que escreveu ainda criança e participa de bienais na Bahia e em São Paulo: ‘Me sinto realizado’


‘O dinossauro azul’ é uma história infantil de ficção que retrata amizade e superação de medos. Conheça o estudante Vitor Oliveira, de Divinópolis. Menino com autismo lança livro nas bienais do livro na Bahia e em São Paulo
Flávia Oliveira/Arquivo Pessoal
Os diagnósticos de Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) ainda criança não foram obstáculos para o morador de Divinópolis Vitor Oliveira, de 13 anos, que está prestes a lançar oficialmente seu primeiro livro.
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A versão digital de “O Dinossauro Azul”, fará parte da Bienal do Livro Bahia, que vai de 26 de abril até 1º de maio. Em julho, a versão física do livro será lançada em Divinópolis. Em setembro, Vitor participa da Bienal Internacional do Livro de São Paulo como convidado.
“Eu me sinto muito realizado e feliz. Eu não esperava isso acontecer tão rápido, com apenas 13 anos”, disse o garoto.
“O Dinossauro Azul” conta a história de um dinossauro solitário que, ao chegar em uma ilha completamente deserta, sentiu o desejo de fazer ali o mundo dele.
Então, criou tudo que pudesse existir na ilha. Criou todos os animais, os quais ele transformou em amigos. A história retrata aproximação, amizade e superação de medos.
“De forma inconsciente, o Vitor explanou a vida do autista, que tem muita dificuldade de socialização, está sempre sozinho, e às vezes cria amigos imaginários e o mundo deles transcorre ali. O Vitor criou seus amigos através do livro. O personagem central é porque ele sempre gostou muito de dinossauros. Ele se colocou ali e refletiu o que ele gostaria de viver dentro da história”, explicou a mãe, Flávia Oliveira.
Vitor sempre foi apaixonado por leitura e artes; os dinossauros são seus personagens favoritos
Flávia Oliveira/Arquivo Pessoal
Apaixonado pela leitura e com alto nível de desempenho para artes, Flávia conta que Vitor sempre gostou de ouvir histórias e isso foi o que estimulou a escrita.
“O amor do Vitor pela leitura, eu acho que é desde o ventre, porque eu sou aficionada por leitura, sempre li muito, vorazmente, tanto para ele, quanto para meu filho mais velho de 28 anos. Lia para eles ainda na barriga, lia para eles no berço, na hora de dormir”.
“E quando Vitor foi alfabetizado, ele nunca mais parou de ler, então a rotina de leitura e o amor dele pela literatura é muito grande e é desde sempre”, completou.
Vitor tinha sete anos quando escreveu “O Dinossauro Azul”. Ele fez uma espécie de livretinho em cartolina, onde escreveu a história e ilustrou.
Na ocasião, Flávia teve a ideia de transformar a história em livro, mas os planos não foram adiante e, por anos, o livrete ficou guardado em uma pasta.
Recentemente, ela foi tocada novamente pelo desejo de fazer da história uma obra literária.
“Quando a ONG Céu Azul, onde ele é assistido, começou os trabalhos para publicar o livro dela, veio no meu coração o desejo de publicar o livro dele também. E conversando com algumas editoras, uma me chamou muita atenção por causa do acolhimento, da atenção. Como a gente nunca tinha escrito nada, eu precisava de alguém que me pegasse pela mão e me ensinasse o caminho. E a Editora História de Sonhos fez isso. Então, ano passado, a gente voltou a conversar e o livro saiu”, relembrou.
Os preparativos para publicação começaram com uma espécie de revisão da obra, já que ela foi escrita há seis anos.
“Ele releu o que ele tinha feito aos 7 anos e deu uma aprimorada. Não foi nem em relação à linguagem, porque continuou com a linguagem infantil. Mas ele explorou mais o tema e redesenhou, porque os traços mudaram. Ele gosta de falar que revisitou o livro. Refez as ilustrações à mão, desenhou, pintou tudo com aquarela. É tudo dele, de capa a capa, tanto escrita quanto desenho e pintura”.
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Diagnóstico de autismo e superação
Menino autista de Divinópolis escreve e lança livro dos 13 anos de idade
Conhecedor da própria história pelo olhar generoso da mãe, Vitor relembra que os primeiros anos de vida foram difíceis.
“Eu não falava, não andava, não tinha noção de perigo”, disse.
Vitor Oliveira, morador de Divinópolis, escreveu o livro aos 7 anos de idade e reeditou aos 13
Flávia Oliveira/Arquivo Pessoal
Hoje, a identificação de atrasos no desenvolvimento podem levar rapidamente ao diagnóstico do TEA, e assim são iniciadas intervenções comportamentais para evolução cognitiva, motora e verbal.
No entanto, há 10 anos, a situação era bem diferente e foi o maior baque que Flávia sofreu na vida. Diante do cenário apresentado, ela nunca imaginou que o filho pudesse estar como hoje.
“Eu nunca imaginei que ele se devolveria tanto. Pelo contrário, eu sempre achei que ia ter muita dificuldade para conseguirmos conquistar as coisas e não foi por não acreditar nele, é porque eu não tinha informação nenhuma. Até o diagnóstico, eu nunca tinha ouvido falar em autismo na minha vida”.
“Portanto, não podia jamais imaginar que uma criança autista, determinada como deficiente, pudesse alçar voos tão altos. Ver ele hoje, nesse nível de desenvolvimento, lendo, escrevendo, desenhando e lançando livro, é nossa maior realização. Me sinto extremamente grata”, finalizou Flávia.
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