‘Aprendi a mascarar no decorrer da minha vida’, conta empresária diagnosticada com o autismo aos 30 anos


“Você não procura um diagnóstico se não estiver enfrentando um problema”. Consultora financeira de Juiz de Fora conversou com o g1 sobre o processo da descoberta tardia do espectro. Astrid descobriu o TEA aos 30 anos
Arquivo Pessoal
“Eu sou uma mulher autista, pode não parecer para você, mas eu aprendi a mascarar no decorrer da minha vida”. É assim que Astrid Lacerda compartilhou com seus seguidores, em um vídeo postado nas redes sociais, o diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista (TEA).
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Com o espectro identificado aos 31 anos, a empresária e educadora financeira, que atualmente mora em Juiz de Fora, conversou com o g1 sobre a angústia e alívio do processo da descoberta tardia.
“Você fica em um limbo até o diagnóstico”
Astrid contou que o questionamento sobre o autismo foi pauta durante um ano na terapia, até que um dia levou a dúvida para a psiquiatra. “Cheguei para a médica e perguntei se eu não tinha autismo. Ela parou, me olhou, fez algumas perguntas e me encaminhou para um neuropsicólogo”.
O processo de avaliação durou três meses.
“É exaustivo e angustiante. Você fica em um limbo até o diagnóstico”.
Quando recebeu a confirmação do TEA, Astrid disse que entrou em uma crise existencial, afinal passou 30 anos sem saber da condição: “Se eu mascarei isso a vida inteira, quem eu sou? Mas com o tempo, entendi e aceitei que percebo de outra forma o mundo.”
Astrid Lacerda foi dignosticada com autismo somente aos 31 anos
Arquivo Pessoal
E, mesmo com a aceitação e o alívio da descoberta, o sentimento de culpa persiste:
“Questiono ‘será que sou autista o suficiente?’ Acredito que esse é o problema que passa na cabeça da maioria dos adultos que descobrem o espectro, principalmente das mulheres.”
Agora diagnosticada e usando cordão de girassol, destinado a identificar pacientes com doenças ou síndromes ocultas, ela diz conseguir realizar tarefas antes consideradas difíceis.
Inclusive ir ao mercado, já que o barulho, a movimentação, o tempo de espera na fila do caixa e contato com outras pessoas a incomodavam. Hoje, tem a possibilidade de usar a fila preferencial e, para lidar melhor com o barulho de clientes, autofalantes e da rotina do ambiente, utiliza protetores de ouvidos.
As adaptações para lidar melhor com o espectro são postadas por ela nas redes sociais.
Subnotificação do autismo
A psicóloga Luana Marçal explicou que a subnotificação do TEA ocorre principalmente pela falta de conhecimento sobre as características do autismo e pela complexidade do diagnóstico, especialmente na fase adulta e na adolescência, sendo mais difícil quando são autismos nível 1 de suporte, como no caso da Astrid.
“Além disso, é quase inacessível para grande parte da população. No caso do SUS, o processo do diagnóstico pode demorar ainda mais para ser realizado.”
Importância do diagnóstico ainda na infância
A psicológa destaca que o diagnóstico na infância permite o tratamento precoce, porque nesse momento a criança tem mais flexibilidade cognitiva, então é mais fácil mudar e desenvolver alguma habilidade que não está de acordo com o desenvolvimento típico.
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Astrid acha que, se tivesse recebido o diagnóstico na infância ou adolescência, poderia ter evitado passar por traumas.
“Meu prejuízo sempre foi a maneira como eu me comunicava com o mundo”, explica ela, que relembra o fato de não conseguiur filtrar o que dizer ou não quando criança. Em função disso, também não entendia o porquê das pessoas terem reações avertsas às suas atitudes: “Sofri muito bullying por isso na escola. Sempre me senti muito isolada de tudo ao meu redor”.
Acostumada a dar palestras sobre educação financeira, empresária também passou a falar sobre o autismo nas redes sociais
Arquivo Pessoal
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