Piracicaba registra maior número de estupros em seis anos em 2023; entenda motivos da alta


Para especialista, cultura do machismo, mudança em legislação e maior número de mulheres denunciando diante de um cenário de subnotificação são fatores que influenciam em aumento de 25,9%. Viatura da Romu em frente à DDM de Piracicaba
Divulgação/ GCM de Piracicaba
O número de casos de estupro em Piracicaba (SP) teve um aumento de 25,9% na comparação entre 2022 e 2023. A alta foi de 27 para 34 ocorrências. É o maior número em seis anos. Os dados são da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP).
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O último ano com maior número de crimes do tipo foi 2017, quando foram registrados 37. Veja no gráfico abaixo:

Embora seja a mais populosa, a metrópole não é a cidade com o maior número de estupros. Limeira (SP) registrou a maior quantidade de casos no último ano, com 59. Uma queda de 7,8% em relação ao ano anterior. Na sequência, aparece Cosmópolis (SP), com 26.
Na região, a única cidade que não teve registros desse tipo de crime em 2023 foi Rafard.

Quando não são contabilizados os estupros de vulnerável no cálculo, o aumento na região foi de 53,3% em relação aos outros tipos de estupros.
Por que aumentou? 📈
Para a advogada Thais Cremasco, cofundadora do coletivo Mulheres Pela Justiça, que atua gratuitamente para mulheres vítimas de violência doméstica, diferentes fatores estão ligados ao aumento nos casos de estupro:
Subnotificação e mulheres denunciando mais
A advogada destaca que o estupro é um crime subnotificado, ou seja, no qual muitos crimes não são denunciados. “Se no Brasil a gente fala que a cada da oito minutos uma mulher é estuprada, existem estudos que apontam que a cada dois minutos uma mulher é estuprada”, exemplifica.
“Esse número que tá aparecendo ainda é um número que não é real, os estupros são muito maiores do que esse, os números de estupros são muito maiores do que esse. Então, essa posição de entender que existe uma subnotificação, para mim, é um ponto muito importante.
Segundo ela, um dos motivos do aumento é que, em meio a essa subnotificação, as vítimas estão tomando consciência da importância de denunciar e denunciando mais.
Mudança na legislação
Outro ponto citado por Thais é que houve uma mudança na legislação em relação ao que é considerado estupro.
“Antigamente, para que se fosse considerado um estupro, era necessário que houvesse conjunção carnal [penetração]. Hoje, qualquer ato que é feito sem consentimento da outra parte, sem a concordância da outra parte, de forma violenta, ainda que não haja penetração, é considerado estupro”, explica.
A alteração na lei aconteceu em 2009, mas a especialista avalia que até hoje não foi assimilada pela sociedade.
Cultura do machismo
Thais lembra que o estupro é um crime antigo, que sempre existiu para subjugar as vítimas e cresce quando elas tentam resistir.
“Então, quanto mais a mulher luta por igualdade, quanto mais a mulher de alguma forma busca não aceitar essas violências, também vai existir um movimento contrário do próprio machismo, do próprio patriarcado, de querer continuar subjugando mulheres”.
“O estupro sempre vai aumentar porque sempre vai existir violência contra os nossos corpos. Mas também é muito importante que a gente saiba que as mulheres ainda não denunciam o suficiente. Existem muitos estupros que ainda não são levados às autoridade policial”.

Como poder público e instituições devem atuar? 📢
A especialista aponta que é importante que exista uma conscientização de toda sociedade sobre os maus desse tipo de violência.
“Há necessidade de existir políticas públicas informativas. Tem pessoas que não sabem que foram estupradas […] Estupro marital é um clássico. Uma mulher que é casada, ela não reconhece que foi estuprada e a lei já determina que existe estupro marital”.
Por isso, ela também aponta a necessidade de se conscientizar as pessoas para que elas reconheçam que sofrem aquela violência.
“O próprio agressor muitas vezes também não reconhece que que cometeu um estupro, então é muito importante que tenha informações para que as pessoas entendam o que é e como praticou, porque parece impensável, mas muitas pessoas não sabem que foram vítimas e nem que praticaram um estupro”.
Como a vítima deve proceder? 🚨
A advogada indica que é importante que a vítima busque mecanismos que o estado fornece, como centros de referência e Delegacias de Defesa da Mulher (DDM).
Em Piracicaba, esse tipo de serviço é prestado pela rede municipal através do Centro de Referência de Atendimento à Mulher (Cram).
“Depois, criar uma rede de apoio familiar, mas de pessoas que entendam o que é aquela violência. Buscar amigas, buscar familiares que vão ajudar a mulher a sair daquela lógica de violência. Isso se for um caso de violência doméstica. Se for qualquer tipo de estupro, a orientação é rede de apoio, delegacia, Patrulha Maria da Penha”.
Outros crimes
O balanço de 2023 da SSP-SP também mostra que houve aumento nos casos de homicídio culposo – sem intenção de matar – por acidente de trânsito (alta de 21,9%), de lesão corporal dolosa – com intenção – (7,8%) e furto de veículo (5,8%).
Por outro lado, houve queda de 17,4% nas tentativas de homicídio, de 50% nos casos de latrocínio e de 2,3% nos roubos de veículo. Veja o balanço no quadro abaixo:
Estatísticas criminais da região de Piracicaba em 2022 e 2023
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