Polícia prende suspeito de assassinar angolano por xenofobia na Zona Leste de SP, em 2020


O assassinato ocorreu na madrugada de 17 de maio de 2020, em um bar, onde três angolanos irmãos foram atacados pelo suspeito após uma discussão. Frentista angolano João Manuel, de 47 anos, morreu esfaqueado em Itaquera na madrugada deste domingo (17) em ataque com motivação xenofóbica, segundo testemunhas
Arquivo pessoal
A polícia prendeu o homem suspeito de matar o angolano João Manuel, 47 anos, em Itaquera, Zona Leste de São Paulo, por xenofobia e racismo, em 2020. O suspeito de 52 anos foi preso em um bar em Artur Alvim, no último dia 15.
João Manuel era frentista e foi agredido com golpes de faca na Rua 18 de Abril.
O acusado está preso preventivamente e foi indiciado por homicídio doloso duplamente qualificado. O caso vai a júri, em 22 de abril, no Fórum Criminal da Barra Funda.
“Três anos foragido e mesmo depois que foi emitido o mandado de prisão, as outras vítimas falaram que avistaram ele no Metrô, ali na região, na Zona Leste, ou seja, ele continuou ali livre, leve e solto”, disse Karina Quintanilha, advogada e doutoranda em Sociologia pela Unicamp.
O assassinato ocorreu na madrugada de 17 de maio de 2020, em um bar, onde três angolanos irmãos foram atacados pelo homem após uma discussão. João Manuel sofreu os primeiros ataques e morreu ainda no bar. Os dois irmãos ficaram feridos, mas sobreviveram.
Segundo a advogada, as vítimas, após o episódio, passaram a se sentir inseguras.
“[Um deles] falou que não se sentia seguro aqui, que o Estado brasileiro não foi capaz de garantir os direitos dele. Então, não teve até o momento nenhuma reparação às vítimas”, afirmou Quintanilha.
Após o crime, o suspeito chegou a ser reconhecido por testemunhas e prestou depoimento na delegacia, mas não foi preso. Quando depôs, admitiu que já tinha assassinado outro homem em um bar na Bahia, mas que saiu impune.
À época do crime, a congolesa Hortense contou que as agressões e ameaças a imigrantes africanos tornaram-se comuns na área conhecida como Cidade Antônio Estêvão de Carvalho nos últimos meses. Membro do Conselho Municipal de Imigrantes de São Paulo, Hortense morou por cinco anos no bairro. Após ameaças, ela abandonou sua casa há cerca de dois meses e se mudou com a família.
Corpo do frentista João Manuel é levado para perícia após ataque a facas em Itaquera, Zona Leste de SP
Arquivo pessoaol
Xenofobia em SP
A congolesa Hortense morou no bairro em que ocorreu o crime por cinco anos até se mudar, em fevereiro, após casos de violência contra imigrantes. Ela deixou para trás móveis e muito do que juntou desde que chegou no Brasil porque temia as ameaças que ela e sua família recebiam no bairro.
A Cidade Antônio Estêvão de Carvalho fica em Itaquera, na Zona Leste, e é conhecida por ter uma grande comunidade de imigrantes africanos, entre congoleses, angolanos e camaroneses.
“Eu saí de lá fugindo de insegurança porque meu marido era alvo de ameaças de morte. Eu percebi que nasceu um ódio no bairro, as pessoas falavam na cara que a gente tem que voltar pro nosso país”, afirma Hortense.
“Até os motoristas de ônibus mostravam esse preconceito. Tem uma linha que sai do metrô Arthur Alvim que chama Conj. A. E. Carvalho, é o número 2727-10. A gente às vezes faz sinal e eles passam reto os ônibus”, conta Hortense.
Segundo Hortense, a situação se agravou depois que seu marido foi assaltado na rua onde morava. Ele passou a ser seguido ao voltar do trabalho. Em janeiro, um imigrante que frequenta a mesma igreja que Hortense foi espancado após sair do local, pouco depois de se distanciar do grupo.
“Eu perdi quase tudo da minha casa, peguei só mesmo o necessário. Ficou difícil pra gente achar uma casa de emergência porque precisava de um caução para o aluguel. A gente ainda não se sente seguro, mas pelo menos é melhor pra voltar a noite”, afirma.
Adicionar aos favoritos o Link permanente.