Rede estadual de Campinas tem 12,8 mil afastamento de professores por problemas de saúde mental em 10 anos

De acordo com dados da Secretaria de Estado da Educação, transtornos mentais e comportamentais respondem por 37% dos afastamentos entre 2014 e 2024. A rede estadual de ensino de Campinas (SP) teve 12,8 mil afastamentos de professores por problemas de saúde mental nos últimos 10 anos. É o que mostram dados da Secretaria de Estado da Educação (Seduc-SP), obtidos com exclusividade pelo g1 via lei de acesso à informação.
Segundo o levantamento, os transtornos mentais e comportamentais respondem por 37% das licenças médicas deferidas para docentes entre 2014 e 2024, superando todas as outras doenças (veja mais detalhes nos gráficos abaixo).
Afastamentos de professores por licenças médicas de 2014 a 2024: 34.399
Total de afastamentos por problemas de saúde mental: 12.849 ou 37% do total
A reportagem aguarda um posicionamento da Secretaria de Estado da Educação (Seduc) sobre o assunto.
Abaixo, nesta reportagem, você vai ler:
Motivos de afastamento médico nos últimos 10 anos
O que está por trás dos afastamentos
Quando o professor deve buscar ajuda
Motivos de afastamento médico nos últimos 10 anos
Foram, em média, 1,2 mil licenças médicas por problemas de saúde mental a cada ano. O pior índice foi registrado em 2018, quando chegou a 1,5 mil. Durante a pandemia da Covid-19, quando as aulas presenciais foram suspensas, o número atingiu o patamar mais baixo.

Os dados levam em consideração as licenças deferidas após a realização de perícia médica. Segundo a Secretaria do Estado da Educação, os motivos de afastamento são definidos conforme os capítulos da Classificação Internacional de Doenças (CID-10).
O levantamento não detalha quais foram as doenças mais frequentes no período. No entanto, os números podem incluir depressão, ansiedade, entre outros transtornos mentais e comportamentais que integram o capítulo V do CID.

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Os problemas de saúde mental prevaleceram como principais causadores de afastamento entre docentes em todos os anos analisados. Na sequência ficaram as doenças do sistema osteomuscular e tecido conjuntivo – como problemas em ossos, músculos, articulações, ligamentos e tendões.
O terceiro motivo mais frequente está ligado ao capítulo XXI do CID, que se refere aos “fatores que influenciam o estado de saúde e o contato com os serviços de saúde”. Ele inclui situações em que o paciente utiliza serviços médicos, como consultas, exames e acompanhamentos terapêuticos.
Outras razões de afastamento foram:
Anormalidades de exames clínicos e de laboratório, não classificados – 933
Doenças do aparelho geniturinário – 685
Doenças do sistema nervoso – 609
Gravidez, parto e puerpério – 307
Doenças do ouvido e da apófise mastóide – 282
Códigos para propósitos especiais – 267
Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas – 172
Doenças da pele e do tecido subcutâneo – 158
Doenças do sangue e dos órgãos hematopoéticos e alguns transtornos imunitários – 65
Causas externas de morbidade e de mortalidade – 32
Malformações congênitas, deformidades e anomalias cromossômicas – 5
O que está por trás dos afastamentos
A psicóloga Ana Paula Bonilha, da PUC-Campinas, avalia que as áreas profissionais ligadas ao cuidado, como a educação e a saúde, normalmente estão ligadas a jornadas longas e que exigem um manejo mental maior, o que pode explicar o alto índice de afastamento por problemas psicológicos.
“Professores, às vezes, dão aula de manhã, de tarde e de noite. E não é um trabalho de uma elaboração simples. Imagina que para cada hora que o professor tem que dar aula na sala de aula, ele estudou duas, três horas. Ele leu um texto, ele buscou um livro, ele buscou uma referência, né?”, comenta.
Acredita também que a população tem prestado mais atenção à saúde mental e isso pode tornar esse tipo de afastamento mais comum. Um levantamento feito pelo g1 mostrou que o país registrou em 2024 o maior número de afastamentos por problemas de saúde mental em dez anos.
“Temos olhado com um pouco mais de atenção para fatores como excesso de trabalho no dia a dia, fazer duas, três tarefas ao mesmo tempo, mas eu acredito que a gente sempre sofreu em relação a isso. Eu não acho que é uma coisa nova. O sofrimento vindo do trabalho sempre existiu”, destaca a especialista.
Quando o professor deve buscar ajuda?
A psicóloga diz que é preciso estar atento a sinais de que a saúde mental não vai bem e, com isso, reconhecer que é hora de buscar ajuda. “A primeira coisa que a gente faz é falar para a pessoa se olhar, eliminar todas as questões fisiológicas. Se foi no médico, a glicemia está bem, a pressão está boa, mas continua se sentindo mal, pode ter fundo emocional, sim”.
Entre os principais alertas estão:
dores de cabeça constantes
taquicardia;
distúrbios do sono;
alterações nos hábitos alimentares (comer mais ou comer menos).
Nesses casos a recomendação é buscar pela psicoterapia e, na medida do possível, tentar encontrar qualidade de vida. “É inerente da área essa correria, essa pressão. A gente percebe isso no dia a dia. A dica é, além da ajuda psicológica, buscar atividades físicas, técnicas de respiração e outras práticas de bem-estar”.
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