Os impactos do consumo abusivo de álcool dentro de comunidades indígenas no Amazonas

A situação mobilizou caciques de diferentes territórios, que se reuniram para discutir a questão e apresentar suas demandas à presidente da Funai, Joenia Wapichana. Alcoolismo em terras indígenas: comunidades denunciam impactos e cobram apoio
O Profissão Repórter percorreu duas terras indígenas para entender de perto os impactos do consumo abusivo de álcool dentro dessas comunidades. A reportagem esteve no Alto Solimões, no Amazonas, onde vive o povo Ticuna, o maior da Amazônia brasileira.
A proximidade com centros urbanos trouxe desafios que ameaçam a comunidade, e o avanço do alcoolismo se tornou um dos principais problemas. A situação mobilizou caciques de diferentes territórios, que se reuniram para discutir a questão e apresentar suas demandas à presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana.
“A corrente que a Funai defende é que parte da decisão da própria comunidade de proibir. E tem indígena de recente contato que é vedado completamente, por conta do tempo de relação com outros membros da sociedade, que torna ele uma situação de vulnerabilidade maior e riscos maiores”, afirma Joenia Wapichana – presidente da Funai.
Na comunidade indígena de Filadélfia, a equipe ouviu relatos de mulheres que enfrentam a dependência do álcool dentro de casa.
“Eu tenho um esposo que bebe, sofro muito com isso. Quando ele sai sexta-feira, ele volta só quando está muito bêbado já, xinga, briga comigo. Eu sofro, eu que vou buscar a minha comida, correr atrás para me sustentar e sustentar a minha família. Me sinto sozinha”, relata uma indígena.
A violência dentro das aldeias também preocupa. Luciano Arcanjo, um jovem recém-operado, contou que foi atacado brutalmente por um homem embriagado. Uma garrafada perfurou seu intestino, e ele precisou passar por uma longa cirurgia.
“Eu estava só passando a ponte e ele brigou com outras pessoas e pensava que era eu. Ele estava bêbado, acho. Quebrou a garrafa e tacou em mim”, diz o estudante Luciano Arcanjo.
Uma moradora revelou à equipe que há um bar na comunidade que leva bebida para a população. A reportagem conversou com o dono do estabelecimento.
“Eu vendia bebida, mas, como disseram que era para parar, eu parei de vender”
Impactos para os jovens
Profissão Repórter visita ponto de consumo de álcool e drogas em comunidade indígena no AM
A equipe também visitou um ponto de consumo de álcool e drogas, onde encontrou dezenas de garrafas de cachaça espalhadas pelo chão. Veja no vídeo acima.
Alguns jovem se escondem das câmeras e apenas os mais velhos decidem com a reportagem, mas sem mostrar o rosto.
“No sábado, ficam bebendo tranquilos aqui”, diz um homem.
“Hoje, esses que estão aqui, estão comprando lá na cidade. Estão trazendo para cá, estão curtindo. Eu estava bebendo água ardente”, comenta outro.
“Como a bebida aqui é muito barata, eles têm acesso fácil e é por isso que aqui toda manhã eles vem para cá, infelizmente, consumir essas bebidas alcoólica”, destaca a monitora do grupo de jovens, Ana Paula Kampos.
Ana faz parte do grupo de jovens da aldeia de Umariaçu desde 2012. Há dois anos, ela viveu de perto os impactos da dependência de álcool, quando o irmão mais novo tirou a própria vida. O irmão dela estava tentando parar de beber.
“Meu irmão começou a beber muito novo. Ele foi se isolando, até que um dia… ele tirou a própria vida”, diz Ana – líder do grupo de jovens.
“Ele se escondia das pessoas que viam chamar ele. Ele falava: ‘não fala que eu estou aqui’. Ai o pessoal dava a volta e via que ele estava em casa e chamavam ele, aí ele ia”.
Na comunidade de Filadélfia, uma psicóloga atende jovens da região.
“Eu trabalho com prevenção. A gente conversa sobre isso, porque vem o alcoolismo, o que leva o alcoolismo na família para ele reconhecer”, explica a psicóloga Maria do Carmo Azevedo.
Adronildo Fernandes, de 23 anos, luta diariamente contra o alcoolismo e relata as dificuldades de abandonar o vício. Nos momentos de tristeza, as recaídas se tornam mais frequentes.
“Às vezes eu fico triste e me dá essa vontade de beber de novo, mas eu falo que não”.
Veja a íntegra do programa abaixo:
Edição de 18/03/2025
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