Idoso espancado por motorista de Porsche reage habeas corpus obtido por agressor: ‘Revoltado’


Richard Henrique Julião, de 21 anos, agrediu a vítima após ela e outros moradores solicitarem que ele parasse de acelerar o carro, devido ao barulho excessivo, em Praia Grande (SP). Jovem obteve um habeas corpus em 7 de março e, por isso, não é mais considerado foragido da Justiça. Richard Henrique Julião (à esq.) agrediu Argemiro Soares (à dir.) até idoso perder a consciência em Praia Grande (SP)
Redes sociais e Arquivo pessoal
Argemiro Soares da Silva, o idoso de 78 anos espancado pelo motorista de uma Porsche em Praia Grande, no litoral de São Paulo, disse ter se revoltado ao saber que o agressor responderá em liberdade. Havia um mandado de prisão expedido contra Richard Henrique Julião, de 21 anos, mas a defesa do agressor conseguiu um habeas corpus. Por isso, ele não é mais considerado foragido.
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Argemiro foi atacado por Richard após pedir para que ele parasse de acelerar o carro de luxo, pois o barulho estava incomodando os moradores de um prédio localizado na Avenida Presidente Castelo Branco, no bairro Aviação, no dia 12 de fevereiro.
Um dia após as agressões, o juiz Felipe Esmanhoto Mateo, da Vara do Júri, Execuções, Infância e Juventude de Praia Grande, emitiu um mandado de prisão temporária contra Richard. O documento era válido até 13 de março, mas no dia 7 o Tribunal de Justiça concedeu o habeas corpus para ele responder em liberdade.
“Mesmo se ele fosse preso, ele não ia ficar lá muito tempo. Eu já esperava isso, mas, para ele, tudo bem, porque o advogado entrou com um habeas corpus e o juiz aceitou. A gente fica meio revoltado, mas não dá para fazer nada”, relatou Argemiro.
Motorista de Porsche (à esq.) espancou idoso (à dir.) em Praia Grande, SP
Redes Sociais, Reprodução e Arquivo Pessoal
Para o idoso, a decisão é um reflexo do sistema da Justiça brasileira. Argemiro confessou que as expectativas de que o jovem permanecesse preso eram baixas, mas ainda tinha esperanças dele ficar detido por algum tempo.
“A minha expectativa era de que ele fosse preso, mas que ele ia ficar lá eu tinha minhas dúvidas. Porque, às vezes, tem coisas semelhantes ao que ele praticou, [o responsável] vai lá, fica uma semana e no máximo 10 dias e depois a lei libera ele”, completou.
Prejuízo físico e emocional
À época em que as agressões aconteceram, o aposentado afirmou que ficou com dores no corpo, principalmente nas costelas e costas. Ele também teve hematomas na cabeça, rosto, nariz e olho.
Argemiro considera ter se recuperado de 90% dos ferimentos após um mês do episódio violento, mas revelou ter ficado com uma sequela: uma dor de cabeça persistente, que muitas vezes não vai embora com medicamento. “Você toma remédio, remédio e não resolve”, contou.
Aposentado, de 78 anos, foi agredido por motorista de veículo de luxo em Praia Grande, SP
Arquivo Pessoal
Ele definiu os danos psicológicos deixados por Richard como razoáveis, mas pensa em processar o agressor por danos morais. Sobre as acusações de que Richard teria agredido a ex-namorada grávida, o aposentado ficou surpreso.
“Para mim foi surpresa, porque um rapaz novo, com tanta besteira que ele já fez na vida. Eu não esperava que ele era isso, não. Se eu sei, eu nem perto dele tinha chegado”, lamentou.
Argemiro disse que esperará que a Justiça seja feita, mas acredita que seja muito difícil. Segundo ele, uma pessoa só vai presa no Brasil quando tira a vida de outra e, ainda assim, fica presa por pouco tempo.
“Essa nossa lei do Brasil não funciona normalmente, não”, afirmou. “Nossa esperança nunca deve perder, mas com essa nossa lei eu não acredito que ele vai pagar por isso. Porque já tem coisa que ele fez e estava na rua, né?”.
Ao g1, o advogado criminalista e professor de direito penal Matheus Cury, que não tem relação com o caso, explicou que o Ministério Público pode recorrer da decisão que concedeu o Habeas Corpus no Superior Tribunal de Justiça (STJ), “mas é difícil, porque pela lei não existe recurso próprio contra concessão de Habeas Corpus”.
Responde em liberdade
Idoso é espancado após pedir para motorista de Porsche parar de acelerar
O advogado de Richard Henrique Julião, Raphael Abib, alegou que o cliente está escondido para preservar a própria vida após sofrer ameaças nas redes sociais. Conforme apurado pelo g1, o veículo de luxo foi encontrado, mas o agressor – que fugiu à capital paulista – não foi mais visto.
Abib afirmou que não há previsão, mas pretende apresentar Richard na Delegacia de Investigações Gerais (DIG) para prestar esclarecimentos à polícia.
“Não se apresentou porque tinha mandado de prisão expedido. Agora, que foi concedida a liberdade, ele se apresentará no momento oportuno”.
Ele disse que não irá expor a linha de defesa, pois aguarda o encerramento do inquérito policial e a denúncia do Ministério Público (MP) para apresentar a defesa de forma técnica. No entanto, afirmou que não foi o cliente que deu início à violência.
O advogado disse que não sabe informar o paradeiro de Richard e prefere não saber, como forma de segurança do cliente. “Richard encontra-se reservado para preservar sua própria vida. Basta entrar nos comentários das postagens que poderá ver as diversas ameaças”.
Fuga
Conforme apurado pela TV Tribuna, afiliada da Globo, a Polícia Civil usou as câmeras de monitoramento para acompanhar a fuga de Richard, que seguiu em direção à capital paulista após o crime.
O Porsche dele foi encontrada pela Polícia Civil suja e estacionada na garagem de um prédio na Rua Jorge Augusto, na Vila Centenário, na zona leste da capital, no dia 14 de fevereiro. Embora o veículo de luxo tenha sido encontrado, o agressor não estava no local.
Polícia encontra Porsche de motorista que espancou idoso e ex-namorada grávida
A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) informou que Richard poderá responder pelo crime de tentativa de homicídio com quatro qualificadoras: motivo fútil, meio cruel, impossibilidade de defesa da vítima e o fato do agredido ter mais de 60 anos.
Imagens
Como é possível ver nas imagens, o motorista estava acompanhado de um passageiro na Porsche, um motociclista e ao menos dois ocupantes em outro carro.
Imagens mostram motorista de Porsche fugindo após espancar idoso
Mulher que filmou o crime revela impotência: ‘Era algo agoniante’
O grupo ficou com os veículos estacionados em um ponto de ônibus por alguns minutos. Em seguida, o motorista da Porsche fez uma conversão proibida na avenida e parou em frente ao prédio para discutir com os moradores que reclamavam do barulho.
Novas imagens mostram motorista de Porsche fugindo após espancar idoso
Ainda no vídeo, o condutor do veículo de luxo saiu do carro e jogou um chinelo em Argemiro, que devolveu o objeto da mesma forma. “Ele (agressor) falou que com mendigo não queria conversar. Jogou um chinelo em mim para eu colocar no pé”, explicou o idoso.
Argemiro pegou uma espécie de azulejo e ameaçou jogar na Porsche. Neste momento, o motorista foi em direção ao idoso e desferiu diversos socos contra ele, que caiu na calçada e continuou sendo espancado.
Uma multidão se formou para separar a briga e o idoso chegou a levantar, mas foi novamente derrubado, desta vez por outro homem, que ainda não foi identificado. Argemiro foi atingido pelo motorista com um forte chute na cabeça e perdeu a consciência no meio da avenida.
Por fim, é possível ver o agressor voltando para a Porsche e fugindo do local.
Outros crimes
Ex-namorada, mãe do filho de Richard, o acusou de cometer agressões durante o relacionamento
Redes sociais e Arquivo pessoal
Richard já foi denunciado por agredir a avó e a ex-namorada grávida, além de ter sido alvo de investigações por associação criminosa, estelionato e lavagem de dinheiro. Conforme apurado pelo g1, há ao menos quatro boletins de ocorrência registrados contra ele.
Confira as denúncias registradas na Polícia Civil contra o motorista:
Agressões contra a ex-namorada
Associação criminosa, estelionato e lavagem de dinheiro
Lesão corporal contra a avó
Desacato e carro apreendido
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