Vídeo mostra sapos se alimentando de abelhas com ferrão


Anfíbios predam diversas presas venenosas e fecham os olhos para ajudar a ‘empurrar’ o alimento para a garganta. Vídeo mostra sapos se alimentando de abelhas com ferrão
Dois sapos cururus (Rhinella marina) foram flagrados se alimentando de abelhas com ferrão (Apis miliferas) no quintal da casa do biólogo e guia de observação de aves, Ciro Albano, em Fortaleza (CE), no último dia 2
“Essas abelhas ficam em buracos no pé de uma estátua que tenho por aqui e esses dias dois sapos, que praticamente moram no meu quintal, descobriram o local e começaram a se alimentar das abelhas. Às vezes ia um só, às vezes os dois juntos e por uns cinco dias presenciei a cena”, conta Albano.
Na última quarta-feira, 26, ele percebeu que mais abelhas começaram a sair do buraco no chão, já que os outros foram tampados, e foi aí que os sapos fizeram o banquete final, quando o biólogo aproveitou para filmar.
Detalhes do sapo cururu (Rhinella diptycha).
Isaac Roque/Arquivo Pessoal
“Achei muito curioso, porque nunca tinha visto eles predando abelhas, apesar de saber que sapo come de tudo, né? Eu sempre deixo eles aqui no quintal por conta disso, porque eles são ótimos aliados para combater baratas e outros bichos que para nós não são tão legais de encontrar”, finaliza.
As abelhas não machucam os sapos?
As abelhas do vídeo são exóticas e possuem ferrão, mas isso não pareceu incomodar os anfíbios. Segundo o especialista em sapos Diego Santana, é comum que esses sapos se alimentem de animais peçonhentos, como escorpião e aranhas.
“Até hoje não se sabe nada sobre o efeito do veneno dessas presas nos sapos, pode ser que eles tenham algum tipo de resistência ou, às vezes, a forma que eles ingerem o veneno talvez não tenha tanto efeito, mas essas são apenas hipóteses”, afirma.
Sapo após se alimentar das abelhas
Ciro Albano
O pesquisador esclarece que os cururus são predadores ferozes e não escolhem tão ativamente a presa, aproveitando toda e qualquer oportunidade para se alimentar. No entanto, percebe-se a preferência por animais sociais, como abelhas, formigas-de-correição e cupins, provavelmente pela maior disponibilidade de alimento em um único local.
No caso da dupla filmada por Ciro, logo depois de predarem as abelhas, ambos se deslocaram para um depósito da casa e foram fotografados com uma barriga bem grande.
“É bem comum isso, temos dados de cururus que comem milhares de formigas e/ou cupins em uma única noite. Já encontramos desde frutas como acerola até pedras no estômago deles. Eles comem tudo que dá”, diz Santana.
Sapo cururu predando formigas de correição
Falta de céu da boca
Analisando as imagens, é possível notar duas curiosidades. A primeira é que os sapos usam os membros para espantarem as abelhas quando elas batem nos olhos, e a outra é que toda vez que a dupla vai engolir uma presa, fecham os olhos.
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“É porque esses anfíbios não têm céu da boca, então quando eles fecham os olhos, esses olhos empurram a comida para o estômago. Então eles usam a biomecânica do movimento de fechar os olhos para conseguirem engolir e levar o alimento para a garganta”, diz Santana.
Por que as abelhas não se esconderam?
Dentro de uma colmeia de apis miliferas, é possível ter mais de 50 mil abelhas. Apesar de elas conseguirem permanecer dentro da colmeia durante um tempo, por conta de um estoque energético que mantêm, segundo o especialista em abelhas, Thiago Araújo de Jesus, elas precisam sair para procurar alimento uma hora ou outra.
No caso das abelhas do quintal do Ciro, antes havia alguns buracos em que elas conseguiam se dispersar, sendo os mais altos os preferidos para evitar a predação dos sapos. Entretanto, quando esses foram fechados, a única opção foi a saída pelo chão.
Desde o dia do vídeo, o observador não percebeu mais a presença desses insetos por lá, mas isso não significa que a colmeia tenha mudado de lugar.
Sapo cururu é um grande aliado ao controle de pragas
Floyd E. Hayes
Uma baixa significativa pode dar a sensação delas terem ido embora, de acordo com o pesquisador. É possível que as campeiras tenham sido predadas em massa, mas quando as novas abelhas estiverem prontas para voar, podem começar a sair e a colmeia segue em funcionamento normal.
“Por exemplo: se de 40 mil campeiras, 35 mil foram predadas, elas percebem essa baixa e se mantém sem sair, mas não é para se esconder, e sim para cuidar das demais funções que as outras desempenhavam”, esclarece Thiago.
Caso realmente a colmeia tenha se mudado, não seria apenas pela predação dos sapos, já que outros fatores precisam acontecer. “Toda enxameação migratória tem uma nova rainha que já está fecundada (voo nupcial) e que irá gerar as futuras proles. Ela pode voar por um curtíssimo período da vida dela, por conta dos fatores hormonais o corpo dela sofre modificações e tem um aumento do abdômen e atrofia das asas e ela não pode mais voar”, finaliza o pesquisador.
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