‘Nunca antes o Brasil esteve tão perto de vencer um Oscar’, avalia crítico de cinema


“Ainda estou aqui” chega à 97ª edição do Oscar indicado a Melhor Filme, Melhor Filme Internacional e, com Fernanda Torres, Melhor Atriz. Waldemar Dalenogare é um dos votantes do Critics Choice Awards. ‘Ainda Estou Aqui’ disputa Oscar de melhor filme neste domingo
O Brasil nunca esteve tão perto de vencer um Oscar. Com indicações históricas, a expectativa para Ainda Estou Aqui e Fernanda Torres é alta. A avaliação é do crítico de cinema Waldemar Dalenogare.
“Essa é a melhor chance do Brasil vencer um Oscar de todos os tempos. Nunca antes o Brasil esteve tão perto de disputar e, possivelmente, nunca antes o Brasil esteve tão perto de vencer um Oscar”, comenta Dalenogare.
A 97ª edição do Oscar chega, neste domingo (2), com uma das temporadas de premiações mais imprevisíveis dos últimos tempos. Diferente de anos anteriores, quando havia um favorito claro desde o início, a corrida deste ano teve múltiplos candidatos ao longo dos festivais e premiações de sindicatos.
Entre os destaques, o Brasil tem um papel central na disputa com Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, indicado tanto para Melhor Filme quanto para Filme Internacional. Além disso, Fernanda Torres concorre ao prêmio de Melhor Atriz, em uma disputa que permanece indefinida até a cerimônia.
Fernanda Torres: a melhor chance do Brasil no Oscar?
Fernanda Torres em ‘Ainda estou aqui’ (2024)
Divulgação
Se há uma categoria que promete emoção, é a de Melhor Atriz. Fernanda Torres chega ao Oscar como uma das concorrentes mais comentadas, após vencer o Globo de Ouro no início de janeiro e ganhar grande visibilidade nos Estados Unidos.
“A Fernanda fez uma campanha extraordinária”, destaca Dalenogare. “[Ela] participou de várias sessões, o filme é muito bom, e quem assiste Ainda Estou Aqui fica envolvido com a atuação da Fernanda. Então ela chega por méritos”, diz o especialista.
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A atuação de Fernanda em Ainda Estou Aqui conquistou críticos e acadêmicos, mas a disputa segue acirrada. Entre as principais adversárias da brasileira, estão Demi Moore (A Substância), que, de acordo com o crítico, “tem um discurso forte de carreira” e dá “mais visibilidade para o gênero que acaba sendo esquecido nas premiações, que é o terror”. Segundo o crítico de cinema, esses pontos favorecem a estadunidense na disputa.
Outra grande concorrente é Mikey Madison (Anora), que venceu o BAFTA, da Academia Britânica. No entanto, isso não tira a brasileira da corrida pelo prêmio.
“A Fernanda tem chance porque nessa reta final a visibilidade para Ainda Estou Aqui foi muito grande”, opina. “Ela foi indicada, e só de ser indicada, isso já é histórico, mas chegar com chances de vitória, ela vai chegar”, afirma Dalenogare, um dos votantes da Critics Choice Awards.
Crítico de cinema Waldemar Dalenogare
Reprodução/ RBS TV
No entanto, alguns pontos que podem prejudicar a atriz precisam ser levados em consideração. Como relembrou o crítico, Fernanda não disputou o SAG (Prêmio do Sindicato dos Atores) e não apareceu na lista de indicados da Academia Britânica (BAFTA), além de não entrar na lista do Critics Choice Awards.
Contudo, Dalenogare lembra que tudo pode acontecer:
“Surpresas acontecem. No ano passado, Lily Gladstone chegou como uma super favorita e perdeu o Oscar de melhor atriz”, ressalta.
Incerteza sobre Melhor Filme e disputa com Emilia Pérez
‘Ainda Estou Aqui’
Reprodução/TV Globo
De acordo com o crítico Waldemar Dalenogare, a definição do grande favorito ao Oscar demorou mais do que o habitual. “Anora”, dirigido por Sean Baker, consolidou-se na reta final como o principal concorrente, especialmente após vencer os prêmios do Sindicato dos Diretores e dos Produtores. No entanto, Conclave, que triunfou no BAFTA e no prêmio de elenco do Sindicato dos Atores, também chega forte.
O principal concorrente de Ainda Estou Aqui na categoria de Melhor Filme Internacional é Emilia Pérez, que recebeu 13 indicações. Para Dalenogare, a visibilidade tardia da produção pode ser um fator determinante na disputa.
A indicação, tanto em Melhor Filme quanto em Filme Internacional, é histórica para o Brasil, que nunca teve uma produção reconhecida nas duas categorias simultaneamente. No entanto, como observa o crítico, a produção de Walter Salles não teve o mesmo percurso de Parasita (2019), que dominou premiações antes de conquistar o Oscar.
“É um filme que desponta como um grande concorrente para filme internacional e, na minha leitura, a visibilidade que o filme ganha pós-Globo de Ouro coloca como prioridade para que os membros da academia fossem atrás do filme, dessem uma chance para Ainda Estou Aqui”, explica Dalenogare.
O impacto de “Ainda Estou Aqui” para o cinema brasileiro
O elenco do filme ‘Ainda estou aqui’
Divulgação/Sony Classic Pictures
Independentemente dos resultados, a presença de Ainda Estou Aqui no Oscar já é um marco para o cinema nacional. Segundo Dalenogare, o filme representa uma reconexão do público brasileiro com o cinema, evidenciada pelo sucesso de bilheteria e pelo engajamento nas redes sociais.
“A partir de Ainda Estou Aqui, [o público] busca novamente ir ao cinema, se interessa, e o cinema brasileiro vive um período excelente”, analisa.
Além disso, a indicação destaca a importância de ampliar a distribuição de filmes brasileiros no exterior.
“Ainda Estou Aqui vem sendo um filme de enorme repercussão nas redes sociais, ele é um filme que as pessoas assistem, se envolvem, querem torcer e querem comentar com amigos e familiares”, diz Dalenogare.
Walter Salles, que já abordou crises político-sociais do Brasil em longas como Terra Estrangeira e Central do Brasil, fecha uma espécie de trilogia com Ainda Estou Aqui, abordando os traumas da ditadura de forma sensível.
Walter Salles, diretor de ‘Ainda Estou Aqui’
Getty Images/BBC
“Ainda Estou Aqui é uma análise política de um período da história do Brasil, quando a gente tem diferentes análises em diferentes períodos, a gente passa pela questão da ditadura e o cinema é usado como intermediário para discutir a ditadura, para colocar temas em pauta na sociedade novamente”, diz.
De acordo com Dalenogare, a cena com Fernanda Montenegro coroa “com um fechamento muito bonito”:
“A aparição da Fernanda Montenegro sem falar nada, mas aquela aparição, o olhar dela acaba sendo extremamente impactante, deixa aquela imagem do filme que emociona, do filme que ele acaba realmente sendo um motivo de orgulho”, destaca o crítico.
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