Escolas de samba dizem que prefeitura barrou enredos sobre negros e LGBTQIA+ como condição para ceder espaço para Carnaval em Canoas


Exigência teria sido imposta em reunião com o novo secretário de Cultura da cidade. Prefeitura afirma que “se colocou à disposição para apoiar a realização das festividades” e que “preza pela liberdade”. Desfile de escola de samba durante o Carnaval de 2024 em Canoas
Renan Caumo/PMC
A Associação das Escolas de Samba de Canoas (AESC) afirma que o secretário de Cultura da cidade, Pinheiro Neto, disse que a prefeitura só liberaria um espaço para os desfiles de Carnaval na cidade caso não houvesse “enredos sobre temas de religiões de matriz africana, negros e comunidade LGBTQIA+”.
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De acordo com o vice-presidente da AESC, a determinação aconteceu durante uma reunião em 29 de janeiro, no gabinete da Secretário Municipal de Cultura e Turismo da cidade da Região Metropolitana de Porto Alegre, dias após a posse do prefeito eleito Airton Souza (PL).
A prefeitura de Canoas, por nota, afirma que “se colocou à disposição para apoiar a realização das festividades com a cedência do Parque Esportivo Eduardo Gomes” e que “preza pela liberdade, o que inclui a livre manifestação artística, cultural e religiosa no Carnaval”. Leia a nota completa abaixo.
Segundo Daniel Scott, vice-presidente e diretor de Carnaval da AESC, a reunião em que houve a suposta exigência do secretário de Cultura aconteceu para tratar, inicialmente, sobre o financiamento dos desfiles.
“Foi quando ele fez essa exigência, de que ia ficar muito difícil aceitar enredos que fossem relacionados a religiões afro, orixás, povo negro, movimento LGBTQIA+”, afirma Scott.
Ainda de acordo com Scott, a entidade seguiu buscando maneiras alternativas de financiar os desfiles após a reunião.
Na última terça-feira (18), em entrevista a um portal de notícias local, o secretário de Cultura da cidade afirmou que Canoas não terá desfiles de Carnaval em 2025 na cidade de Canoas.
Scott diz que, depois da entrevista, voltou a entrar em contato com a prefeitura para solicitar que um espaço da cidade fosse cedido para a realização dos desfiles, mesmo que não houvesse financiamento da prefeitura. Uma reunião entre AESC e Secretaria de Cultura foi marcada para sexta-feira (21) para tratar sobre o assunto.
Em nota, a Federação Nacional das Escolas de Samba tratou o caso como “preconceito e intolerância religiosa” e se colocou à disposição para “formalizar uma denúncia no Ministério Público”. Leia a nota completa abaixo.
Nota da prefeitura de Canoas
“A Prefeitura de Canoas informa que, embora não seja possível destinar recursos públicos ao Carnaval em 2025, devido às necessidades urgentes de investimentos na área da Saúde, a Administração Municipal se colocou à disposição para apoiar a realização das festividades com a cedência do Parque Esportivo Eduardo Gomes. O prefeito Airton Souza ressalta ainda que a atual gestão da Prefeitura é comprometida em governar para todos os canoenses e preza pela liberdade, o que inclui a livre manifestação artística, cultural e religiosa no Carnaval.”
Nota da Federação Nacional das Escolas de Samba
“Preconceito e intolerância religiosa com as escolas de samba de Canoas é um crime inaceitável
A Federação Nacional das Escolas de Samba – FENASAMBA manifesta seu mais veemente repúdio à atitude do Secretário Municipal de Cultura e Turismo de Canoas, Pinheiro Neto, que em reunião com a Associação das Escolas de Samba de Canoas disse que a Prefeitura da cidade cederia o Parque Eduardo Gomes para a realização dos desfiles, em abril, sem recursos públicos, mas que as entidades carnavalescas não poderiam apresentar enredos sobre temas de religiões de matriz africana, negros e comunidade LGBTQIA+.
Tal atitude, além de revelar um inaceitável preconceito e intolerância religiosa, é crime, tipificado no artigo 208, do Código Penal Brasileiro – “estabelece que é crime “escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso”.
A FENASAMBA se coloca à disposição da Associação das Escolas de Samba de Canoas para formalizar uma denúncia no Ministério Público contra essa atitude criminosa e preconceituosa do Secretário Municipal de Cultura e Turismo e do Prefeito da cidade.
O Carnaval, a maior manifestação cultural do povo brasileiro, é uma festa preta, de resistência, de preservação de nossa ancestralidade, democrática e inclusiva.
Não iremos permitir que atitudes como essas calem nossa voz e silenciem nossos tambores.
Brasília, 18 de fevereiro de 2025
Kaxitu Ricardo Campos – Presidente Federação Nacional das Escolas de Samba”
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