Mudanças climáticas: estudo da UFRGS aponta que flores do bioma Pampa podem migrar para novas áreas nos mapas de 2070


Pesquisa estima que apenas duas das oito espécies analisadas conseguiriam ampliar suas áreas de ocupação. Mais de 90 hectares do bioma Pampa foram queimados em Santo Antônio das Missões
Algumas espécies de flores do Bioma Pampa podem migrar nos próximos anos. É o que aponta uma pesquisa recém-publicada pelo programa de Pós-graduação em Genética e Biologia Molecular (PPGBM) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Essa seria uma consequência das mudanças climáticas no mundo.
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O Pampa é um ecossistema campestre, composto em sua maioria por plantas de pequeno e médio porte. Um levantamento feito em 2023, da Mapbiomas – uma rede colaborativa de ONGs, universidades e startups de tecnologia – diz que em 37 anos, o bioma Pampa perdeu 34% da área original.
Além da ação humana, fatores como temperatura, radiação solar e chuvas podem afetar a biodiversidade desses espaços. A pesquisa pode ser conferida aqui.
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Entenda a pesquisa
O estudo selecionou algumas espécies para compreender como as mudanças climáticas podem afetar sua distribuição no território. A pesquisadora Isadora Quintana, da UFRGS, elaborou o projeto em conjunto com a professora orientadora Caroline Turchetto e projetou a área de ocupação das espécies em dois cenários futuros, baseados em situações já estimadas pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).

Um desses cenários afirma que a temperatura do planeta aumentaria entre 2º e 3ºC até o ano de 2100. No outro, indica que a concentração de gases estufa causa um aumento de temperatura de 4,3ºC no mesmo período.
Aa petúnia branca provavelmente migrará para o litoral da Argentina e do Uruguai em função das mudanças climáticas
Foto: Isadora Quintana/UFRGS
Resultados preocupam
Com as projeções, nos mapas de 2070, as mudanças climáticas devem prejudicar a maioria das plantas. Em seis das oito espécies estudadas (veja imagens abaixo), a diminuição de área de habitat natural é maior no cenário pessimista. Duas dessas espécies, no entanto, sofrem o efeito contrário: a expansão da área de ocupação.
“(Os resultados) São preocupantes, pois nos mostram que a grande maioria das espécies estudadas pode vir a sofrer consideráveis reduções na sua distribuição. Nós falamos muito sobre adequabilidade de habitat nesse trabalho, que nada mais é do que as áreas do bioma que apresentam condições climáticas favoráveis para a ocorrência das espécies. Com o agravamento das mudanças climáticas, a adequabilidade cai muito, reduzindo o número de áreas disponíveis para as plantas”, explica a pesquisadora.
Os resultados mostram que a Epidendrum fulgens (conhecida como orquídea-da-praia) e a Turnera sidoides subsp. carnea conseguiriam se adaptar às condições do ambiente até nas piores projeções, passando a ocupar o centro do Rio Grande do Sul e o Uruguai, respectivamente (confira no mapa abaixo).
Área de ocorrência atual das espécies Epindendrum fulgens, comuns no litoral do RS, e Turnera sidoides subsp. carnea, encontrada nas pastagens do Pampa
Isadora Quintana/UFRGS/Divulgação
As espécies Petunia integrifolia subsp. depauperata e Calibrachoa heterophylla (imagens abaixo), comuns na planície costeira do Rio Grande do Sul, devem sofrer fragmentação de habitat, se dividindo em locais com condições inadequadas à sua existência.
Espécies Petunia integrifolia subsp. depauperata e Calibrachoa heterophylla
Gustavo Moraes/UFRGS
Já as plantas Petunia inflata e petúnia-perene (petunia integrifolia subsp. integrifolia) encontrariam novas regiões menos favoráveis, mas ainda conseguiriam migrar para outras partes do Pampa. A primeira quase desapareceria do Brasil, habitando então o sudoeste do estado e o Uruguai, enquanto a segunda espécie migraria do centro do Rio Grande do Sul em direção ao norte do estado e nordeste do Uruguai.
Área de ocorrência atual das espécies Petunia integrifolia subsp. integrifolia e Petunia inflata
Isadora Quintana/Divulgação
Por último, a petúnia branca, encontrada no estado gaúcho e nos dois países que fazem fronteira com ele, encontraria refúgio no litoral dos países vizinhos. Já a planta Herbertia pulchella, encontrada na serra do Sudeste e leste do Uruguai, não deixaria de ocupar os espaços em que já habita, porém perderia significativamente a adequabilidade ao habitat.
“Mesmo que as espécies possam se deslocar para um lugar mais favorável, não significa que esse ambiente projetado no mapa vai estar disponível para elas. Pode ter uma cidade, um deserto, um lixão ou qualquer coisa lá”, comenta Isadora.
Espécies da flora do Pampa podem migrar para novas áreas devido às mudanças climáticas
Isadora Quintana/UFRGS/Divulgação

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