Zema fala sobre inquérito que indiciou policiais em operação com 26 mortos em MG: ‘Sou a favor de todo tipo de investigação’


Trinta e nove policiais rodoviários federais e militares foram indiciados em ação que terminou em mortes de grupo suspeito de assalto a bancos em outubro de 2021 em Varginha. O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), falou nesta quinta-feira (29) em visita a Poços de Caldas (MG), no Sul de Minas, o inquérito da Polícia Federal que indiciou integrantes do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais), da Polícia Militar e também da Polícia Rodoviária Federal, por crimes que teriam sido cometidos na operação contra uma quadrilha de assaltantes de banco que resultou na morte de 26 pessoas em Varginha (MG).
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O inquérito indiciou ao todo 39 policiais por crimes como homicídio qualificado, tortura e fraude processual.
“Eu sou favorável a toda a investigação, mas eu quero aqui fazer um elogio à Polícia Militar de Minas Gerais que é a menos letal do Brasil. Se tem uma polícia que não comete esse tipo de fato é a Polícia Mineira”
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Governador Romeu Zema fala sobre inquérito que indiciou policiais por crimes em operação que deixou 26 mortos
Marcelo Rodrigues/EPTV
Perguntado sobre o indiciamento, Romeu Zema comparou a polícia de Minas com as de outros estados.
“Se você pegar polícias de outros estados que combatem criminosos, há uma taxa de letalidade maior. Então mesmo com essa ocorrência, nós somos a menos letal, sou favorável a todo tipo de investigação. E lembro que o que foi encontrado lá naquela propriedade não foi bíblia, não. Foi bomba, explosivo, armamento pesado, que seriam utilizados numa ação em que essas pessoas inclusive utilizam escudos humanos. Não tem nenhum receio de pegar qualquer transeunte, colocá-lo na frente de um carro para poder ali, poder passar sem ser alvo de alguma ação da polícia”, disse Zema.
Por fim, Zema disse ser favorável a qualquer tipo de investigação e que quem cometeu erros seja responsabilizado.
“Eu sou a favor de todo tipo de investigação. Se alguém cometeu algo errado que seja responsabilizado. Mas eu confio na nossa polícia e a ordem que eu dou pra nossa polícia é pra combater a criminalidade. Eu confio na nossa polícia. Em criminoso eu não confio, não. Então nós já temos uma grande diferença”, completou Zema.
Indiciamento de policiais
Ao todo, 39 policiais foram indiciados pela Polícia Federal por crimes que teriam sido cometidos durante a operação. Ao todo, 20 policiais (16 da PRF e quatro da PM) foram indiciados por homicídio (autoria e coautoria); dois da PRF foram indiciados por tortura e 38 (22 da PRF e 16 da PM) por fraude processual.
O relatório final da Polícia Federal apontou que os criminosos foram surpreendidos com a chegada da polícia e foram alvejados. Ainda conforme a PF, não houve a forte resistência com armas longas por parte dos suspeitos, conforme alegado pelas forças de segurança na época e não existem indícios de que um combate aconteceu. A PF concluiu também que um dos criminosos chegou a ser torturado para revelar a localização do sítio onde estava a maior parte do bando.
Parte do armamento utilizados pelos suspeitos de integrar quadrilha de roubos a bancos que foram mortos em Varginha (MG)
Franco Junior/g1
O relatório da PF também aponta que o caseiro Adriano Garcia, que não tinha nada a ver com a situação, também foi morto. A PF afirmou que os fatos investigados, na forma como ocorreram e considerando o envolvimento das personagens que deles participaram, não possuem precedentes na história nacional.
Na conclusão do inquérito, a Polícia Federal afirmou que não houve confronto entre as forças de segurança e os criminosos conforme divulgado, apontou inconsistência nos depoimentos dos policiais, afirmou que houve adulteração dos locais de crime e que não houve efetivo socorro aos criminosos baleados.
Operação e investigação da PF
O relatório da PF afirma que no dia 31 de outubro de 2021, por volta de 5h, aproximadamente 40 policiais entraram em um sítio no bairro Recanto Dourado, o sítio 1, em Varginha (MG) e lá mataram 16 indivíduos que se preparavam para executar um grande roubo na cidade. Outros dois corpos foram contabilizados como mortes na cena do crime.
Na sequência, um grupo formado por 12 destes policiais rumou para um segundo sítio no bairro Lagoinha, o sítio 2 e lá foram mortos mais oito suspeitos.
De acordo com a PM, os suspeitos seriam especialistas neste tipo de crime. Um arsenal “de guerra” também foi apreendido com a quadrilha.
PM diz que sacada era utilizada para suspeitos verificarem movimentação fora do sítio em Varginha (MG)
Reprodução/EPTV
A investigação da PF apontou que a investigação começou no mês de agosto de 2021 em Uberaba (MG) e terminou com a operação de 31 de outubro em Varginha. Naquele mês, um policial rodoviário federal recebeu mensagens indicando a possibilidade de um grande roubo que seria executado por um bando criminoso fortemente armado. A inteligência da PRF apurou que o possível roubo seria executado no dia 1º de novembro em Varginha.
O que dizem as autoridades
Em nota, a Polícia Rodoviária Federal informou que a Corregedoria-geral da PRF reabriu procedimento apuratório ainda em 2023 frente ao surgimento de novas evidências.
A PRF destacou ainda o compromisso com os limites constitucionais e a defesa do estado democrático de direito, incluídos o princípio da presunção de inocência dos agentes, a garantia ao devido processo legal, ao contraditório e à ampla defesa.
A Polícia Militar informou que acompanha o caso. Segundo a Polícia Federal, o inquérito foi relatado e encaminhado às autoridades.
O Ministério Público Federal informou que recebeu o relatório policial na tarde desta terça-feira (27). Ele agora será analisado para verificar se serão necessárias novas diligências.
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