Professora da Unesp em Presidente Prudente é diplomada na Academia das Ciências de Lisboa, em Portugal


Maria Encarnação Beltrão Sposito é a primeira geógrafa brasileira a integrar a Classe de Letras, na categoria de Correspondentes Estrangeiros, da instituição fundada em 1779. A geógrafa Maria Encarnação Beltrão Sposito, professora titular da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Presidente Prudente (SP), foi diplomada na Academia das Ciências de Lisboa (ACL), em Portugal
Eliseu Sposito
A geógrafa Maria Encarnação Beltrão Sposito, professora titular da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Presidente Prudente (SP), foi diplomada na Academia das Ciências de Lisboa (ACL), na noite desta quinta-feira (16), após a sua primeira palestra na instituição, em Portugal.
A livre-docente foi a primeira geógrafa brasileira a integrar a Classe de Letras, na categoria de Correspondentes Estrangeiros, entre os 29 nomes de brasileiros, entre eles, os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e José Sarney e o ex-presidente da Academia Brasileira de Letras, Arnaldo Niskier. A indicação e a eleição do nome de Maria Encarnação por pesquisadores da área foram em março de 2023.
“É um reconhecimento de um trabalho realizado, que eu reputo a uma trajetória pessoal, mas também a um trabalho coletivo desenvolvido no Departamento de Geografia da Unesp de Presidente Prudente. Acredito que cada um de nós, pesquisadores, é ao mesmo tempo responsável pelo seu caminho e por um caminho institucional, por um conjunto de parcerias condições de trabalhos coletivos. Sou muito grata à Unesp!”, afirma a professora, que há 44 anos leciona no campus em Presidente Prudente.
A entrega do tradicional diploma em latim foi feita no prédio da ACL, localizado na capital portuguesa, logo após a docente ministrar a palestra com o tema “Urbanização brasileira e condição urbana periférica”.
A partir de agora, ela segue participando quinzenalmente das sessões on-line da Academia, que foi fundada em 1779, e promove o conhecimento e o domínio em áreas da ciência, da literatura e da educação.
A instituição é reconhecida mundialmente pela conservação e pela valorização de um patrimônio histórico de suas coleções em acesso aberto.
“A diplomação da professora Maria Encarnação Beltrão Sposito na Academia das Ciências de Lisboa é um orgulho para a FCT e para a Unesp como um todo. É a primeira pessoa da área de geografia a compor junto a escritores, ex-presidentes da República e demais intelectuais brasileiros. É o reconhecimento de uma carreira sólida na pesquisa geográfica, nacional e internacional, assim como a sua contribuição na formulação de políticas públicas”, destacou a diretora da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT) da Unesp em Presidente Prudente, Cristina Baron.
A chefe do Departamento de Geografia da FCT/Unesp, Maria Terezinha Serafim Gomes, também parabenizou a “Professora Carminha”, como Maria Encarnação é carinhosamente conhecida pelos colegas e estudantes.
“Este reconhecimento é resultado do seu comprometimento com a ciência e com a universidade pública e de sua brilhante trajetória acadêmica, com enorme contribuição para o desenvolvimento da geografia brasileira e também no exterior. Parabéns, Professora Carminha, pelo reconhecimento. Você nos enche de orgulho!”, celebrou.
A geógrafa Maria Encarnação Beltrão Sposito, professora titular da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Presidente Prudente (SP), foi diplomada na Academia das Ciências de Lisboa (ACL), em Portugal
Eliseu Sposito
Maria Encarnação Beltrão Sposito é professora titular da Unesp e atua no Departamento de Geografia do campus prudentino, onde se graduou, em 1977. Seu mestrado foi concluído em 1984, na Unesp, em Rio Claro (SP), e o doutorado, em Geografia Humana, pela Universidade de São Paulo (USP), em 1991. Ela realizou o pós-doutoramento na Universidade de Paris I (Sorbonne).
Atualmente, integra o Grupo de Pesquisa Produção do Espaço e Redefinições Regionais (GAsPERR) e a Rede de Pesquisadores sobre Cidades Médias (ReCiMe). É coordenadora do projeto temático intitulado “Fragmentação socioespacial e urbanização brasileira: escalas, vetores, ritmo, formas e conteúdos” (FragUrb), financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que abrange uma equipe de mais de 130 pesquisadores doutores.
Em relação ao FragUrb, Maria Encarnação explicou em entrevista concedida ao g1 em outubro do ano passado que o processo estudado foi o de fragmentação socioespacial, que se refere à tendência de composição da cidade e da vida urbana de modo menos integrado do que no passado.
Desta forma, o estudo visou a compreender, no plano da cidade e do urbano, como este processo altera o conteúdo da diferenciação e das desigualdades, redefinindo os sentidos do direito à cidade.
Maria Encarnação afirmou que o processo de fragmentação socioespacial pode ocorrer de três modos diferentes, por meio de:
dispersão do tecido urbano: a cidade cresce em território mais do que em população, aumentam os terrenos não ocupados e ao mesmo tempo a cidade fica marcada por descontinuidades;
práticas espaciais: os moradores vão se separando social e espacialmente em seus cotidianos, diminuindo os espaços que são compartilhados por diferentes classes sociais; e
imaginários sociais: modos como representamos coletivamente o que são os espaços bons e os demais nas cidades gerando práticas de evitação, segregação ou estigmatização territorial.
Segundo a geógrafa, a ideia para o estudo também surgiu de outras pesquisas realizadas anteriormente:
uma primeira sobre espaços residenciais fechados e controlados por sistemas de segurança (o que, popularmente, são chamados de condomínios, embora nem todos sejam juridicamente condominiais); e
uma segunda sobre as mudanças no comércio e no consumo, com o aumento da presença de shopping centers, hipermercados, lojas de franquias ou de grandes redes comerciais e de serviços.
“Nestas duas pesquisas, já emergiam observações claras de que há cada vez maior separação entre os grupos sociais nas cidades”, pontuou a pesquisadora ao g1.
Assim, pelos resultados de três frentes metodológicas diferentes, sendo elas grupos focais, entrevistas e percursos, foi analisado que a mobilidade urbana em Presidente Prudente sofreu retrocessos nos últimos anos.
“De um lado, os mais pobres foram morar ainda mais longe, de outro, o transporte coletivo não oferece a cobertura espacial e a frequência necessária aos deslocamentos. Assim, o transporte coletivo vai sendo substituído pelo individual, como carros, motos, Uber e outros aplicativos. Em algumas situações, os que moram mais distantes se movimentam menos, ou seja, ficam mais circunscritos a seus bairros periféricos. Em outras situações, aumenta o peso do custo do transporte nas despesas mensais das famílias. Essa tendência amplia a separação socioespacial entre o Norte e o Leste da cidade, onde moram os estratos sociais de menor poder aquisitivo, e o Sul e o Oeste, onde estão a classe média, a elite, sendo essa é uma das expressões da fragmentação socioespacial”, contextualizou a pesquisadora ao g1.
Além disso, Maria Encarnação ressaltou que a pesquisa não é voltada ao planejamento da cidade e, por isso, não teve o objetivo de oferecer ideias ou propostas. Entretanto, ela disse que isso acaba ocorrendo e destacou alguns pontos para a melhora da mobilidade urbana:
a necessidade de revisão total do sistema de transporte urbano, hoje, ainda organizado por linhas centro-periféricas, ainda sem articulação entre modais e com conforto reduzido em terminais urbanos;
a importância de valorização de espaços públicos, tanto os mais importantes da cidade, com destaque para o Parque do Povo, mas também os periféricos. Nestes espaços, a vida urbana ocorre e há possibilidade de encontro entre os diferentes, se forem espaços bem cuidados, equipados e que sejam atendidos por programas esportivos e culturais; e
o desenvolvimento de políticas públicas que sejam capazes de promover equidade territorial (mais investimentos nas áreas mais pobres, para compensar as dificuldades de renda das famílias).
A geógrafa Maria Encarnação Beltrão Sposito, professora titular da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Presidente Prudente (SP), foi diplomada na Academia das Ciências de Lisboa (ACL), em Portugal
Eliseu Sposito
Ao g1, a geógrafa destacou a importância em falar sobre a mobilidade urbana e o que ela representa para uma cidade.
“A mobilidade urbana é essencial. Por meio dela é que podemos viver a cidade de modo pleno. Realizar percursos que conectam as áreas residenciais ao trabalho, ao lazer, ao consumo, enfim, à vida social, política e econômica. Quando a mobilidade urbana se realiza de forma adequada, podemos considerar que há justiça espacial, ou seja, estão oferecidas as condições para todos, independentemente das condições socioeconômicas, ir e vir, apropriar-se de tudo que a cidade oferece”, explicou Maria Encarnação.
Ela também complementou que o transporte individual pode ampliar problemas sociais e ambientais.
“A opção pelo transporte individual amplia as diferenças sociais, aumenta o tráfego e traz problemas ambientais. Valorizar o transporte público de qualidade, favorecer a circulação por bikes ou para pedestres são as formas mais avançadas observadas em cidades em que se considera que a qualidade de vida é essencial “, pontuou ao g1.
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