Frutas fake: chef cria ‘limão doce’ e manga com gengibre para enganar os sentidos


Empreendedora de Curitiba apostou em produto pouco conhecido para se destacar no ramo de confeitaria. Para especialista, cenário para quem empreende no setor é positivo, impulsinado desde a pandemia. Azedo ou doce? Chef cria sobremesas que imitam frutas
Quando a vida deu um limão à empresária Juliana Demário, de 43 anos, ela resolveu fazer… um doce idêntico à fruta.
A chef, que mora em Curitiba, apostou em uma ramo da confeitaria em que sobremesas criam ilusões, imitando objetos ou, no caso dela, frutas. Na culinária, a técnica é chamada de entremet. Assista acima.
“A primeira coisa que todo mundo vê no entrement é a beleza. A confeitaria moderna está trazendo muita coisa bonita e, praticamente, fazendo os confeiteiros do mundo todo se estapearem para publicarem suas receitas”, brinca.
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As criações realistas da empreendedora despertam curiosidade, especialmente nas redes. Os limões feitos por ela tem recheio de gel de amora. Outro exemplo é a manga, que por dentro, tem a própria fruta misturada com gengibre.
“A maioria [do público] vem por curiosidade mesmo. Querem saber como é chegar perto, tocar, comer, experimentar, porque são bem reais mesmo”, comenta.
Além das redes, os doces também estão na vitrine da loja física de Juliana, que, em um primeiro momento, pode até parecer um horti-fruti, mas é uma confeitaria. Os valores de cada doce variam de R$ 30 a R$ 40, e a produção semanal é de cerca de 500 itens.
Chef Juliana Demário investe no ‘entremet’ desde 2019
Arquivo pessoal
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A chef explica que a técnica é inspirada na ideia do confeiteiro francês Cédric Grolet, famoso nas redes sociais e que soma mais de 11 milhões de seguidores.
Segundo ela, no entremet do confeiteiro Cedric, a receita tenta imitar o gosto real do que ela estiver recriando. Se a sobremesa for um limão, o gosto será mais próximo de um limão. Na receita de Juliana, o cliente enxerga a fruta, mas ao experimentar sente a mistura do toque cítrico e do doce, bem longe do sabor original que a fruta tem.
“A pessoa que vê uma manga, ela vai encontrar manga dentro. O sabor é de manga, tem pedaços de manga, mas a gente une, por exemplo, a manga ao gengibre. Então não é só a manga, a gente traz o frescor do gengibre e as pessoas se surpreendem na hora que comem e ficam ‘o que que tem ali?'”, comenta.
Chef cria sobremesas que imitam frutas
Arquivo pessoal
O negócio criado por Juliana é uma das 716.192 Microempresas (ME) e Empresas de Pequeno Porte (EPP) registradas no Paraná. Especificamente sobre as confeitarias, o cenário econômico é positivo, uma vez que o setor apresentou crescimento nos últimos anos. Veja números abaixo.
Para Marcia Giubertoni, consultora do Sebrae, o impulso veio porque, nos últimos anos, houve aumento na demanda de produtos gourmet, personalizados e de alta qualidade.
“Há hoje uma valorização dos produtos feitos de forma artesanal, com ingredientes de qualidade e atenção aos detalhes”, destaca Giubertoni.
Chef cria sobremesas que imitam frutas
Arquivo pessoal
Confeitarias em destaque no Paraná
O Paraná conta com 4.525 confeitarias. Curitiba lidera o ranking, com 2.081 pequenos empreendimentos.
Em segundo lugar aparece Londrina, com 482 confeitarias, seguida de Maringá, com 348. Confira os dados no gráfico acima.
No caso de Juliana, ela resolveu apostar no segmento em 2019. Houve dificuldade em fazer o negócio engrenar porque, segundo ela, era uma época em que as pessoas não entendiam a proposta e, por isso, os doces não despartavam tanto interesse.
Na pandemia, porém, o cenário mudou e o setor da confeitaria ganhou destaque, como apontam dados da Associação Brasileira da Indústria de Panificação e Confeitaria (ABIP). Em 2021, o mercado de panificação e confeitaria faturou R$ 105,85 bilhões no país, um crescimento de 15,3% em relação a 2020.
Entre os possíveis motivos que impulsionaram este crescimento está o aumento do consumo das chamadas comfort food – gastronomia afetiva, em tradução livre, como explica Giubertoni. Segundo a consultora, muitas pessoas passaram a buscar mais conforto na comida, assim os doces e bolos se tornaram uma maneira de trazer alegria em tempos difíceis, como foi na pandemia.
Além disso, a consultora destaca que a pandemia possibilitou chefs e confeiteiros a aproveitarem o isolamento para buscar formas de se criar novos produtos, o que trouxe uma onda de inovação e ajudou o setor a se destacar.
Juliana lembra que, a partir de 2022, os doces em formato de frutas viraram carro-chefe da confeitaria que também oferece outros tipos de doces sofisticados.
“Nesses cinco anos que estamos aqui, foi uma educação do cliente. Dele gostar, dele perceber que tem outras possibilidades. Não é fácil, quem está no ramo da gastronomia sabe. E nós, da confeitaria, principalmente, que trabalhamos com o supérfluo… é um leão por dia que a gente mata”, ressalta.
Chef cria sobremesas que imitam frutas
Arquivo pessoal
*Com colaboração de Caroline Maltaca, assistente de produtos digitais do g1 Paraná.
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