PF apreende dólares, euros, joias, fuzis, carros de luxo e lancha com policiais, advogado e empresários presos por elo com PCC; veja fotos


Polícia Federal apreendeu mais de R$ 753 mil em cédulas de dinheiro nacional e estrangeiro, além de fuzis, munições, Mercedes, relógios importados e pedras preciosas. Bens eram de investigados que tinham sido delatados por Vinicius Gritzbach antes de ele ser morto em SP. Dinheiro e armas apreendidos durante operação da PF e do MP-SP contra policiais corruptos ligados ao PCC
Reprodução/TV Globo
A Polícia Federal (PF) apreendeu dólares, euros, reais, armas, munições, carros, relógios e joias de luxo, uma lancha e outros objetos com policiais, um advogado e empresários do estado de São Paulo investigados por suspeita de corrupção e envolvimento com o Primeiro Comando da Capital (PCC) (veja as imagens nas fotos e vídeo desta reportagem).
Cinco policiais civis, um advogado e dois empresários investigados pela PF e pelo Ministério Público (MP) por lavagem de dinheiro foram presos na terça-feira (17) durante a “Operação Tacitus”. Um outro agente da Polícia Civil não foi encontrado e ainda é procurado.
Todos os oito foram denunciados à Justiça por Vinicius Gritzbach. Ele foi assassinado no mês passado após fazer a delação premiada (saiba mais abaixo). A vítima era empresário do ramo imobiliário, lavava dinheiro para o grupo, e também era investigado pelas autoridades.
Após a denunciar o grupo, a PF e o MP fizeram a operação na capital de São Paulo e nas cidades de Bragança Paulista, Igaratá e Ubatuba, no interior do estado. Agentes e promotores foram até imóveis dos investigados, onde encontraram:
Dinheiro de origem não declarada e suspeito de lavagem: mais de R$ 753 mil em cédulas de dinheiro nacional e estrangeiro, sendo cerca de R$ 120 mil em valores convertidos de dólares e euros que estavam nos imóveis;

Armas e munições sem comprovação: oito pistolas, seis fuzis, três espingardas, um revólver e uma carabina. Também tinham oito carregadores e mais de 1.600 balas;

Carros de luxo nacionais e importados: sete veículos no total, sendo Mercedes Benz, Ford Maverick, picape Hilux, Jeep Compass, Toyota Cruiser, Audi e Honda;

Veículos náuticos e outros: uma lancha, três motos aquáticas e dois quadriciclos;

Artigos de luxo: cinco relógios de grife de marcas famosas importadas, 35 anéis, 11 colares, nove pingentes, seis pulseiras, dois terços e 68 pedras preciosas;

Celulares e equipamentos de informática: 11 telefones, dois laptops e pendrives;

Documentos diversos: escrituras de imóveis, cadernos de anotações e cheques bancários.

PF prende delegado e mais 3 policiais civis de São Paulo suspeitos de atuar para o PCC
Quem são os investigados
Ainda de acordo com a investigação, o grupo movimentou junto ao menos R$ 72 milhões de maneira ilegal nos últimos cinco anos. É o que aponta o relatório da investigação que realizou a operação para prender os investigados.
O delegado Fábio Baena e os investigadores Eduardo Lopes Monteiro, o “Du”, Marcelo Roberto Ruggieri, o “Xará” e Marcelo Marques de Souza, o “Bombom”, estão entre os suspeitos presos. Os três trabalham como policiais civis em São Paulo. O agente da Polícia Civil, Rogério de Almeida Felício, o “Rogerinho Punisher” fugiu e não foi preso.
Os demais detidos são o advogado Ahmed Hassan Saleh, o “Doutor Mudi”, e os empresários Ademir Pereira de Andrade e Robinson Granger de Moura, o “Molly”.
Presos e procurado na operação da PF e do MP em São Paulo
Reprodução
Como funcionava o esquema
De acordo com a PF e o MP, para lavar o dinheiro os investigados investiam dinheiro da propina paga pelo PCC aos policiais e do tráfico de drogas da facção criminosa em negócios imobiliários e na abertura de contas de empresas-fantasma.
A investigação identificou essa movimentação financeira irregular dos oito investigados entre 2018 e 2022.
Segundo a Polícia Federal e o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) do MP, o esquema criminoso envolve:
Manipulação e vazamento de investigações policiais para integrantes do Primeiro Comando da Capital: para os bandidos se anteciparem a eventuais operações da polícia e não serem presos. Em troca disso, os agentes da Polícia Civil cobraram dinheiro dos investigados;

Venda de proteção policial a criminosos: membros do PCC contratavam os serviços de “bico”, segurança e escolta ilegal por parte dos agentes;

Corrupção: para beneficiar um esquema de lavagem de dinheiro do tráfico da facção criminosa PCC junto ao mercado imobiliário. Integrantes da facção e policiais compravam imóveis, criavam empresas ou se associavam a elas para tornar seus investimentos aparentemente lícitos. Mas no caso dos agentes, a investigação notou que os bens adquiridos e declarados oficialmente por eles eram incompatíveis com os salários que recebiam na Polícia Civil.
Objetos apreendidos pela PF e pelo MP em ação contra policiais, advogado e empresários suspeitos de elo com o PCC
Divulgação
Todos os oitos investigados citados acima haviam sido denunciados por Vinicius Gritzbach antes de ele ser assassinado no mês passado. O empresário conhecia o grupo pois lavava dinheiro para ele, seja na aquisição de empreendimentos imobiliários ou no investimento de criptomoedas e joias.
Também investigado pelo Ministério Público por suspeita de corrupção de lavagem de dinheiro, Gritzbach denunciou o grupo durante delação premiada à Justiça. Caso fosse condenado, ele teria a pena reduzida. O empresário respondia aos crimes em liberdade.
Gritzbach acusou os cinco policiais de cobrarem R$ 40 milhões de propina para não responsabilizá-lo pelos assassinatos de dois membros do PCC. O empresário era investigado pelo Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) por suspeita de ter mandado matar Anselmo Becheli Santa Fausta, o “Cara Preta”, e Antônio Corona Neto, o “Sem Sangue” em 2021.
Ele não pagou o dinheiro do suborno e foi indiciado pela polícia pelos homicídios. Gritzbach foi executado a tiros no dia 8 de novembro na frente do Aeroporto internacional de São Paulo, em Guarulhos.
Execução de Gritzbach
Caso Gritzbach: novas imagens mostram momento da execução do empresário
Câmeras de segurança gravaram o crime cometido por dois homens encapuzados e com fuzis que fugiram em seguida (veja vídeo acima). Um motorista por aplicativo foi atingido por um dos disparos e também morreu.
Dois suspeitos de participarem da execução dele foram presos dias depois pela força-tarefa criada pelo governo paulista para investigar o caso. Matheus Augusto de Castro Mota e Matheus Soares Brito teriam ligação com o Primeiro Comando da Capital.
O terceiro suspeito procurado como foragido pelo homicídio do empresário é Kauê do Amaral Coelho. Segundo a força-tarefa, mais pessoas podem estar envolvidas no crime.
Além de investigarem o possível envolvimento do PCC no assassinato de Gritzbach, as autoridades apuram a hipótese de que policiais possam ter participado da execução dele. Um áudio gravado pelo empresário mostra uma conversa entre um membro da facção oferecendo R$ 3 milhões a policiais para matá-lo.
A equipe de reportagem tenta localizar as defesas dos oito investigados para comentar o assunto.
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