Quase 70% das gestantes de Teresina acham suas casas inadequadas para o calor extremo; veja outros dados de pesquisa inédita


Teresina foi a única cidade das Américas escolhida pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA/ONU) para participar do estudo, que envolveu 411 mulheres atendidas em 75 unidades básicas de saúde (UBS) da capital. Quase 70% das gestantes de Teresina acham suas casas inadequadas para o calor extremo
Reprodução/EPTV
Nesta quarta-feira (18), foram divulgados os resultados preliminares de uma pesquisa inédita sobre o impacto do calor extremo na saúde de gestantes e no desenvolvimento dos bebês. Teresina foi a única cidade das Américas escolhida pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA/ONU) para participar do estudo, que envolveu 411 mulheres atendidas em 75 unidades básicas de saúde (UBS) da capital.
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A pesquisa aponta uma forte relação entre o calor extremo e o bem-estar físico e emocional das grávidas, além de evidenciar desigualdades socioeconômicas e uma “injustiça climática”.
Para Leonardo Madeira, coordenador da Agenda 2030, os dados revelam a vulnerabilidade de mulheres que enfrentam condições socioeconômicas precárias e lidam com os impactos do clima de forma desproporcional.
Principais resultados
Entre as mulheres que participaram da pesquisa:
🤰🏾84% são pretas e pardas, com idade média de 27 anos, sendo 44% delas no terceiro trimestre da gestação.
☀️A maioria (60%) se locomove a pé para consultas e outras atividades diárias, e 69% consideram suas residências inadequadas para enfrentar o calor extremo.
☂️Entre as entrevistadas, 83,7% relataram que o calor afeta negativamente seu bem-estar, enquanto 89% disseram sentir impacto na saúde física.
Outro desafio está na falta de orientação. 63% das mulheres afirmaram não ter recebido orientações específicas sobre como lidar com o calor durante a gravidez. Entre as recomendações dadas por profissionais de saúde, estão beber mais água e tomar banhos frequentes.
Desafios e preocupações
Mulher grávida
Imagem de yanalya no Freepik
A pesquisa também destacou preocupações como ansiedade, medo de insolação, eclâmpsia, partos prematuros e desmaios, além do medo de que o calor extremo possa elevar a pressão arterial e colocar em risco a vida do bebê.
Para Leonardo Madeira, essas questões refletem a grave desigualdade social e a falta de recursos disponíveis para as gestantes.
“Essa mulher grávida, muitas vezes, recorre ao banho como única forma de aliviar o calor. Essa pesquisa revelou o quanto o clima tem atingido essas mulheres, evidenciando uma injustiça climática. O calor atinge a todos, mas de forma muito desigual”, destacou Madeira.
O diagnóstico será utilizado para nortear políticas públicas municipais, incluindo a criação de um “protocolo de calor” para gestantes. Segundo o gestor, o protocolo deverá contemplar mudanças nos horários das consultas, evitando períodos mais quentes do dia, além de medidas comportamentais e estruturais para garantir mais conforto térmico às gestantes.
“Queremos pensar de forma holística, indo além da saúde. É necessário abordar também os aspectos comportamentais e realizar investimentos”, concluiu Madeira.
O estudo
O estudo, elaborado pela Agenda Teresina 2030, venceu um desafio internacional que contou com 261 cidades de 30 países, e busca avaliar diretamente como as altas temperaturas afetam a saúde física e mental de mulheres grávidas.
O objetivo principal foi avaliar como o calor extremo afeta a saúde das gestantes, a pressão arterial – uma das principais causas de mortalidade materna no Brasil – e o desenvolvimento dos bebês. Além disso, busca compreender o impacto do calor na saúde mental das mulheres.
A entidade explica que a pesquisa é inovadora porque, diferentemente de estudos anteriores baseados em prontuários médicos, ela se deu em campo, com a coleta de dados diretamente de gestantes atendidas na rede pública de saúde.
Os pesquisadores aplicaram questionários em Unidades Básicas de Saúde (UBS) e acompanharam a dinâmica do pré-natal durante o Dia da Gestante, promovido mensalmente nas UBS de Teresina.
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A oficial de gênero, raça e etnia do UNFPA, Luana Silva, explicou a importância da iniciativa.
“Teresina foi a única cidade escolhida nas Américas porque estamos realizando um estudo para analisar o impacto do calor extremo. Muitas vezes, quando pensamos em mudanças climáticas, associamos a inundações ou tsunamis, mas, em Teresina, especificamente, a gente tem que pensar nos cânceres de pele e na saúde mental das pessoas”, explicou.
A gente sabe que a principal causa de mortalidade materna no Brasil é a pressão arterial. Então, a gente sabe que o calor tem impacto na pressão arterial. Nosso objetivo é garantir que ninguém seja deixado para trás. Apesar de as mudanças climáticas atingirem o mundo inteiro, elas impactam de forma diferente as pessoas mais vulneráveis”, disse.
Luana destacou ainda que os relatos coletados até agora indicam que o calor afeta não apenas a saúde física, mas também a saúde mental das gestantes.
Conforme a pesquisadora, foi criado um diário de campo que reúne achados importantes, desde sofrimento mental extremo ou surtos no período de muito calor, preocupação de morrer no parto, de ter o parto durante o período do chamado B-R-O Bró.
“Então, isso tem impacto na saúde mental delas. Precisamos entender como os profissionais de saúde estão lidando com isso. Nosso trabalho é escutar as gestantes e, a partir dessas informações, elaborar planos de mitigação para apoiar essas mulheres e os profissionais que as atendem”, disse.
Segundo Luana, os resultados já apontam diretrizes importantes. “Estamos encantados com os achados, que indicam o que pode ser transformado em políticas públicas. Não queremos que isso se limite a números; queremos transformar em ações concretas”, concluiu.
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*Estagiária sob supervisão de Maria Romero.
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