Aline Midlej: Jovem arremessado de ponte por PM ‘é mais um corpo preto da periferia, sempre desumanizado no Brasil’


Treze policiais foram afastados após a gravação de um PM arremessando da ponte o entregador Marcelo do Amaral, de 25 anos, durante uma abordagem na segunda. Aline Midlej: Raça e classe social sempre foram critérios em abordagem policial no Brasil
São Paulo foi palco de mais um caso de violência policial, que reacende o debate sobre treinamento e controle na atividade da Polícia Militar. Treze policiais foram afastados nesta terça (3) após a gravação de um PM arremessando da ponte o entregador Marcelo do Amaral, de 25 anos, durante uma abordagem na segunda-feira (2).
A cena foi gravada por testemunhas e classificada pelo Secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite (PL), como uma reação emocional e desmedida.
Durante a última edição do Jornal das Dez, a apresentadora Aline Midlej chamou atenção para a recorrência de flagrantes de violência policial no estado, e diz que ‘raça e classe social sempre foram critérios em abordagens policiais no Brasil’.
“Esses não são casos isolados, como disse o secretário de segurança pública. E não são todos, apenas aqueles que hoje são filmados e divulgados […]Nova é a legitimidade que a polícia paulista parece sentir, neste momento da gestão da Segurança Pública de São Paulo, para agir dessa forma” analisa Midlej.
“Aquele corpo jogado sobre a ponte não é o corpo do Marcelo do Amaral. É mais um corpo preto da periferia, desde sempre desumanizado no Brasil. O desprezo por esses corpos sempre existiu, sejam homens mulheres ou até crianças. Desprezo – não por parte de todos os policiais, é claro – mas como parte de uma cultura institucional.”
Os policiais envolvidos prestaram depoimento nesta terça-feira (3). A ação teria começado com a perseguição a dois homens em uma moto.
Os detalhes sobre o que levou ao arremesso de Marcelo ainda estão sendo apurados pela Corregedoria da PM, que não descarta a possibilidade de pedir a prisão do policial responsável.
Veja o que se sabe e o que falta saber
Pai de jovem jogado de ponte por PM em São Paulo
Reprodução
O que disseram as autoridades?
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), disse, em uma rede social, que o policial militar que “atira pelas costas” ou “chega ao absurdo de jogar uma pessoa da ponte” não está à altura de usar farda. Disse ainda que o caso será investigado e “rigorosamente” punido.
O secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite (PL), também criticou a ação do policial militar. “Anos de legado da PM não podem ser manchados por condutas antiprofissionais. Policial não atira pelas costas em um furto sem ameaça à vida e não arremessa ninguém pelo muro. Pelos bons policiais que não devem carregar fardo de irresponsabilidade de alguns, haverá severa punição”, escreveu, em uma rede social, mencionando um segundo ato de violência policial na capital paulista, em que um PM que executou um jovem negro em frente a um mercado, atirando pelas costas da vítima.
O procurador-geral de Justiça de São Paulo, Paulo Sérgio de Oliveira e Costa – principal representante do Ministério Público paulista, também emitiu uma nota pública de repúdio à cena, e disse que as imagens são “estarrecedoras e absolutamente inadmissíveis”.
Ele afirmou que já designou que o Grupo de Atuação Especial de Segurança Pública (Gaesp) integre as investigações a fim de “punir exemplarmente” os policiais envolvidos na abordagem.
“Estarrecedoras e absolutamente inadmissíveis! Não há outra forma de classificar as imagens do momento no qual um policial militar atira um homem do alto de uma ponte, nesta segunda-feira. Pelo registro divulgado pela imprensa, fica evidente que o suspeito já estava dominado pelos agentes de segurança, que tinham o dever funcional de conduzi-lo, intacto, a um distrito policial para que a ocorrência fosse lavrada”, disse Paulo Sérgio de Oliveira e Costa.
E acrescentou: “Somente dentro dos limites da lei se faz segurança pública, nunca fora deles. Assim, esta Procuradoria-Geral de Justiça determinará, ainda nesta terça-feira (3/12), que o Grupo de Atuação Especial de Segurança Pública (GAESP) associe-se ao promotor natural do caso para que o MPSP envide todos os esforços no sentido de punir exemplarmente, ao fim da persecução penal, os responsáveis por uma intervenção policial que está muito longe de tranquilizar a população”.
Antes da manifestação do secretário nas redes sociais, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) tinha condenado, em nota, o caso, afirmando que “a Polícia Militar repudia veementemente a conduta ilegal adotada pelos agentes públicos no vídeo mostrado”.
Segundo a SSP, “assim que tomou conhecimento das imagens, a PM instaurou um inquérito policial militar (IPM) para apurar os fatos e responsabilizar os policiais envolvidos nessa ação inaceitável”.
“Todos os policiais que estavam em serviço na área identificada foram convocados e já estão sendo ouvidos. A instituição reitera seu compromisso com a legalidade, sem tolerar qualquer desvio de conduta”, finaliza o comunicado.
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