‘Nada mais ilustrativo do que é o racismo’, diz diretor do Ministério da Igualdade Racial sobre caso de motoboy detido no RS


Diretor de Políticas de Combate e Superação do Racismo, Yuri Silva, afirma que não é necessário ter ofensa racista para configurar discriminação. Governo Federal acompanha caso e cobra sanções disciplinares aos PMs envolvidos na abordagem. Homem negro é ferido e acaba detido em Porto Alegre
Reprodução/Renato Tonin Borges
O Ministério da Igualdade Racial (MIR) considera que o caso do motoboy negro detido pela polícia após ter sido agredido com um canivete em Porto Alegre é um episódio “ilustrativo” do que é o racismo. O fato ocorreu no sábado (17), quando Everton da Silva, de 40 anos, acabou contido pelos policiais, enquanto o homem apontado por testemunhas como o agressor só foi detido posteriormente.
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Em entrevista ao g1, o diretor de Políticas de Combate e Superação do Racismo do MIR, Yuri Silva, disse não ser necessário que exista uma ofensa racial para que o caso seja visto como um episódio de racismo.
“O motoboy era vítima, estava sendo agredido por um homem branco e, ao chamar a polícia, ele é preso e conduzido como se ele fosse o agressor. Não tem nada mais ilustrativo e representativo do que é o racismo do que um fato como esse. Ele não precisava ser chamado de ‘macaco’ para que aquilo se configure um crime de racismo”, afirma.
O que se sabe sobre o caso até agora
Homem negro detido diz que se sentiu ‘um saco de lixo’
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A suposta diferença no tratamento aos envolvidos motivou protestos e críticas nas redes sociais. A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco afirmou, no domingo (18), que “as imagens causaram revolta, com razão, pelos indícios de racismo institucional”.
Yuri Silva disse que a pasta acompanha as investigações do caso e que atua junto a outros ministérios para promover ações de letramento antirracista nas polícias. O diretor de Políticas de Combate e Superação do Racismo do MIR ainda aponta que o governo federal vai verificar a aplicação de medidas disciplinares aos PMs envolvidos na abordagem.
“Os policiais foram afastados, essa é a primeira resposta, mas não é suficiente. É preciso que as sanções disciplinares sejam levadas adiante, mas também que as ações de conscientização, formação e sensibilização, como eu falei, sejam prioridade para que esses próprios agentes possam repensar sua postura e que outros não venham a cometer o mesmo tipo de ação”, destaca.
Homem negro é ferido com faca e acaba detido em Porto Alegre
Depoimentos
Os quatro policiais militares envolvidos na abordagem prestaram depoimento à Polícia Civil na terça (20). Dois dos agentes foram afastados da atuação nas ruas. Um inquérito policial militar aberto pela Brigada Militar (BM) apura as condutas dos PMs. O advogado Fábio Silveira, que defende três policiais, afirma que não houve preconceito na ação.
O motoboy Everton da Silva já foi ouvido pela Polícia Civil e pela BM.
“Foram para cima de mim como se eu fosse um saco de lixo. E eu não sou um saco de lixo. Eu sou um trabalhador como todo mundo que tem nessa rua”, disse.
Em depoimento à Polícia Civil, o homem branco, de 72 anos, alegou que existiria um conflito entre as partes. O idoso estaria incomodado com o barulho e a aglomeração dos motoboys no entorno do local em que mora. O g1 não conseguiu contato com a defesa dele.
De acordo com a delegada Rosane de Oliveira, o idoso admitiu ter atacado o motoboy com uma faca. Em reação, o entregador teria atirado duas pedras contra a perna do morador da rua.
A delegada informou que deve indiciar o motoboy negro e o morador branco por lesão corporal. “Efetivamente, vai ter o indiciamento de lesão corporal de ambas as partes, tanto do motoboy quanto do senhor, que feriram-se mutuamente. O outro delito [racismo na abordagem policial] ainda vai ser apurado”, afirmou.
Segundo a polícia, laudos confirmam que o motoboy teve escoriações no pescoço e o aposentado, na perna e no tornozelo.
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Relembre
A BM, que é a polícia militar do Rio Grande do Sul, abordou um motoboy negro que sofreu um golpe de canivete no pescoço no sábado (17), em uma rua do bairro Rio Branco, em Porto Alegre.
Testemunhas que estavam no local e gravaram a ação dos PMs afirmam que o entregador foi rendido e algemado enquanto o homem branco, apontado como o agressor, não.
Everton da Silva foi colocado no porta-malas de uma viatura policial. Já o morador da rua conseguiu ir até seu apartamento, vestir uma camiseta e deixar o canivete no imóvel. Só depois ele foi algemado e colocado no banco de trás de outro carro da polícia.
Ambos foram levados para uma delegacia, onde foi feita a ocorrência de lesão corporal, e foram liberados. O homem negro ainda denunciou que houve racismo por parte da BM, o que é apurado pela Polícia Civil.
O homem negro sofreu escoriações no pescoço, que teriam sido provocadas pelo canivete; já o homem branco sofreu escoriações na perna.
A suposta diferença no tratamento aos envolvidos motivou um protesto de motoboys no domingo (18) e também repercutiu nas redes sociais.
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