Cavernas, mata fechada, animais peçonhentos e chuva: veja dificuldades enfrentadas nas buscas por foragidos do presídio federal de Mossoró


Dupla fugiu da penitenciária de segurança máxima em 14 de fevereiro. 500 agentes de segurança trabalham nas buscas. Policiais fizeram buscas por fugitivos da Penitenciária Federal de Mossoró no Parque Nacional Furna Feia
Divulgação
As buscas pelos foragidos da Penitenciária Federal de Mossoró na zona rural de Mossoró e de Baraúna, último município do Rio Grande do Norte a Oeste, antes da divisa com o Ceará, enfrentam dificuldades naturais da Caatinga, o bioma da região.
Mata fechada, grutas, animais peçonhentos como cobras, aranhas e escorpiões, forte insolação, calor e a época de chuva na região são alguns dos empecilhos enfrentados pelos mais de 500 agentes envolvidos na ação de recaptura.
Buscas acontecem na área do Parque Nacional Furna Feia
Reprodução
“Embora a gente possa ter árvores com 18 ou 20 metros, o normal são árvores com média de três a cinco metros de altura, e uma área embaixo muito emaranhada, muito fechada, com espinhos, com plantas que se enrolam uma nas outras e formam verdadeiras camas de gato. E como estamos no período de chuva, a mata fica bem densa, fechada”, afirma Leonardo Brasil, gestor do Parque Nacional Furna Feia, localizado há 6,5 km ao Norte do presídio.
Gruta no Parque Nacional Furna Feia, entre Mossoró e Baraúna
ICMBio/Divulgação
“A região com mata não é uma área de fácil deslocamento. Para ser rápido, tem que ser por trilhas de caçador, de gado, de ciclistas”, complementa.
Em visita a Mossoró no domingo (18), o ministro da Justiça e da Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, alegou que a complexidade do terreno é um ponto de dificuldade para os trabalhos. Também afirmou que não há prazo para a captura dos presos.
O parque preserva uma área com mais de 8,5 mil hectares do bioma da Caatinga e ainda conta com uma zona de amortecimento que começa a 2 km do presídio, próximo à RN-015. Somada à unidade, a zona compreende 25 mil hectares, o equivalente a aproximadamente 25 mil campos de futebol. Segundo Leonardo, embora as grutas não sejam comuns em todas as áreas de caatinga do Nordeste, são uma característica da região Oeste potiguar.
Vista panorâmica do Parque Nacional Furna Feia
Isis Evelen/ICMBio/Divulgação
Criada em 2012 e gerida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a unidade de conservação é a que contabiliza o maior número de cavernas por hectare, no país, segundo o gestor. São 207 grutas dentro da área de preservação, além de outras 44 no entorno, na chamada zona de amortização.
O parque possui 56% de sua área no município de Baraúna e os 44% restantes em Mossoró. Segundo o gestor, juntos, os dois municípios possuem mais de 300 grutas.
O parque e a área no entorno também contam com animais peçonhentos e felinos como a Jaguatirica. Nos lajedos de rocha calcária, é possível encontrar serpentes perigosas, como a jararaca e cascavel, que vão a esses locais em busca de presas, tais como ratos e mocós. Também há aranhas e escorpiões na área.
Aranha encontrada no Parque Furna Feia, no RN
Isis Evelen/ICMBio/Divulgação
Segundo o Leonardo, que é biólogo, além da mata nativa, a região ainda possui fazendas de fruticultura irrigada, com plantações de mamão e banana, por exemplo, que podem ser usadas como esconderijo pelos foragidos.
Características da região
Vegetação de caatinga fechada, com árvores com média de três a cinco metros de altura.
A região é quente, tem forte insolação e está no período de chuvas.
Os municípios de Mossoró e Baraúna contam com mais de 300 grutas que podem ser usadas como esconderijo.
Há presença de animais peçonhentos como cobras jararaca e cascavél, além de aranhas e escorpiões. Também existem felinos na região.
Além da mata nativa, a fruticultura irrigada também gera hectares de terras que podem ser usados como esconderijos
Mudança de rotina
O gestor declarou que as forças de segurança realizaram buscas pelos foragidos dentro da unidade de conservação, mas não confirmou se agentes continuam na área. Desde a fuga dos presos, as equipes que trabalham dentro da unidade também passaram por mudanças na rotina. As atividades de pesquisa, monitoramento e educação ambiental foram interrompidas. Os fiscais ambientais andam armados.
“No caso das atividades de manutenção e prevenção e combate a incêndio, eu pegava uma equipe de brigadistas e botava dois lá na frente, 500 metros na frente outros dois, para eles irem fazendo a manutenção da cerca. Agora a equipe está andando em grupos maiores, para evitar alguém ficar exposto. Estamos tomando cuidado maior para não deixar equipamentos em cima dos carros, trancando os carros e levando a chave junto, aumentando a atenção”, afirmou.
Sete dias de buscas
Sinal de celular de fugitivos de penitenciária indica que eles estão entre RN e CE
As buscas pelos fugitivos da Penitenciária Federal de Mossoró (RN) entraram, nesta terça-feira (20), no sétimo dia. Rogério Mendonça e Deibson Nascimento escaparam da unidade na madrugada do dia 14 de fevereiro. Foi a primeira fuga de um presídio de segurança máxima no Brasil desde a criação do sistema, em 2006.
Nesta segunda-feira (19), o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, autorizou o uso da Força Nacional para ajudar nas buscas. Segundo o Ministério da Justiça, serão enviados 100 homens e 20 viaturas para a região.
As equipes vão se juntar aos mais de 500 agentes, entre policiais federais, rodoviários federais – incluindo equipes de elite – e policiais locais (militares e civis) que trabalham para recapturar a dupla.
Cartaz com fotos do fugitivos foi espalhada em vários pontos de Baraúna
Ayrton Freire/Inter TV Cabugi
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O reforço nas buscas foi pedido pelo diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Passos, e acordado com a governadora do Rio Grande da Norte, Fátima Bezerra.
Entre as últimas informações sobre o possível paradeiro dos fugitivos, estão as investigações que apontaram que o último sinal obtido dos celulares que estavam sendo usados por eles foi no sábado (17), em uma área rural, perto da divisa do Rio Grande do Norte com o Ceará.
Os celulares foram roubados dos moradores de uma casa que foi invadida pelos detentos na sexta-feira (16), última vez em que eles foram vistos, na comunidade de Riacho Grande, a 3 quilômetros de distância da penitenciária. Os aparelhos celulares silenciaram desde sábado e a suspeita é de que as baterias tenham acabado.
Nesta segunda-feira, as forças de segurança intensificaram as buscas pelos fugitivos na região de Baraúna, cidade na divisa com o Ceará, onde o último sinal de celular foi obtido. As cidades de Baraúna e Mossoró são ligadas pela RN-015, estrada onde fica a penitenciária.
A possibilidade de que os fugitivos estejam na região mudou a rotina da comunidade Juremal, em Baraúna. Moradores e comerciantes relataram que estão com medo e têm fechado as casas e os comércios mais cedo do que de costume.
Fuga da Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte
Arte/G1
Os principais envolvidos na força-tarefa de recaptura acreditam que os dois criminosos permanecem na região e não conseguiram se distanciar dos arredores do presídio.
A operação conta com helicópteros, drones, cães farejadores e outros equipamentos tecnológicos sofisticados.
Movimentação de policiais na entrada de Baraúna
Gustavo Brendo/Inter TV Cabugi
Pistas encontradas próximas ao presídio
Na quarta-feira (14) – mesmo dia da fuga – uma outra casa foi invadida na zona rural de Mossoró, a cerca de 7 km da penitenciária. Objetos pessoais como camiseta e uma colcha de cama foram furtados.
A polícia foi acionada e fez buscas na área. Na quinta-feira (15) objetos foram encontrados em uma área de mata. Um dos moradores da região confirmou aos investigadores que, entre os itens, estava uma colcha de cama furtada de sua casa.
Camiseta de uniforme de presidiário encontrada durante as buscas pelos fugitivos do presídio de segurança máxima de Mossoró
Divulgação
A Polícia Federal também recolheu material biológico desta casa. As amostras encontradas serão confrontadas com informações genéticas dos fugitivos.
Já na sexta-feira (16), com a ajuda de cães farejadores, uma camiseta de uniforme de presidiário foi encontrada na mata.
Fuga após retirada de luminária
O Fantástico mostrou como são, por dentro, as celas de onde os presos fugiram, e também a dinâmica da fuga. Os detentos – que estavam em celas individuais lado a lado – conseguiram escapar ao retirarem as luminárias das celas. Para isso, utilizaram pedaços de ferro.
A investigação trabalha com a hipótese de que os ferros podem ter sido retirados da estrutura da cela, como das paredes ou até debaixo de uma mesa – também de concreto. Os detentos também usaram uma mistura de sabonete e papel higiênico como uma espécie de reboco para camuflar os buracos feitos.
Imagens exclusivas das câmeras de segurança mostram a fuga na Penitenciária Federal de Mossoró
Após saírem da cela, eles entraram num espaço conhecido como ‘shaft’, onde passam dutos e a rede elétrica, e que deu acesso ao teto da penitenciária, de onde desceram para uma área externa.
Em seguida, cortaram a grade de arame do pátio – com um alicate, que a investigação acredita que estava na obra – e fugiram sem serem notados.
Morte de adolescente, rebelião: quem são os fugitivos
Nomes de fugitivos da Penitenciária Federal de Mossoró já aparece na lista da Interpol
Reprodução
Os dois presos são do Acre e estavam na Penitenciária de Mossoró desde 27 de setembro de 2023. Eles foram transferidos após participarem de uma rebelião no presídio de segurança máxima Antônio Amaro, em Rio Branco, que resultou na morte de cinco detentos – três deles decapitados.
Os dois homens são ligados ao Comando Vermelho, facção de Fernandinho Beira-Mar, que também está preso na unidade federal de Mossoró.
Rogério da Silva Mendonça é acusado de assaltos no Acre. Já preso foi acusado de mandar matar o adolescente Taylon Silva dos Santos, de 16 anos, em abril de 2021, quando já estava preso. Após o crime, Rogério foi transferido para o Presídio Antônio Amaro Alves, na capital, para o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), onde ficou desde então, até ter sido transferido ao Rio Grande do Norte.
Rogério responde a mais de 50 processos. Ele é condenado a 74 anos de prisão, somadas as penas, de acordo com o Instituto de Administração Penitenciária do Acre (Iapen-AC).
Já Deibson Cabral Nascimento tem o nome ligado a mais de 30 processos e responde por crimes de organização criminosa, tráfico de drogas e roubo. Ele tem 81 anos de prisão em condenações.
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