Em 1ª entrevista sobre acordo no qual confessa propina, Traiano diz estar com ‘consciência tranquila’ e que fez o que a lei permitiu


Presidente da Alep firmou acordo com o Ministério Público para não responder a processos. Caso veio à dona em dezembro. Deputado Ademar Traiano fala sobre acordo em que confessou receber propina
Nesta segunda-feira (19) o presidente da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), Ademar Traiano, falou pela primeira vez em uma entrevista coletiva na entrada do plenário desde a divulgação, há mais de dois meses, sobre acordos firmados por ele e pelo ex-deputado Plauto Miró com o Ministério Público no qual confessaram ter pedido e recebido propina.
Traiano foi questionado pela reportagem da RPC sobre como teria sido a negociação da propina com o empresário Vicente Malucelli – da TV Icaraí (assista acima).
“Primeiro, a própria na sua primeira Globo disse que foi doação de campanha. Eu continuo dizendo que foi doação de campanha, e o acordo que eu fiz foi dentro da legalidade, não respondo a nenhum processo na esfera tanto do Ministério Público quanto do Tribunal de Justiça. Estou com a consciência tranquila, fiz aquilo que a lei me permitiu, estou assegurado pela lei e tudo o que se fala por aí não está em consonância com aquilo que a legislação permitiu fazer”, disse.
✅ Siga o canal do g1 PR no WhatsApp
✅ Siga o canal do g1 PR no Telegram
Na sequência, Traiano foi questionado sobre como a verba teria sido doação de campanha se a campanha eleitoral já teria acabado.
“Qualquer doação de campanha pode acontecer a qualquer momento, independe de tempo, é assim que acontece no mundo político”, respondeu o presidente da Alep.
Porém, conforme os registros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), não há registros de doação de campanha por parte do empresário Vicente Malucelli a Traiano.
As investigações vieram à tona em dezembro de 2023 com a revelação de delação do empresário na qual cita as negociações da vantagem indevida na renovação do contrato da empresa com a Alep.
Veja um dos trechos da delação:
“Traiano falando que ‘pô, nós precisávamos de uma verba pra campanha, uma ajuda de campanha’. Eu inicialmente me fingi de desentendido, o Plauto não abriu a boca, e o Traiano escreveu num papel o valor de R$ 300.000,00. Aí eu falei ‘vou repassar pro acionista principal e eu venho com o retorno’. […] Eu entendi naquele momento que se eu não colaborasse ou se não desse essa ajuda de campanha eu ia ter o contrato rescindido, foi esse o nosso entendimento, mas o Joel ficou bastante consternado com o valor e depois de algumas diligências com ele, consignamos que íamos pagar R$ 200.000,00, R$ 100.000,00 pra cada um. E aí eu voltei com a informação, uma semana depois ou três, quatro dias depois, e eles aceitaram”.
Os acordos firmados por Traiano e Plauto, contudo, não citam doações de campanha, mas sim corrupção passiva. A RPC voltou a questionar nesta segunda o presidente da Casa sobre o tema, pediu uma entrevista, mas não recebeu uma resposta.
LEIA TAMBÉM: Representações por quebra de decoro contra Traiano e Renato Freitas vão ao Conselho de Ética da Alep
Presidente da Alep, Ademar Traiano (PSD)
Alep
MP recorre de decisão que mantém provas sob sigilo
Nesta segunda, Traiano também foi questionado sobre porque não dar transparência ao processo. O parlamentar respondeu ser um direito que lhe cabe: “Como homem público, exposto, estou aqui perante a sociedade que não devo nada à justiça”, disse.
O Ministério Público recorreu da decisão da Justiça que manteve as provas contra Traiano e Plauto sob sigilo. As provas fazem parte de processos nas áreas civil e penal.
A Justiça, em primeiro grau, chegou a derrubar o segredo de todo o processo que livrou os dois políticos de responder por improbidade administrativa – mas por pouco tempo.
As defesas recorreram e o desembargador Luis Matheus de Lima decidiu decretar sigilo novamente. Permanecem em segredos as provas do crime de corrupção.
Ao recorrer da decisão, o subprocurador geral de assuntos jurídicos, Mauro Sergio Rocha e o promotor Gustavo de Macedo afirmam que, homologados os acordos, não existe qualquer razão para que não se torne pública a investigação – inclusive declarações de colaboradores e elementos que a corroboram – , porque nada sobra para se apurar e as declarações dos colaboradores foram confirmadas pela investigação.
Entre as provas que continuam em sigilo está um áudio com as negociações de pagamentos entre o Traiano e Vicente Malucelli.
O conteúdo do áudio se tornou público quando o deputado Renato Freitas (PT), anexou a transcrição da conversa no processo em que se defende da acusação quebra de decoro parlamentar, por chamar Traiano de corrupto.
Ainda não há decisão sobre o recurso do MP.
Em nota, o Tribunal de Justiça disse que o processo continua em sigilo absoluto e que não comenta decisões.
A defesa do ex-deputado estadual Plauto Miró disse que não vai se manifestar, e a de Vicente Malucelli disse que não pode se manifestar pelo sigilo ainda em vigor.
O departamento jurídico que representa o grupo J. Malucelli e Joel Malucelli informou que não tem nada a declarar sobre o assunto.
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) também pede o fim do segredo sobre as provas de corrupção.
Em nota, a organização afirma que não há motivos relevantes para a tramitação em sigilo absoluto neste momento, uma vez que o acordo de não persecução penal já foi homologado e há interesse público a ser defendido, inclusive no que diz respeito aos necessários desdobramentos na esfera administrativa, decorrentes da confissão de atos de corrupção pelo chefe do poder legislativo – Ademar Traiano – que, segundo a nota, são incompatíveis com o exercício da presidência.
VÍDEO: Os mais assistidos do g1 PR
Leia mais notícias em g1 Paraná.
Adicionar aos favoritos o Link permanente.