Vídeo mostra catador de recicláveis uma hora antes de ser morto a tiros pela PM no litoral de SP


José Marcos Nunes da Silva, de 45 anos, foi alvejado dentro do barraco onde vivia em comunidade no bairro Jóquei Clube, em São Vicente (SP). Família alega que ele era inocente. Vídeo mostra catador de recicláveis uma hora antes de ser morto a tiros pela PM
Um vídeo, obtido pelo g1, mostra o catador de recicláveis José Marcos Nunes da Silva cerca de uma hora antes de ser morto por policiais militares dentro do barraco onde morava no bairro Jóquei Clube, em São Vicente, no litoral de São Paulo. Segundo o boletim de ocorrência, ele portava uma arma e disparou contra os agentes, que revidaram. A família afirma que ele era inocente (assista acima).
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O advogado Walisson dos Reis Pereira está representando os familiares de José Marcos, que tinha 45 anos quando foi morto na madrugada do dia 3 de fevereiro. Ele contou ao g1 que os parentes estão se sentindo intimidados com visitas de policiais nos barracos na comunidade desde a morte de José.
Nas imagens de câmeras de monitoramento, obtidas pela reportagem, José aparece de bicicleta, vestindo uma camiseta azul, em frente a um estabelecimento comercial, próximo a rua onde ele vivia. Com uma latinha em mãos, ele conversa e cumprimenta algumas pessoas. Depois, é visto procurando algo em uma bolsa e se afasta.
“Ele estava tomando uma cervejinha e voltou pra casa para pegar dinheiro. Saiu e, por volta de 2h da manhã, ouviram as torturas e os disparos”, disse o advogado.
Segundo apurado pelo g1, os familiares estão com medo de represálias após o assassinato de José. Walisson levou os relatos à corregedoria da Polícia Militar.
Imagens foram gravadas por volta de 1h20 do último sábado (3), em São Vicente (SP)
Reprodução
Versão dos policiais
Segundo o boletim de ocorrência, policiais militares relataram que estavam na Avenida Sambaiatuba quando avistaram um homem em uma viela. Ele teria desobecedido à ordem de parada, fugido e corrido para dentro de um barraco.
Um PM contou ter visto o homem com arma em punho e disparando em direção à equipe. Então, ele reagiu com um disparo e, em seguida, recuou para se abrigar, chamando um colega.
Os dois foram em direção ao barraco e efetuaram um disparo cada. Um dos policiais viu o homem cair e o outro o desarmou, momento em que foi feita uma varredura. Ainda segundo o boletim de ocorrência, no loca, foi encontrada uma mochila com substâncias similares a drogas e um caderno de anotações do tráfico.
O homem foi levado ao Pronto-Socorro Central, onde a morte teria sido constatada. O caso foi registrado como resistência, drogas sem autorização ou em desacordo, posse ilegal de arma de fogo de uso restrito e morte decorrente de intervenção policial.
Versão da família
Ao contrário do que foi registrado no boletim de ocorrência, a família afirmou que José Marcos era um catador de recicláveis e não tinha envolvimento com tráfico, apesar de ter problemas de vício em drogas.
Uma familiar, que preferiu não ser identificada, contou que uma amiga ouviu três disparos por volta de 2h30. Um vizinho escutou José gritando “vocês vão matar um inocente!” e “eu amo minhas filhas, minhas filhas me amam”. Depois disso, escutou um último disparo e mais nada.
Segundo a fonte ouvida pela equipe de reportagem, José era usuário de drogas e chegou a ser preso em 2010 pelo furto de pedaços de ferro. Familiares afirmam que o registro do boletim é mentiroso. “Muita gente conhecia ele. Muita gente sabia que ele não fazia nada disso”, afirmou.
Conforme o relato, os policiais ainda intimidaram outros moradores da comunidade. O corpo teria sido deixado dentro do barraco por cerca de uma hora antes de ser levado para o pronto-socorro e reconhecido por familiares.
A equipe de reportagem entrou em contato com a Polícia Militar para um posicionamento sobre a denúncia do advogado da família, mas ainda não obteve retorno.
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