Parque Nacional Cavernas do Peruaçu deve se tornar Patrimônio Mundial Natural em 2025


Com mais de 56 mil hectares de área, parque mineiro possui cavernas, sítios arqueológicos e fauna abundante. Título traria mais visibilidade e investimento para o local. Parque Nacional Cavernas do Peruaçu abrange os municípios de Januária, São João das Missões e Itacarambi, localizados no Norte de Minas Gerais
Chico Escolano/ TG
No Brasil, sete sítios naturais já foram reconhecidos pela Unesco como Patrimônio Mundial Natural, como o Parque Nacional do Iguaçu e as reservas da Mata Atlântica do Sudeste. Agora, a novidade é que a lista pode aumentar com a candidatura do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, área preservada com mais de 56 mil hectares que abrange os municípios de Januária, São João das Missões e Itacarambi, localizados no Norte de Minas Gerais.
Coordenador local da candidatura, Leonardo Giunco diz que o reconhecimento tem fundamental importância para o parque, pois atrairia, sobretudo, turistas do mundo todo.
“Isso traz maiores investimentos para a região, que é muito carente de atividades econômicas. O turismo sustentável auxiliará em muito a conservação do Parque Nacional e seu entorno, e proporcionará às populações e comunidades locais melhoras da qualidade de vida, com novas oportunidades de emprego e negócios. É um ciclo benéfico a todos, da natureza ao homem”, relata.
Com fauna e flora abundante, mais de 140 cavernas e inúmeros sítios arqueológicos que preservam parte da arte rupestre encontrada no país, o território pertencente ao parque permite ao visitante observar três biomas brasileiros: Cerrado, Caatinga e Mata Seca, também chamada de Mata Atlântica Decidual.
Veja alguns cenários do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu
A candidatura veio 25 anos depois da inscrição feita pelo IBAMA, em 1998, e, desde esse período, o local já se enquadra em diversos critérios estabelecidos previstos na Lista Indicativa da Unesco, como ser um exemplo representativo de fenômenos naturais ou áreas de beleza natural e de importância estética excepcionais, além de corresponder enquanto processo geológico evolutivo.
Leonardo reforça, ainda, que o trabalho envolveu muitas pessoas e instituições, sendo fruto de várias articulações políticas e resiliência.
O Peruaçu é tão impressionante que dos dez critérios estabelecidos, ele se encaixa em oito, o que nos dava a possibilidade de se inscrever na categoria Mista, que abrange patrimônios naturais e culturais, mas o governo brasileiro optou pela estratégia de apresentar a candidatura apenas na Categoria Natural, nos critérios beleza cênica e evolução das várias fases geológicas do planeta, mais precisamente o processo de formação singular do cânion no Rio Peruaçu.
“A opção de concorrer apenas em uma categoria foi para agilizar o processo. Nenhum outro patrimônio mundial já reconhecido possui tal qualidade e isso pode facilmente ser observado pelo visitante no interior do Parque Nacional”, reforça.
Formação geológica única do cânion do Rio Peruaçu chama a atenção
Arquivo TG
O cânion do Rio Peruaçu chama a atenção com seus 17 km de comprimento, que permite considerá-lo como um dos maiores do mundo dentro de um vale cárstico, tipo de relevo geológico característico de cavernas e dolinas que é decorrente da corrosão de rochas. O local possui um desnível vertical de mais de 200 metros, testemunhas vivas do processo evolutivo único do cânion.
Processo de candidatura
Para se tornar Patrimônio Mundial, primeiramente um sítio tem que se encaixar no mínimo em um dos dez critérios que a Unesco estabelece, tanto na categoria Natural como Cultural.
Uma vez preenchendo estes requisitos, o sítio passa integrar uma Lista Indicativa da Unesco, que habilita a apresentação da candidatura.
As diversidade de aves do Parque Nacional das Cavernas do Peruaçu encanta e surpreende
Terra da Gente
De 1998, quando foi feita a inscrição do Peruaçu, até este ano, ocorreram muitas articulações políticas, reuniões, audiência pública promovida pela Assembléia Legislativa de Minas Gerais e audiência pública federal promovida pela Comissão de Turismo da Câmara dos Deputados.
Além disso, foram implementadas campanhas educativas e divulgação, visitas técnicas por especialistas (espeleólogos, arqueólogos, geólogos) do Brasil e também do exterior, com os representantes da UIS (Union International Speleology).
Território pertencente ao parque permite ao visitante observar três biomas brasileiros: Cerrado, Caatinga e Mata Seca, também chamada de Mata Atlântica Decidual
Arquivo TG
“No final de 2023, o governo brasileiro, através do Núcleo de Áreas Protegidas e do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas (CECAV), ambos ligados ao Ministério do Meio Ambiente, em articulação com a embaixadora do Brasil na França, resolveram apresentar a candidatura do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu”, diz Leonardo Giunco.
Em apenas três meses, eles construíram toda a documentação necessária para candidatura, o chamado dossiê, que foi apresentado na Unesco em 1 de fevereiro de 2024.
Tornar-se Patrimônio Mundial Natural fará com que Cavernas do Peruaçu ganhe status maior de proteção
Arquivo TG
A construção geral do dossiê foi realizada por Leonardo Giunco enquanto coordenador local do Parque, além dos representantes do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima Bernardo Issa e Jocy Brandão.
Próximos passos
O dossiê foi entregue na Unesco e agora será encaminhado para a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), órgão técnico e científico auxiliar da Unesco nas análises para o reconhecimento a Patrimônio Mundial, onde será analisado e realizado os apontamentos técnicos iniciais.
Detalhe de grafismos rupestres em paredão do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu
José Israel Abrantes
Após esta fase, uma comissão da IUCN virá ao Brasil visitar o Parque Nacional e fazer os relatórios de diagnóstico constatado, sugerindo correções, alterações, informações complementares ou aprovando o dossiê da maneira que se encontra.
“Este processo deverá se estender até o final de 2024. Encerrada esta fase e havendo o parecer final favorável, o relatório é encaminhado à Unesco, que realizará em 2025 uma votação onde os países membros da organização votam pelo reconhecimento ou não do Peruaçu como Patrimônio Mundial”, explica Leonardo Giunco.
Fauna abundante é um dos atrativos para os visitantes
Arquivo TG
De acordo com o geógrafo e analista ambiental do ICMBio Bernardo Issa, quando um bem é inscrito na lista do Patrimônio Mundial, é o reconhecimento de que ali existe uma coisa excepcional, ou seja, um valor para humanidade.
“Ele ganha um status de proteção a nível mundial. É uma responsabilidade para a gestão, mas uma grande oportunidade para o desenvolvimento do turismo”, ressalta.
Como visitar o Parque Nacional Cavernas do Peruaçu
O parque tem um território muito extenso, entretanto, a área aberta para visitação fica limitada no cânion do Rio Peruaçu, que corta toda o vale formando cavernas com dimensões gigantescas, algumas com mais de 4 km de extensão e galerias com mais de 170 metros de altura.
A perna da bailarina, estalactite no Parque Nacional do Peruaçu, em MG
Reprodução/TV Globo
Por lá, tudo é muito superlativo, a começar da Perna da Bailarina, a maior estalactite (depósitos minerais originados por gotejamento através de fendas ou furos no teto da caverna) do mundo, com 28 metros de comprimento, o equivalente a um prédio de sete andares e que pode ser vista dentro da Gruta do Janelão.
São diversos sítios arqueológicos abertos ao público, alguns com painéis de pintura rupestres com mais de 25 metros de extensão, como a Gruta do Caboclos e a Desenhos.
Caverna do janelão, no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu.
TV Globo/Reprodução
É recomendado ao visitante de 3 a 4 dias para visitar o Parque Nacional , onde percorrerá vários roteiros: Janelão/Bonita, Arco do André/Desenhos, Rezar e Caboclos/Carlúcio.
Para visitar o Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, o turista pode descer de avião em Montes Claros e dali seguir de carro por 180 km até o Parque Nacional. O parque fica a 47 km de Januária, a 46 km de São João das Missões e a 20 km de Itacarambi.
O parque possui centro de visitantes e é controlado por funcionários do ICMbio. Também possui equipes de vigilância e brigadas de incêndio.
Detalhe de grafismos rupestres em paredão do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, Minas Gerais
José Israel Abrantes
Não é cobrado ingresso para visitação, entretanto, é necessário a contratação de um condutor local para adentrar no interior do parque. Os condutores cobram em média de R$ 200,00 por grupo, a depender do roteiro. Por regras internas, cada grupo pode ter no máximo 8 pessoas.
Dentro da área do parque, mas nas partes mais extremas, ainda existem duas comunidades quilombolas e a aldeia indígena Xacriabá, que vive às margens do rio Itacarambi e há muitos anos sobrevivem à lutas contra bandeirantes, pecuaristas e garimpeiros para proteger suas terras.
Mais opções na região
Se o visitante estiver com a agenda com mais livre, poderá se aventurar em inúmeras atrações naturais e culturais que a região oferece como as praias e as ilhas do Rio São Francisco, além do tradicional passeio de barco, visitar os diversos alambiques na cidade Januária, que ainda mantém a rusticidade e a tradição do século passado, conhecer as cachoeiras do rio Pandeiros (60 km de Januária).
Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, Minas Gerais
José Israel Abrantes
Outras opções são a Serra das Araras (100 km de Januária) e os atrativos Vão dos Buracos e Parque Nacional Grande Sertão Veredas, ambos na cidade de Chapada Gaúcha (160 km de Januária).
Patrimônios Mundiais Naturais no Brasil
Vista panorâmica das quedas no lado brasieliro
Cristian Rizzi/Parque Nacional do Iguaçu
Parque Nacional do Iguaçu (1986);
Reservas da Mata Atlântica do Sudeste (1999);
Reservas de Mata Atlântica da Costa do Descobrimento (1999);
Áreas de Conservação do Pantanal (2000);
Complexo de Conservação da Amazônia Central (2000/2003);
Ilhas Atlânticas Brasileiras: Reservas de Fernando de Noronha e Atol das Rocas (2001);
Áreas Protegidas do Cerrado: Chapada dos Veadeiros e Parque Nacional das Emas (2011);
Patrimônios Mundiais Culturais no Brasil
Igreja São Francisco de Assis, na cidade histórica de Ouro Preto, na Região Central de Minas Gerais
Xará/Divulgação
Centro Histórico de Ouro Preto, em Minas Gerais (1980);
Centro Histórico de Olinda, em Pernambuco (1982);
Missões Jesuíticas Guaranis – ruínas de São Miguel das Missões, no Rio Grande do Sul (1983);
Centro Histórico de Salvador, na Bahia (1985);
Santuário do Bom Jesus de Matozinhos, em Congonhas, Minas Gerais (1985);
Conjunto urbanístico-arquitetônico de Brasília (1987);
Parque Nacional Serra da Capivara, no Piauí (1991);
Centro Histórico de São Luís, no Maranhão (1997);
Centro Histórico de Diamantina, em Minas Gerais (1999);
Centro Histórico de Goiás (2001);
Praça São Francisco, em São Cristóvão, no Sergipe (2010);
Paisagem entre montanha e mar do Rio de Janeiro (2012);
Conjunto Moderno da Pampulha, Belo Horizonte, Minas Gerais (2014);
Cais do Valongo, no Rio de Janeiro (2017);
Patrimônios Mundiais Naturais e Culturais
As barreiras entre um bem natural e um bem cultural se interlaçam, pois, ao mesmo tempo, podem ter valores naturais e culturais. Por esse motivo a Unesco dá o nome de Patrimônio Misto à aqueles que se encaixam nas duas categorias.
Cidade sagrada de Machu Picchu está a 2.340 metros acima do nível do mar e é rodeada de montanhas
Enrique Castro-Mendivil / Reuters
A lista se expande a cada dois anos com novas inserções, mas é notável que, patrimônio misto é aquele cuja importância ultrapassa os limites geográficos, sendo sua conservação e preservação relevantes para todos os povos do mundo.
Exemplos disso são:
Santuário Histórico de Machu Picchu, no Peru: o símbolo mais típico do Império Inca.
Parque Nacional Tikal, na Guatemala: um dos locais mais importantes da civilização maia.
Cordilheira dos Pireneus: localizada entre França e Espanha, abriga imponente montanha de calcário maciço chamada de Monte Perdido;
Calakmul: o maior sítio arqueológico maia no México.
No Brasil, apenas Paraty e Ilha Grande, ambas no Rio de Janeiro, são consideradas Patrimônio Misto. O feito ocorreu em 2019, em razão do ambiente natural exuberante e cultura ancestral.
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