EXCLUSIVO: novas imagens mostram criminosos após assalto milionário em cofre paraguaio; brasileiros estão entre suspeitos


Os investigadores descobriram que os ladrões colocaram o plano em prática no fim de 2022, utilizando um túnel de 180 metros que passa debaixo de um banco. Bandidos constroem túnel e roubam milhões no Paraguai
Em uma ação ousada em Cidade do Leste, na fronteira do Paraguai com o Brasil, bandidos construíram um túnel por mais de um ano sem que ninguém percebesse e roubaram milhões de um cofre de doleiros paraguaios.
O trabalho foi feito sem pressa, com mostram as imagens exclusivas obtidas pelo Fantástico. Nelas, é possível ver os criminosos deixando o local com caixas cheias de dinheiro. Tudo foi feito com muito cuidado, perto da rua mais movimentada da cidade e não chamou a atenção das autoridades paraguaias.
Imagens mostram criminosos levamdo caixas cheias de dinheiro em assalto no Paraguai.
TV Globo/Reprodução
O alvo foi a Associação de Trabalhadores de Câmbio do Paraguai. No país vizinho, cambista são como são conhecidas as pessoas que trabalham negociando moeda estrangeira nas ruas. São doleiros que guardam dinheiro no cofre da associação, localizado em um ponto estratégico da cidade.
“Nunca (tinha acontecido) em 32 anos que temos um cofre”, disse o presidente da associação, Walter Fernandez. Ao saber do assalto, ele revela que quase desmaiou.
Trabalho de cambista é comum na cidade que faz fronteira com o Brasil.
TV Globo/Reprodução
Os investigadores descobriram que os ladrões colocaram o plano em prática no fim de 2022. A quadrilha alugou um imóvel e montou um negócio de fachada: uma loja que vendia camisetas esportivas durante o dia e, à noite, o lugar servia como base para construir o túnel, centímetro a centímetro.
VÍDEO: Criminosos cavam túnel para roubar associação de cambistas no Paraguai
O túnel entre a loja e o cofre da associação tem 180 metros de comprimento e passa por baixo de um banco.
Túnel feito pela quadrilha atravessou avenida e passou por baixo de banco.
TV Globo/Reprodução
O cofre roubado fica no subsolo de uma espécie de quiosque. Ao chegar lá, por baixo da terra, os criminosos quebraram uma parede lateral na sala do cofre. Tiveram acesso às 148 gavetas – que são cofres menores. Cada cambista paraguaio tem a sua.
Os bandidos levaram o dinheiro e até ouro de 120 delas.
“É inacreditável, como vai atravessar a rua? Três ruas, atravessaram, um edifício e um banco”, fala o presidente da associação.
Ainda não se sabe exatamente quanto os ladrões levaram. As estimativas variam de US$ 2 milhões a US$ 16 milhões, o que chegaria ao equivalente a R$ 80 milhões. Essa diferença tem a ver com o que foi relatado pelos próprios cambistas.
A polícia paraguaia diz que apenas três doleiros procuraram a delegacia. O presidente da associação diz que os relatos de cifras mais altas podem prejudicar os cambistas – que teriam que comprovar a origem de todo esse dinheiro.
“As casas de câmbio são nossas adversárias. Então, estão aproveitando essa situação para nos deixar mal”, contou.
Mas investigadores ouvidos pelo Fantástico acreditam que os bandidos não iam correr tanto risco e dedicar tanto tempo se não tivessem a certeza de faturar alto com a empreitada. Afinal, a obra foi complexa.
Depois de abrir um buraco no piso da loja, os criminosos cavaram um poço vertical de 7 metros de profundidade para começar o túnel. Na primeira parte são 100 metros num espaço de mais ou menos 70 cm de altura por 70 cm de largura, onde só é possível rastejar.
No trecho em que o terreno é mais rochoso, fizeram uma pequena curva e em seguida começaram as escavar os últimos 27 metros para cima, numa subida íngreme até chegar à sala do cofre da associação dos cambistas.
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Travessia difícil
Por questões de segurança, as autoridades paraguaias não permitem acesso ao túnel. O Fantástico encontrou os dois primeiros policiais que entraram no buraco e eles contam que levaram mais de 3 horas rastejando para cruzar os 180 metros. Em meio a muita umidade, lama e até esgoto.
Policiais levaram 3 horas para atravessar o túnel.
TV Globo/Reprodução
“Tinha dificuldade para respirar. Não escutava nada”, diz o suboficial da Polícia Nacional do Paraguai, Franco Garcete.
Para fazer o ar circular lá dentro, os criminosos usaram ventiladores e abriram caminho com ferramentas especiais como brocas com ponta de diamante e dinamite líquida.
A comunicação era feita por um telefone com fio. Os agentes também se depararam com uma armadilha deixada pelos criminosos: explosivos, que só não foram detonados com a presença deles porque faltou um conector no sistema.
Policiais encontraram explosivos deixados pelos criminosos
TV Globo/Reprodução
“Era muito arriscado trabalhar em um espaço tão pequeno. Por que são explosivos muito sensíveis”, diz o suboficial Antônio Burgos.
Esquema quase foi descoberto
Os ladrões poderiam ter sido descobertos enquanto faziam a obra, já que o banco que está sobre o túnel tem sensores de movimento que foram acionados algumas vezes à noite, agora se sabe, enquanto os criminosos trabalhavam.
A polícia paraguaia – que era acionada automaticamente com o disparo do alarme – foi até o local para fazer a checagem, mas não encontrou nada.
Os investigadores paraguaios dizem que já identificaram três suspeitos. O casal que alugou o imóvel e um homem que teria ligação com o PCC, facção criminosa envolvida em vários assaltos a banco no Brasil.
A Polícia Federal brasileira já auxilia nas investigações e monitora outros dois suspeitos, também ligados ao PCC, que seriam os chefes do ataque à associação dos cambistas. Um deles já foi preso por assalto a banco e o outro é investigado por tráfico de armas.
“Essas pessoas têm ligação comprovada com a organização criminosa. Então, nós estamos investigando a possibilidade de que eles teriam orquestrado esse furto”, revela Marco Smith, delegado–chefe da Polícia Federal em Foz do Iguaçu (PR).
Os investigadores já sabem que no período de construção do túnel eles cruzaram várias vezes a fronteira com o Paraguai.
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