Ouvidoria da Polícia de SP visita Baixada Santista após denúncias de operação com 19 mortos


Autoridades estaduais e nacionais ouviram famílias dos mortos e moradores das comunidades onde os confrontos com policiais aconteceram. Ouvidor da Polícia do Estado de São Paulo, Cláudio Aparecido da Silva, disse estar recebendo diversas denúncias sobre operação na Baixada Santista
Reprodução/TV Tribuna
O ouvidor da Polícia do Estado de São Paulo, Cláudio Aparecido da Silva, visitou a Baixada Santista, no litoral de São Paulo, neste domingo (11). Conforme apurado pelo g1, o objetivo era colher informações sobre a atuação dos policiais na operação que deixou 19 mortos em confrontos com as autoridades.
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Em entrevista à TV Tribuna, emissora afiliada da Globo, Cláudio afirmou que os moradores das comunidades têm procurado as ouvidorias e entidades para denunciar ameaças e invasões em residências. De acordo com ele, a maior reclamação é sobre as mortes por confrontos policiais.
“Nós temos denúncias de que pessoas inocentes têm morrido e estão sendo registradas como confronto”, afirmou o ouvidor.
Cláudio, inclusive, citou o caso do catador de recicláveis José Marcos Nunes da Silva, morto por PMs das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) dentro do barraco onde vivia em São Vicente (SP).
Por conta das denúncias, ainda de acordo com Cláudio, a Ouvidoria de Polícia de São Paulo e a Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos, além de outras entidades sociais, foram em algumas comunidades na região onde os suspeitos foram mortos. As famílias deles e outros moradores das áreas foram ouvidos pelos órgãos.
“Queremos visitar e entender as dinâmicas […] para poder ter uma leitura real do que efetivamente está acontecendo a partir do ponto de vista da comunidade”, acrescentou o ouvidor.
Cláudio afirmou também que, a partir dos relatos e de possíveis provas citadas nas denúncias à Ouvidoria de Polícia do estado, fará um relatório para apresentar os dados às instituições competentes, como o Ministério Público e as corregedorias da Polícia Militar e Civil. Ele ressaltou que, se necessário, órgãos internacionais também devem ser acionados.
Ouvidoria na Baixada Santista
A visita começou pela manhã com uma reunião entre as ouvidorias e as instituições na Câmara de São Vicente. Em seguida, o grupo acompanhou o pai do funcionário público Juan Ribeiro de Araújo, de 27 anos, baleado por um policial militar na cidade, até a delegacia. Ricardo de Araújo registrou um boletim de ocorrência e prestou depoimento sobre o caso do filho.
Em seguida, as autoridades visitaram algumas comunidades da região. De acordo com o ouvidor de polícia do estado, a primeira impressão é de que os moradores estão aterrorizados. “[O medo] não pode ser produzido pela política de segurança pública”, afirmou ele.
A ouvidoria, ainda de acordo com Cláudio, estará em estado de atenção até o final da Operação Verão. Ele afirmou, por fim, que mais relatos podem ser colhidos na região se necessário.
19 mortos na Baixada Santista
O número de suspeitos mortos após confronto com policiais na Baixada Santista, no litoral de São Paulo, chegou a 19 no último sábado (10). A informação foi divulgada pela Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP), que não inclui na contagem o homem que pulou de um prédio de quatro andares para fugir de PMs.
As mortes começaram há uma semana, após o reforço do policiamento na região com o assassinato do PM das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), Samuel Wesley Cosmo. Depois da morte do cabo da PM José Silveira dos Santos, a secretaria montou um gabinete em Santos (SP) para coordenar a operação.
O último registro suspeitos mortos por confrontos com a polícia aconteceu no sábado (10), na Avenida Martins Fontes, em Santos (SP). Allan de Morais Santos, também conhecido como ‘Príncipe’ dentro de uma facção criminosa, foi baleado por policiais militares ao desobedecer uma ordem de parada e jogar o carro que dirigia contra uma viatura.
Em nota, a SSP-SP afirmou que todos os casos são rigorosamente investigados pela 3ª Delegacia de Homicídios da Deic de Santos, com o acompanhamento do Ministério Público e do Poder Judiciário.
Confira, abaixo, o que se sabe sobre as mortes no litoral de SP:
Sábado (3) – seis mortos
O primeiro suspeito, que não foi identificado, morreu na madrugada. O caso aconteceu na Avenida Francisco da Costa Pires, no bairro São Jorge, em Santos. Segundo a SSP-SP, policiais da Rota estavam em operação no local quando foram recebidos a tiros pelo homem e revidaram. O suspeito chegou a ser socorrido ao Hospital Vicentino, mas não resistiu.
Ainda naquela madrugada, José Marcos Nunes da Silva, de 45 anos, morreu. Este caso aconteceu na Avenida Sambaiatuba, no bairro Jóquei Clube, em São Vicente. Segundo a SSP, os policiais deram ordem de parada ao suspeito, que tentou fugir a pé e atirou na direção dos agentes. Ao g1, a família da vítima disse que José era catador de recicláveis e implorou pela própria vida.
Por volta das 11h do mesmo dia, outro suspeito – também não identificado – morreu na Rua Joaquim Teixeira de Carvalho, no bairro do Bom Retiro, em Santos. Ele foi atingido após atirar contra policiais do 3º BPChq.
Durante aquela noite, outras três mortes foram registradas na Vila dos Criadores, também em Santos. De acordo com a SSP-SP, suspeitos atiraram contra policiais que faziam uma incursão na região e, depois, fugiram. No entanto, houve troca de tiros e o trio acabou atingido.
Domingo (4) – uma morte
Rodnei da Silva Sousa, de 28 anos, morreu após ser baleado por tiros de fuzis de dois PMs da Rota no Morro São Bento, em Santos. Ele estava em um carro de aplicativo que foi abordado pelos agentes.
Segundo o boletim de ocorrência, o motorista de aplicativo atendeu a ordem dos policiais e desceu. Porém, o passageiro, que estava no banco da frente, teria apontado uma arma contra os agentes. Dois PMs reagiram e dispararam.
Quarta-feira (7) – seis mortos
Gabriel da Silva Batista de Sena, de 14 anos morreu após ser baleado por uma equipe da Polícia Rodoviária na Rodovia dos Imigrantes, durante a madrugada, na altura de Cubatão. Segundo boletim de ocorrência, obtido pelo g1, policiais viram três homens em atitude suspeita andando na beira da rodovia. Eles desembarcaram da viatura e foram surpreendidos por disparos de arma de fogo.
Um homem, de 33 anos, morreu após cair do 4º andar de um prédio durante a tarde. A queda aconteceu enquanto ele fugia da Polícia Militar, que procurava pelos suspeitos de atirarem no cabo da PM José Silveira dos Santos, no bairro São Manoel, em Santos. Essa morte não é contabilizada pela Secretaria de Segurança Pública.
Na mesma data, outro suspeito, identificado como Davi Gonçalves Junior, de 20 anos, morreu após ser baleado em uma casa na Avenida Oswaldo Toschi, no bairro Parque, em São Vicente. Ele teria apontado uma arma para os policiais, que atiraram novamente em legítima defesa.
Durante a noite, por volta das 21h50, outros dois homens morreram em Itanhaém. Segundo a PM, uma equipe da Força Tática estava em patrulhamento na Rua Manoel Francisco Lisboa, no bairro Belas Artes, quando avistou suspeitos. Eles efetuaram diversos disparos de arma de fogo contra a equipe, que se defendeu. Dois homens foram baleados e morreram no local, enquanto os demais fugiram.
Mais tarde naquela noite, por volta das 22h45, um homem identificado como Jonathan Correa de Oliveira, morreu baleado por policiais militares do 6º Batalhão de Ações Especiais de Polícia (BAEP) na comunidade da Vila dos Pescadores, em Cubatão (SP). Ao notar a aproximação da equipe, o suspeito teria sacado uma pistola e atirado diversas vezes contra os policiais militares, que revidaram.
Quinta-feira (8) – dois mortos
Dois homens, que ainda não foram identificados, morreram em confronto com policiais militares da Rota em frente a um terreno baldio de Santos.
De acordo com o boletim de ocorrência, agentes averiguavam uma denúncia sobre a localização do acusado de matar o policial Samuel Wesley Cosmo, quando viram homens que dispararam contra os PMs enquanto fugiam. Uma outra equipe se deparou com os indivíduos e durante confronto, dois suspeitos foram baleados.
Sexta-feira (9) – quatro mortos
Por volta das 10h30, um adolescente de 16 anos morreu após entrar em confronto com policiais militares no bairro Vila Voturuá Independência, em São Vicente. A equipe policial apurava uma denúncia de tráfico de drogas.
Com o adolescente, foi apreendida uma mochila com 66 pinos com cocaína, 96 pedras de crack, 48 porções de haxixe e 44 cigarros de maconha, além de porções de K9, um caderno com anotações, um celular, a quantia de R$ 389,00 e revólver calibre 22 municiado.
Mais tarde no mesmo dia, dois homens, de 36 e 37 anos, morreram após confronto com policiais militares do 4º Batalhão de Choque, do Comando de Operações Especiais (COE). Segundo o boletim de ocorrência, os agentes estavam em patrulhamento pela operação em combate ao crime organizado no Morro São Bento, em Santos, quando se depararam com a dupla armada.
De acordo com a corporação, a dupla passou a atirar na direção dos policiais, que revidaram com tiros de fuzis. Ao todo, foram dez disparos: sete realizados por um dos agentes e três por outro. Os homens, identificados como Jefferson Ramos Miranda e Leonel Andrade Santos, foram levados até o hospital, mas não resistiram.
Na quarta-feira (7), Davi Gonçalves Junior, morto em uma casa na Avenida Oswaldo Toschi, no bairro Parque, em São Vicente, estava acompanhado de Hilderbrando Simão Neto, de 24 anos. Este suspeito foi baleado, socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e levado ao Hospital do Vicentino, onde permaneceu internado sob escolta policial até morrer na sexta-feira (9).
Sábado (10) – um morto
Allan de Morais Santos, também conhecido como ‘Príncipe’ dentro de uma facção criminosa, morreu após ser baleado por policiais militares ao desobedecer uma ordem de parada e jogar o carro que dirigia contra uma viatura. O caso aconteceu na Avenida Martins Fontes, no bairro Saboó, em Santos (SP). Ele chegou a ser levado para a Santa Casa, mas não resistiu.
Morte de policiais
No dia 26 de janeiro, o policial militar Marcelo Augusto da Silva foi morto na rodovia dos Imigrantes, na altura de Cubatão. Ele foi baleado enquanto voltava para casa de moto. Uma grande quantidade de munições estava espalhada na rodovia. O armamento de Marcelo, no entanto, não foi encontrado.
Segundo a Polícia Civil, Marcelo foi atingido por um disparo na cabeça e dois no abdômen. Ele integrava o 38º Batalhão de Polícia Militar Metropolitano (BPM/M) de São Paulo, mas fazia parte do reforço da Operação Verão em Praia Grande (SP).
No dia 2 de fevereiro, o policial das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) Samuel Wesley Cosmo morreu durante patrulhamento de rotina na Praça José Lamacchia, no bairro Bom Retiro. O agente chegou a ser socorrido para a Santa Casa de Santos (SP), mas morreu na unidade.
Uma gravação de câmera corporal obtida pelo g1 mostra o momento em que o soldado da Rota foi baleado no rosto durante um patrulhamento no bairro Bom Retiro (assista abaixo).
Cinco dias depois, o cabo PM José Silveira dos Santos, do 2⁰ Batalhão de Ações Especiais de Polícia (BAEP), morreu ao ser baleado durante patrulhamento no bairro Jardim São Manoel, em Santos. Na ocasião, outro policial militar foi baleado e está internado.
Gabinete na Baixada Santista
Após a morte do cabo da PM José Silveira dos Santos, na quarta-feira (7), a Secretaria de Segurança de São Paulo (SSP-SP) montou um gabinete em Santos para coordenar a operação policial da região.
O titular da pasta, Guilherme Derrite, anunciou uma recompensa de R$ 50 mil por informações sobre o assassino do PM da Rota Samuel Wesley Cosmo.
Ele ainda se posicionou sobre o nome da operação policial em vigor. Derrite corrigiu uma informação errada da pasta que, após a morte do PM da Rota Samuel Cosmo, disse ter deflagrado uma nova Operação Escudo na região.
O secretário apontou que o aumento do efetivo no litoral paulista após o assassinato do policial se deve a um reforço na Operação Verão e que a instalação do gabinete da SSP-SP no CPI-6, na quinta-feira (8), representa a 3ª fase da ação.
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