Pesquisadora que lidera projeto de incentivo para meninas na ciência fala sobre representatividade: ‘Não se deixem intimidar’


Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Unesco apontam que menos de 30% dos pesquisadores em todo o mundo são mulheres. E é justamente essa realidade que Marilaine Colnago, de 35 anos, professora e pesquisadora da Unesp de Rio Preto (SP), luta para mudar. Além de projeto que trabalha para diminuir o abismo entre os gêneros nas ciências exatas, Marilaine é coordenadora geral do ‘Comitê temático: Mulheres na Matemática Aplicada e Computacional’.
Marilaine Conalgo/Arquivo Pessoal
Ciência (ci·ên·ci·a), substantivo feminino. O próprio nome faz alusão ao que, na realidade, não se consolida. A presença das mulheres nessa área ainda é escassa no Brasil. Mas, aquelas que lutam pelo seu espaço se tornam figuras que desafiam as fronteiras do conhecimento e inspiram futuras gerações.
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Desde 2016, o dia 11 de fevereiro é conhecido como Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, data que foi criada com o objetivo de reforçar a importância do debate sobre a presença das mulheres nessa área dominada, predominantemente, por homens.
Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Unesco apontam que menos de 30% dos pesquisadores em todo o mundo são mulheres. E é justamente essa realidade que Marilaine Colnago, de 35 anos, luta para mudar.
Marilaine Colnago, 35 anos, professora e pesquisadora na UNESP – IBILCE
Marilaine Conalgo/Arquivo Pessoal
A professora e pesquisadora da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de São José do Rio Preto (SP) é mestre em Matemática Aplicada e Computacional pela Unesp de Presidente Prudente e doutora em Ciências da Computação e Matemática Computacional pela USP de São Carlos.
O currículo vasto é igualmente proporcional a vontade de inspirar outras mulheres a chegarem onde chegou. Pensando nisso, Marilaine fundou um projeto chamado “Garotas nas Engenharias, Ciências Exatas e Tecnologia”, que busca conscientizar e diminuir o estigma em torno da presença das mulheres nessas áreas.
Ao g1, a pesquisadora conta que a ideia surgiu durante um congresso sobre as temáticas de luta de gênero e a luta da mulher na sociedade. Foi então que ela aproveitou a oportunidade oferecida em um edital na faculdade e trouxe o projeto à vida.
Inicialmente, por causa da pandemia, as atividades eram realizadas de forma remota. Atualmente, Marilaine conta que visita escolas e realiza ações com meninas de várias regiões do Brasil.
Marilaine é graduada e mestrada em Matemática Aplicada e Computacional pela UNESP de Presidente Prudente (SP)
Marilaine Colnago/Arquivo Pessoal
Além da divulgação científica, o projeto consiste na realização de transmissões ao vivo e na divulgação de trabalhos sobre mulheres que contribuíram para a Ciência e também de jovens cientistas que foram premiadas recentemente.
“A gente mostra fatos palpáveis, pois tudo que parece que falamos sobre mulheres que contribuíram na ciência ao longo da história parece fora da curva, mas mostramos vários casos de sucesso de mulheres ainda hoje em dia para que sirva de inspiração e modelo” , conta a professora.
A professora e pesquisadora também é doutora em Ciências da Computação e Matemática Computacional pela USP de São Carlos (SP)
Marilaine Colnago/Arquivo Pessoal
Marilaine também é coordenadora do “Comitê temático: Mulheres na Matemática Aplicada e Computacional” da Sociedade Brasileira de Matemática Aplicada e Computacional (SBMAC), que luta ativamente pelos direitos das mulheres e resolução de problemas na área.
“A gente luta para que dentro da sociedade, na Ciência de modo geral, a gente tenha espaço, seja ouvida. Mas também pensamos nas mães, o que faz parte de um assunto delicado que é ‘como você vai continuar produzindo sendo mãe?'”. explica a professora.
‘Pesquisadora desacreditada’
Marilaine conta que passou por muitas dificuldades durante a vida e, principalmente, depois de terminar seu doutorado.
“Tinha a ideia de que eu não nasci pra ser pesquisadora. Que a pesquisa não era pra mim, que artigo não era pra mim. Fiquei perdida por um ano. Mas tive e tenho a sorte de ter várias pessoas que me apoiam e meu marido é uma delas, ele não me deixou desistir”, afirma.
Atualmente, Marilaine pesquisa na área da Ciência de Dados e um dos projetos é essa ciência aplicada em indústrias sucroalcooleiras
Marilaine Conalgo/Arquivo Pessoal
Marilaine trabalhou com Ciência de Dados e, inclusive, durante a pandemia fez parte da equipe responsável pelo SP Covid Info Tracker – plataforma que era atualizada diariamente com os números da doença no estado.
Por mais que gostasse do que fazia, Marilaine conta que pensou em seguir outra linha de estudos, e acabou conseguindo uma bolsa de pós-doutorado. “Não é que eu não era uma boa pesquisadora, mas sim que aquela área não era pra mim. Não achei que ia conseguir a bolsa, mas deu certo e me ajudou a ter um ‘gás’ pra continuar”, diz.
Pesquisadora que lidera projeto de incentivo para meninas na ciência fala sobre representatividade
Arquivo Pessoal
Atualmente, a pesquisadora participa de diversos projetos, ainda na área de dados e ligados a cana-de-açúcar. Paralelamente, busca sempre separar parte de seu tempo para falar sobre a presença das mulheres na ciência, já que ela mesma é um exemplo de que, com persistência, tudo é possíve – independente do gênero.
“Eu passei de uma pesquisadora desacreditada para uma que conseguiu um pós doutorado, passou em um concurso da Unesp, que era um sonho. Também comecei a falar mais do tema de ‘Mulheres na Ciência’ em congressos internacionais. Isso tudo foi fruto de aprender a acreditar no nosso potencial como mulher”, revela a pesquisadora.
“Lugar de mulher é onde ela quiser. Não se deixem em intimidar por pessoas que falam que determinado lugar não é pra você. O projeto que faço parte não é obriga as meninas a fazerem ciência, mas mostra para elas que, se elas quiserem, elas podem, e conseguem chegar lá em cima, assim como elas veem muitos homens”, finaliza.
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