Estudo traça estratégias para evitar quedas de árvores na capital paulista


Estado da madeira, estrangulamento da raiz e poda drástica estão entre os indicadores de possível queda. Cidade tem média de 2 mil ocorrências por ano. Queda de árvore no Centro de SP
Reprodução/TV Globo
Não é raro ler notícias sobre quedas de árvores nas cidades após fortes temporais, cujos danos podem incluir incluir prejuízos financeiros, falta de energia e até a perda de vidas humanas.
Por outro lado, a solução do problema não passa pela corta indistinta de árvores em perímetros urbanos.
Para reduzir o impacto desse tipo de ocorrência, um estudo realizado na região central de São Paulo (SP) traçou diretrizes e papéis de diferentes atores. Publicado na revista Urban Forestry & Urban Greening, o artigo usou dados de 456 árvores que caíram na área sob jurisdição da Administração Regional da Sé.
Leia o estudo na íntegra clicando neste link
Segundo os pesquisadores, a região central concentra a maior proporção de chamados por queda de árvores urbanas. Por ano, o município registra cerca de 2 mil casos, excluindo parques públicos e áreas de proteção ambiental.
Entre os principais fatores associados, e que podem ser usados como indicadores de queda potencial, estão o estado da madeira, o estrangulamento da raiz pelas calçadas e as podas drásticas.
Como prever quedas de árvores
De acordo com o estudo, a sugestão é que as autoridades locais façam uma avaliação detalhada do estado da madeira das árvores em toda a capital, enquanto o município e as empresas privadas responsáveis por sua gestão devem adotar práticas adequadas de poda.
Além disso, todos os envolvidos no plantio – cidadãos, empresas privadas e governo – também precisam garantir espaço suficiente nas calçadas para o crescimento da raiz.
Queda de árvore interdita via na região central de SP
Paulo Toledo Piza/G1
Assim, podem ser evitadas quedas, principalmente, de tronco e de raízes. Nesses casos, conforme a pesquisa, há o dobro de probabilidade de danos à cidade e aos cidadãos, podendo causar a morte de pessoas atingidas.
“Como a região central tem características muito semelhantes às de outros distritos na capital, entendemos que os resultados da pesquisa podem ser aplicados na cidade toda. Para outros municípios, dependerá da qualidade dos dados disponíveis”, explica Giuliano Locosselli, um dos autores do estudo e professor do Centro de Energia Nuclear na Agricultura da USP.
Detalhes sobre o estudo
Desenvolvida em colaboração entre USP, Unifesp, Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e a prefeitura de São Paulo, a pesquisa teve como principais pontos:
A base de informações incluiu dados coletados por agrônomos nos oito bairros da regional da Sé, entre janeiro de 2016 e novembro de 2018;
São 59 espécies, das quais 38 tiveram até quatro ocorrências e 21 com cinco ou mais;
Dos 456 casos analisados, 46% correspondem à queda de galhos e ramificações, 33% da raiz e 21% do tronco;
Fazendo um cruzamento dos dados com o uso de inteligência artificial, o grupo chegou aos três fatores preditivos – estado da madeira, constrições do colo da raiz e poda.
Para o estado da madeira, foram levados em consideração: decomposição por fungos; presença de insetos que se alimentam de madeira como broca e cupins; além de cavidades no tronco. A partir daí, as árvores foram divididas em saudável, baixa degradação e alta degradação.
Em relação ao colo da raiz a avaliação incluiu possíveis estrangulamentos decorrentes de solo compactado, do pavimento e de caixas, normalmente de cimento, levantadas em volta da árvore.
Já para as podas foram analisadas quatro tipos: elevação (usada para dar espaço aos pedestres), redução (que diminui a altura da árvore), forma de V (para aumentar a distância entre galhos e cabos de energia) e topping (redução significativa do número de ramos grossos), sendo essas duas últimas consideradas as mais drásticas.
Estudo mapeou quedas de árvores em oito bairros da regional da Sé
EBC/arquivo
Além dos fatores estado da madeira, estrangulamento da raíz e tipo de poda, os especialistas destacam que a previsão de queda de uma árvore urbanas é um desafio no mundo todo, pois depende de múltiplos fatores, incluindo clima, condições da própria vegetação e características do entorno.
Benefícios das áreas verdes
Primeira autora do artigo, a professora da Unifesp na área de fisiologia vegetal Aline Andréia Cavalari aponta a importância de manter árvores saudáveis a partir de um bom manejo para a redução de custos na saúde pública, devido aos benefícios que as áreas verdes fornecem.
“É preciso cuidar do manejo adequado, que começa no plantio, escolhendo a espécie, definindo o tamanho do canteiro onde vai ser plantada, fazendo a poda corretamente”, comenta Aline.
Outras pesquisas realizadas por Giuliano Locosselli (projetos 19/08783-0 e 20/09251-0) envolvem forma de otimizar esses serviços ecossistêmicos das florestas urbanas visando mitigar os efeitos das mudanças climáticas e da poluição.
Esses serviços incluem desde sequestro de carbono até a redução da temperatura e da poluição do ar.
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