Pacientes de clínica de reabilitação eram colocados em ‘buraco da punição’, diz parente e polícia


Operação da Polícia Civil libertou 70 pacientes de uma clínica de tratamento de dependentes químicos em Palmas. Segundo a investigação, internos eram punidos com trabalhos forçados ou dopados. Operação da Polícia Civil prende donos de clínica para tratamento de dependentes químicos
Pacientes de uma clínica para dependentes químicos em Palmas eram colocados em um ‘buraco da punição’. A denúncia foi feita pela prima de um dos homens resgatados do local e por um ex-interno. A polícia afirma que o buraco também funcionava como uma forma de punição.
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O resgate dos pacientes da clínica aconteceu durante uma operação da Polícia Civil na tarde desta quarta-feira (7). Ao todo, 70 homens foram encontrados e pelo menos 50 relataram que sofriam maus-tratos e tinham que tomar sedativos. O g1 e a TV Anhanguera ainda tentam contato com a defesa dos investigados.
Buraco que os pacientes eram obrigados a cavar em caso de desobediências
Polícia Civil/Divulgação
“Está sendo soterrado agora o buraco da punição. Se eles fizessem algo de errado ou passassem para o familiar o que estava acontecendo, alguma rebeldia aqui dentro, eles iam para aquele buraco e seriam punidos dentro daquele buraco”, contou Roseane Costa Santos.
Roseane é prima de um homem de 33 anos. Ele é de Marianópolis do Tocantins, na região oeste do estado, e estava internado no local há dois meses para tratar dependência química.
Buraco teria sido soterrado após operação da Polícia Civil
Polícia Civil/Divulgação
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A existência do buraco também foi confirmada à produção da TV Anhanguera por um ex-interno do local. Ele pediu para não ser identificado, mas confirmou que havia agressões e contou que eram comuns surtos de pacientes psiquiátricos internados no mesmo local.
“Os pacientes entravam em surto e quando eles não davam o ‘danone’, que é uma mistura de vários tarja preta na água, ou haldol injetável, colocavam os pacientes para lavar roupa, louça ou cavar buraco de fossa […] O buraco era para servir de fossa de lixo e colocava para cavar, mas eu fiquei três meses e fiquei sabendo que quando a pessoa dava muito trabalho eles ameaçavam colocar dentro do buraco”.
A clínica funcionava em uma chácara na zona rural de Palmas. As grades nas janelas e portas, principalmente nos quartos, chamaram a atenção da equipe policial durante a operação.
Os policiais passaram quase 24 horas colhendo depoimentos dos pacientes e mais da metade confirmou as agressões físicas. Segundo os relatos, as visitas de parentes eram acompanhadas por um coordenador e os internos eram orientados do que poderiam ou não falar.
“Se desobedecessem aquele comando eles eram punidos cavando buracos na clínica ou com outros tipos de limpeza. Caso se recusassem a essa punição eles eram medicados e ficavam de um a dois dias sedados”, explicou o delegado Gregory Almeida.
Operação foi realizada nesta quarta-feira (7) na clínica, em Palmas
Kaliton Mota/TV Anhanguera
Casal preso
O casal responsável pela clínica foi preso preventivamente. Os dois foram levados para as Unidades Penais Masculina e Feminina da capital, onde estão à disposição da Justiça. Os nomes não foram informados pela polícia.
“A lei permite, sim, as internações voluntárias e as involuntárias. No entanto, a lei estabelece requisitos, como o laudo médico, como comunicação ao Ministério Público, que foi o que a gente não observou nessa clínica”.
Conforme o delegado, o casal foi autuado em flagrante pelos crimes de maus-tratos, cárcere privado qualificado e furto de energia elétrica. Também há outro inquérito contra o casal pelo crime de tortura. As investigações continuam.
Um dos quartos da clínica
Kaliton Mota/TV Anhanguera
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