Mudança no perfil do trabalhador no pós-pandemia eleva pedidos de demissão na RMP; entenda


Alta foi de 15,9% na comparação entre primeiros trimestres de 2023 e 2024; além de mercado aquecido, especialistas citam busca por qualidade de vida e perspectivas profissionais.
Carteira de trabalho
Gilson Abreu/AEN
Mudanças de comportamento de trabalhadores após a pandemia de Covid-19 têm elevado a quantidade de pedidos de demissão na Região Metropolitana de Piracicaba (RMP). É o que aponta um estudo do Observatório da RMP, com base em dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
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Segundo as estatísticas, os desligamentos a pedido, que representaram 44,2% do total de desligamentos no primeiro trimestre deste ano, cresceram 15,9% em relação ao mesmo período do ano passado. Veja na tabela abaixo:

Os pesquisadores Cristiane Feltre, Eliana Tadeu Terci e Carlos Eduardo de Freitas Vian, que assinam o estudo, apontam um mercado de trabalho mais aquecido, e a consequente busca por uma oportunidade melhor, como um dos motivos para este movimento.
Esse indicador vem crescendo para todo o Brasil. Enquanto em 2021 esses desligamentos somaram 5,6 milhões, no ano de 2022 foram 6,8 milhões e, em 2023, 7,3 milhões de trabalhadores que decidiram deixar o emprego formal por decisão própria.
“Além de um mercado de trabalho mais aquecido, esse resultado reflete, em partes, uma mudança no comportamento do trabalhador após a pandemia de Covid, que fez com que a decisão de se manter em um posto de trabalho não se limitasse apenas a salários, mas também sobre as perspectivas de trabalho e qualidade de vida”, explica trecho da análise dos pesquisadores.
Uma outra razão citada é que um maior número de jovens no mercado de trabalho, que buscam por vagas mais alinhadas às suas expectativas, trocam de emprego com maior frequência.
Atendimento no Centro de Atendimento ao Trabalhador de Piracicaba
Edijan Del Santo/ EPTV
Saldo de emprego positivo e ganho salarial
O mercado mais aquecido citado pelos pesquisadores é refletido por um aumento de 53,3% no saldo de empregos gerados na Região Metropolitana de Piracicaba no primeiro trimestre deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado, seguindo a mesma tendência do estado e país. No Brasil, o saldo dos empregos formais cresceu 34% para o período analisado.
Empregos formais gerados na RMP:
1º trimestre/ 2023 – 6.602 empregos
1º trimestre/ 2024 – 10.119 empregos
O bom desempenho nas contratações também foi acompanhado de melhora nominal (6,4%) e real (1,7% – descontado o IPCA) dos salários médios de admissão.
Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), esse ganho salarial reflete e o bom desempenho das negociações salariais do primeiro trimestre do ano, provavelmente favorecidas pela valorização do salário mínimo em janeiro, que sofreu reajuste de 6,97% sobre o valor vigente desde maio/2023.
De acordo com o órgão, 85% das negociações realizadas no início do ano tiveram reajustes acima da inflação.

Desigualdades salariais de gênero
Quanto à desigualdade salarial entre homens e mulheres, houve uma pequena melhora em relação ao ano passado. Os salários de admissão das mulheres foram 13,6% e 13,2% inferiores ao dos homens no 1º trimestre de 2023 e de 2024, respectivamente.
Em estudo anteriormente publicado, a equipe de pesquisadores do Observatório da RMP estimou que essas desigualdades são maiores em setores que concentram um número maior de profissionais qualificados (com pelo menos o ensino superior completo), como atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados, educação, informação e comunicação, atividades profissionais, científicas e técnicas, artes, cultura, esporte e recreação e atividades imobiliárias.
Acesse aqui o resultado do estudo anterior do observatório
“Quanto maior o nível de instrução, maiores as desigualdades nos salários de contratação – no estado de São Paulo e na RMP, homens com ensino superior completo são contratados por salários médios 47% superiores aos das mulheres”, traz outro trecho da análise.

Já na administração pública, defesa e seguridade social, apesar de empregarem um contingente considerável de pessoas com níveis de instrução mais elevados (57% no estado de São Paulo), as desigualdades são bastante reduzidas – 7,9% no estado de São Paulo e 6,8% na RMP.
“É importante lembrar que o setor público está sujeito a regras, entre elas, a divulgação da remuneração no momento da publicação do edital de contratação de pessoal, o que reduz a probabilidade de discriminação de gênero”, traz trecho do estudo.
Em julho de 2023, foi sancionada a lei 14.611 que dispõe sobre a igualdade salarial e de critério remuneratórios entre mulheres e homens para a realização de trabalho de igual valor ou no exercício da mesma função, que deverá, em tese, reduzir essas diferenças em um futuro próximo.
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