{"id":902,"date":"2024-01-22T17:43:09","date_gmt":"2024-01-22T20:43:09","guid":{"rendered":"https:\/\/brasil.jornalfloripa.com.br\/br\/902"},"modified":"2024-01-22T17:43:09","modified_gmt":"2024-01-22T20:43:09","slug":"plantas-do-ar-vegetais-com-pelos-e-que-abandonaram-o-chao","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/brasil.jornalfloripa.com.br\/br\/902","title":{"rendered":"
Plantas-do-ar: vegetais com ‘pelos’ e que abandonaram o ch\u00e3o<\/div>"},"content":{"rendered":"

Muito comum no Brasil, um grupo de plantas desafia nosso entendimento sobre o que \u00e9 ser um vegetal. Tillandsia usneoides, conhecida como barba-de-velho
\nBilly Hathorn \/ Creative Commons
\nSeria poss\u00edvel existir uma planta sem ra\u00edzes? Se voc\u00ea cresceu no s\u00edtio ou sempre se atentou \u00e0 natureza, provavelmente sabe de quais vegetais estamos falando. Na coluna Hist\u00f3rias Naturais desta semana, o bi\u00f3logo Luciano Lima explica quem s\u00e3o as plantas filhas do vento e como elas deixaram de habitar o solo.
\nSeu eu pedir para voc\u00ea desenhar uma planta, mesmo que seus dotes art\u00edsticos n\u00e3o sejam os melhores, voc\u00ea muito provavelmente ir\u00e1 desenhar um vegetal com folhas, tronco e ra\u00edzes. Mas e se eu pedisse para voc\u00ea desenhar uma planta, mas sem tronco, o que voc\u00ea desenharia? Uma moita de capim? \u00d3timo, acertou. Mas se al\u00e9m de sem tronco, a planta tamb\u00e9m n\u00e3o tivesse ra\u00edzes? Imposs\u00edvel?
\nDesde crian\u00e7a aprendemos que as plantas s\u00e3o formadas por folhas, troncos e ra\u00edzes. No entanto, n\u00e3o \u00e9 muito dif\u00edcil encontrarmos plantas que abriram m\u00e3o de alguma dessas estruturas. As gram\u00edneas, como j\u00e1 comentei, n\u00e3o possuem ra\u00edzes. J\u00e1 a grande maioria dos cactos n\u00e3o possui folhas. Mas ser\u00e1 poss\u00edvel existir alguma planta sem duas dessas estruturas cl\u00e1ssicas? A resposta \u00e9: sim, as til\u00e2ndsias.
\nAs til\u00e2ndsias, tamb\u00e9m chamadas em portugu\u00eas de gravatazinho ou cravo-do-mato, formam um g\u00eanero de brom\u00e9lias encontradas exclusivamente nas Am\u00e9ricas, ocorrendo do sul dos EUA a Argentina. A origem do nome do grupo, dif\u00edcil de pronunciar de primeira, \u00e9 uma homenagem feita pelo pai da nomenclatura cient\u00edfica, Carlos Lineu, ao bot\u00e2nico sueco Elias Tillandz.
\nEmbora, no formato geral, a maioria das til\u00e2ndsias se pare\u00e7a com outras brom\u00e9lias, elas costumam ser bem menores. N\u00e3o por acaso, algumas pessoas se referem a elas como “brom\u00e9lias em miniatura”. Assim como todas as outras brom\u00e9lias, as til\u00e2ndsias n\u00e3o possuem caule. Sua folhas s\u00e3o organizadas circularmente sobrepostas umas sobre as outras, com folhas novas brotando no centro da planta.
\nNa maioria das brom\u00e9lias, a disposi\u00e7\u00e3o intricada das folhas da origem a uma forma parecida com uma rosa que, por isso, \u00e9 chamada de roseta. J\u00e1 expliquei em um outro texto do Hist\u00f3rias Naturais que as rosetas das brom\u00e9lias formam piscinas nas copas das \u00e1rvores, que al\u00e9m de fornecem \u00e1gua para as pr\u00f3prias brom\u00e9lias, s\u00e3o fundamentais para sobreviv\u00eancia de muitos outros animais.
\nAs til\u00e2ndsias, no entanto, possuem folhas menores, mais finas e compridas que as brom\u00e9lias de modo geral e, por isso, a maioria de suas esp\u00e9cie n\u00e3o consegue armazenar \u00e1gua entre as folhas.
\nPara aumentar o desafio de obter \u00e1gua, diferente da enorme maioria das plantas, as til\u00e2ndsias n\u00e3o possuem ra\u00edzes capazes de absorver \u00e1gua e nutrientes. Faz sentido, j\u00e1 que suas elas seriam in\u00fateis para uma planta que cresce completamente fora do ch\u00e3o. As til\u00e2ndsias praticamente n\u00e3o possuem ra\u00edzes, e o pouco que possuem pode ser cortado por inteiro sem qualquer preju\u00edzo para a planta.
\nMuitas til\u00e2ndsias s\u00e3o ep\u00edfitas, o que, no jarg\u00e3o dos bot\u00e2nicos, \u00e9 um termo utilizado para descrever plantas que se desenvolvem sobre outras plantas.
\nAlgumas til\u00e2ndsias s\u00e3o ep\u00edfitas, ou seja, se desenvolvem sobre outras plantas como a Tillandsia stricta
\nLuciano Lima
\nMas al\u00e9m de ep\u00edfitas, as til\u00e2ndsias podem ser rup\u00edcolas, se desenvolver sobre rochas, “fi\u00edcolas” (sobre fios de alta tens\u00e3o), “grad\u00edcolas” (sobre grades) ou “qualquer cois\u00edcolas”. Por viver fora do solo, a \u00fanica utilidade das ra\u00edzes das til\u00e2ndsias \u00e9 ajudar a fix\u00e1-las nos locais onde est\u00e3o crescendo.
\nComece a reparar na fia\u00e7\u00e3o, em \u00e1reas urbanas mais arborizadas ou pr\u00f3ximas a parque e pra\u00e7as, voc\u00ea ir\u00e1 reparar til\u00e2ndsias crescendo nos fios, prova definitiva de que suas ra\u00edzes n\u00e3o servem para muita coisa.
\nUma esp\u00e9cie em particular, a barba-de-velho (Tillandsia usneoides), abriu m\u00e3o das ra\u00edzes por completo, desenvolvendo longos “cord\u00f5es” formados por diferentes indiv\u00edduos unidos pelas folhas e que juntos se enroscam na copa das \u00e1rvores, onde ficam pendurados.
\nMas se n\u00e3o possuem ra\u00edzes, como as til\u00e2ndsias absorvem \u00e1gua e nutrientes? A resposta \u00e9 simples, tric\u00f4mas. Tric\u00f4mas s\u00e3o estruturas microsc\u00f3picas que se parecem com pelos, capazes de absorver \u00e1gua e nutrientes. Muitas brom\u00e9lias tamb\u00e9m possuem tricomas, mas as til\u00e2ndsias possuem tantos e em uma densidade t\u00e3o grande que eles acabam conferindo um aspecto aveludado \u00e0s plantas.
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\nA capacidade de absorver \u00e1gua a nutrientes atrav\u00e9s das folhas permitiu que as til\u00e2ndsias abandonassem o completamente o solo e, por isso, s\u00e3o conhecidas como “plantas-do-ar” ou “plantas-a\u00e9reas”. Crescendo em lugares inacess\u00edveis para maioria dos animais terrestres, para polinizar suas belas flores elas contam com os mestres dos ares, os beija-flores.
\nFlores que ficam no alto s\u00e3o polinizadas por beija-flores
\nLuciano Lima
\nJ\u00e1 suas sementes s\u00e3o carregadas pelo vento, fazendo das plantas-do-ar, literalmente, filhas do vento. Tantas adapta\u00e7\u00f5es fant\u00e1sticas resultaram em um grande sucesso evolutivo. S\u00e3o conhecidas cerca de 700 esp\u00e9cies de til\u00e2ndsias, das quais mais de 80 est\u00e3o presentes no Brasil. Certamente deve ter uma delas n\u00e3o muito longe de voc\u00ea neste exato momento.
\nDiz o ditado que “toda a regra tem uma exce\u00e7\u00e3o”. A natureza ilustra bem esse ditado ao criar uma planta sem tronco, sem ra\u00edzes e com pelos. Mas, ao mesmo tempo, a natureza \u00e9 uma exce\u00e7\u00e3o a esse ditado. J\u00e1 que, sem exce\u00e7\u00f5es, todas as esp\u00e9cies que compartilham o planeta com a gente tem uma hist\u00f3ria fant\u00e1stica para contar.
\n*Luciano Lima \u00e9 bi\u00f3logo e parte da equipe do Terra da Gente
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