Entenda por que picada de escorpião é mais perigosa em crianças e idosos


Crianças têm organismo menor, o que faz com que o veneno circule com mais rapidez pelo corpo, explica pediatra. Principal risco é de paradas cardiorrespiratórias. Acidentes com picadas de escorpião e aranha aumentam entre 2021 e 2023 no estado de SP
Em meio a uma alta em todo o estado de São Paulo em acidentes com animais peçonhentos, como escorpiões e aranhas, é importante que a população fique ainda mais atenta aos casos envolvendo crianças e idosos, que têm organismos mais sensíveis à ação do veneno.
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🦂 Por que isso acontece? Segundo o pediatra especialista em emergência e Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Roberto Salvador Martins, do Hospital São Luiz Campinas, as crianças, por exemplo, têm um organismo menor, o que faz com que o veneno circule com mais rapidez pelo corpo.
“A entrada do veneno na corrente sanguínea vai agir principalmente no coração, e o coração da criança é mais sensível a esse veneno, fazendo com que gere arritmias, e essas arritmias geralmente evoluem para paradas cardiorrespiratórias. É mais comum em crianças do que em adultos”, detalha.
⚠️ Como o veneno age? Martins explica que, após a picada, o veneno do escorpião:
Ativa os nervos, levando a uma despolarização, gerando correntes elétricas e abrindo canais de condução;
Com isso, o local da picada fica dolorido, e a sensação é similar a uma dor de dente;
Conforme o veneno circula, ele ativa a ação dos nervos ao redor do coração;
Os batimentos cardíacos aceleram e, ao mesmo tempo, diminui a oferta de oxigênio no órgão;
O coração passa a ter um descompasso (ou arritmia), que tende a evoluir para uma parada cardíaca com mais rapidez em crianças e idosos.
Entre os sintomas do veneno do escorpião, estão náuseas e vômitos, suor intenso, agitação, tremor, arritmia, cansaço acentuado ou dificuldade para respirar.
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💉 Quem precisa tomar o antídoto? O soro antiescorpiônico é essencial em casos moderados e graves, ou seja, aqueles nos quais os pacientes têm outros sintomas, como vômitos e dor abdominal, além de dor no local da picada.
“Com essas reações sistêmicas a gente já classifica o acidente como moderado, e isso significa que a gente tem uma quantidade de veneno que precisa ser neutralizada pelo soro. Os acidentes moderados e os graves, que são os das arritmias e paradas cardíacas, têm indicação do soro o mais rápido possível”, destaca o médico.
🩸 Como o soro age? Produzido em animais, o soro é obtido por meio dos anticorpos produzidos pelos cavalos para neutralizar a molécula do veneno. “Esse soro bloqueia a ação da molécula e não deixa que ela venha a agir nos tecidos dos pacientes”.
☣️ Quais são as espécies mais perigosas? Segundo Martins, a América Latina possui cinco tipos de escorpiões, mas o mais predominante no Brasil é o amarelo, que também inocula a maior quantidade de veneno. É por isso que casos graves são comuns no país.
No caso das aranhas, há duas espécies que requerem atenção por serem mais venenosas: a armadeira, que pode ter até 15 centímetros de comprimento e geralmente vive em folhas de bananeira, e a aranha-marrom, que pode ser encontrada em calçados e roupas guardadas há muito tempo.
“Essa [aranha-marrom] já tem efeitos bem diferentes do escorpião, tem vômitos e dor abdominal, mas tem muita reação local com inflamação e, além da inflamação local, pode causar icterícia, onde o paciente fica amarelo e pode evoluir com insuficiência nos rins”, afirma.
❓ O que fazer se for picado? Preferencialmente, buscar um hospital, que terá acesso facilitado ao soro antiescorpiônico, o mais rápido possível. Além disso, tirar uma foto do animal responsável pela picada pode ajudar a agilizar o tratamento.
Aumento de acidentes
O número de crianças e adolescentes até 14 anos picados por escorpiões tem aumentado significativamente no estado de São Paulo, segundo dados da secretaria estadual de Saúde.
Em 2021, foram 4.868 acidentes envolvendo menores de idade; já em 2022, o total passou para 5.951, uma alta de 22,2%. Em 2023, os registros de acidentes com menores de 14 anos totalizaram 6.533, um crescimento de 9,7% em relação ao ano anterior.
Em relação aos acidentes com picadas de aranhas, a pasta registrou 679 em 2021, e 816 em 2022, uma alta de 20,1%. No ano passado, o número chegou a 1.299, o que representa um crescimento de 59,1%.
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