Ligação telefônica teria levado Polícia Federal a prédio onde estava dinheiro relacionado a Geddel


Policiais descobriram dinheiro na manhã desta terça-feira (5), no bairro da Graça, em Salvador. PF encontra malas e caixas de dinheiro em apartamento que seria usado por Geddel na BA
Na decisão da Justiça Federal que culminou em apreensão de dinheiro no apartamento supostamente relacionado ao ex-ministro Geddel Vieira Lima, consta que o Núcleo de Inteligências da Polícia Federal teria recebido uma informação por telefone apontando que, no último semestre, uma unidade do segundo andar de um edifício no bairro da Graça, em Salvador, estaria sendo utilizada pelo ex-ministro para guardar caixas com documentos. Geddel, que é ex-ministro dos governos Lula e Temer, e cumpre prisão domiciliar na Bahia.
A partir daí, foram realizados contatos com moradores do prédio, que fica na Rua Barão de Loreto, área nobre da capital baiana, a fim de confirmar os indícios. Nessas conversas, a polícia atestou que uma pessoa teria feito uso do imóvel para guardar “pertences do pai”, o que segundo as apurações, “provavelmete” se tratava de Geddel Vieira Lima, cujo pai faleceu em 10 de janeiro de 2016.
Conforme a PF, a Operação Tesouro Perdido deflagrada nesta terça tinha objetivo de cumprir o mandado de busca e apreensão emitido pela Justiça, e após investigações decorrentes de dados coletados nas últimas fases da Operação Cui Bono, a PF chegou ao endereço em Salvador, que seria, supostamente, utilizado por Geddel Vieira Lima como “bunker” para armazenagem de dinheiro em espécie.
Veja a íntegra da decisão
Dinheiro foi encontrado em apartamento em Salvador
Polícia Federal
Segundo a polícia, os valores apreendidos serão transportados a um banco onde será contabilizado e depositado em conta judicial.
A polícia localizou o montante na residência durante busca e apreensão autorizada pela 10ª Vara Federal de Brasília. Conforme a Justiça Federal, a ação faz parte de apurações relacionadas à prática de corrupção, quadrilha e lavagem de dinheiro envolvendo a Caixa Econômica Federal.
Durante as investigações, surgiu a suspeita de que Geddel estaria escondendo provas de atos ilícitos no apartamento no bairro da Graça, imóvel que teria sido emprestado a ele pelo proprietário para que o ex-ministro guardasse pertences de seu pai, já falecido.
Dinheiro foi achado no segundo andar do prédio que fica no bairro da Graça, área nobre de Salvador
Alan Oliveira/G1
Na decisão da Justiça que autorizou o procedimento de busca e apreensão, documento datado de 30 de agosto, consta que: “há fundadas razões de que no supracitado imóvel existam elementos probatórios da prática dos crimes relacionados na manipulação de créditos e recursos realizadas na Caixa Econômica Federal”.
Um morador do edifício disse que viu quando os policiais federais chegaram entre 6h e 7h desta terça-feira. Eles se dirigiram para cumprir a decisão no segundo andar do prédio.
O G1 entrou em contato com a defesa de Geddel Vieira Lima às 11h55. Por meio da assessoria, a informação é de que o advogado que representa o ex-ministro não podia falar com a reportagem no momento por estar participando de uma audiência em Brasília.
Prédio onde fica apartamento supostamente usado por Geddel é situado no bairro da Graça, em Salvador
Alan Oliveira/G1
Operação da Polícia Federal encontrou dinheiro em Salvador
Polícia Federal/Divulgação
Trecho da decisão que autorizou a PF a fazer busca e apreensão em endereço atribuído a Geddel Vieira Lima
Reprodução
Réu
A Justiça Federal em Brasília aceitou, no final de agosto, denúncia da Procuradoria da República no Distrito Federal e transformou em réu o ex-ministro Geddel Vieira Lima por obstrução de justiça.
Geddel foi denunciado por tentativa de atrapalhar as investigações sobre desvios no FI-FGTS, o fundo de investimentos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço. A denúncia foi aceita pelo juiz Vallisney de Oliveira, da 10ª Vara da Justiça Federal em Brasília.
Em nota divulgada após a decisão da Justiça, a defesa de Geddel afirmou que: “Rechaça com veemência as fantasiosas acusações contidas na denúncia, fruto de verdadeiro devaneio e excesso acusatório. Tão logo notificado pelo juízo da 10ª Vara da Seção Judiciária do Distrito Federal, será apresentada a peça de defesa, oportunidade que demonstrará a inocorrência de qualquer ilícito e a necessidade de rejeição da inepta e inverídica acusação.”
A denúncia
Segundo a denúncia da procuradoria, após as tratativas do operador Lucio Funaro para fechar o acordo de delação premiada, Geddel começou a atuar para atrapalhar as negociações. O político fez contatos telefônicos constantes com a esposa de Lúcio Funaro, Raquel Albejante Pita.
Procuradores dizem que o objetivo de Geddel era sondar como estava o ânimo do doleiro e garantir que ele não fornecesse informações aos investigadores.
“Com ligações alegadamente amigáveis, intimidava indiretamente o custodiado, na tentativa de impedir ou, ao menos, retardar a colaboração de Lúcio Funaro com os órgãos investigativos Ministério Público Federal e Polícia Federal”, reitera um dos trechos da ação.
Ainda segundo o MP, as investidas de Geddel foram reveladas em depoimentos dados por Lúcio Funaro e a esposa, e confirmadas, posteriormente, por meio de perícia realizada pela Polícia Federal no aparelho telefônico de Raquel Pita. Entre os dias 13 de maio e 1º de julho de 2017 foram 17 ligações.
Aos investigadores, o casal também revelou ter ficado com receio de sofrer intimidações e retaliações por parte de Geddel, uma vez que o político possuía influência e poder, inclusive no primeiro escalão do governo.
Perfil de Geddel
Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) deixou o cargo de ministro da Secretaria de Governo em novembro de 2016. Ele foi acusado pelo ex-ministro da Cultura Marcelo Calero de tê-lo pressionado para liberar uma obra em Salvador. Geddel era um dos principais responsáveis pela articulação política do governo Temer com deputados e senadores. Ele ficou no cargo por seis meses.
O peemedebista também foi ministro da Integração Nacional do governo Lula, entre 2007 e 2010, depois de ter sido crítico ferrenho do primeiro mandato do petista e defensor do governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB). No ministério, encampou a transposição do Rio São Francisco, que prometeu efetivar em seu mandato.
Atuou como vice-presidente de Pessoa Jurídica na Caixa entre 2011 e 2013, cargo do qual chegou a pedir exoneração pelo Twitter à então presidente Dilma Rousseff, pela possibilidade de concorrer nas eleições seguintes. Quem o convidou para o cargo foi Michel Temer. Foi derrotado por Otto Alencar (PSD) na eleição ao Senado.
Formado em administração de empresas pela Universidade de Brasília, é natural de Salvador, onde foi assessor da Casa Civil da Prefeitura entre 1988 e 1989. Em 1990, filiou-se ao PMDB, partido pelo qual foi eleito cinco vezes deputado federal.
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